— Hum? — A confusão estava estampada na cara de Nelson.

— O treinador disse que, já que você não tem muito tempo até o final do seu contrato, ele quer que foque em uma única modalidade.

— Ah... — Nelson sentiu o entusiasmo diminuir. — Agora eu entendi...

Antes do acidente, Nelson treinava todas as modalidades sem se focar em um em especial. Graças a seus esforços, tinha todas no mesmo nível. Mas seu treinador não gostava disso.

Quem tenta todas jamais dominará uma, lembrou-se das palavras do treinador. Eu era bom o bastante pra conseguir ir pras Olimpíadas na maioria das modalidades, mas quem sabe não o bastante para ganhar uma medalha de ouro em qualquer uma...

— Ah, saber disso o desanimou um pouco? — perguntou Cris, mais curioso do que simpático.

Nelson encarou aquele rosto fofo e suspirou.

— Se fez, você não deveria ser um pouco mais sensível com seu nadador?

— Nah, não é a meu estilo — disse, sorrindo enquanto balançava a mão.

Nelson não pôde conter seu próprio sorriso.

— Sei... E eu gosto muito disso em você — disse, sem pensar.

Cris ficou vermelho e quieto. Quando Nelson notou o que dissera, ele caminhou até o pódio de salto, com o rosto vermelho como um tomate.

O nadador ficou de pé no bloco de cimento, respirando fundo, focando-se na água para ignorar o olhar vindo de seu assistente.

— Vamos lá! — gritou ele o mais alto que podia.

— Ok... Vai! — gritou Cris, pressionando a tela do celular no instante em que o nadador pulou na água.

Nelson sentiu o impacto familiar de todo seu peso contra a água. Ele sorriu por um segundo antes de mover as pernas e braços para impulsionar-se até o outro lado da piscina.

Naquele momento, ele não conseguia pensar em mais nada. Sua felicidade por finalmente voltar. Sua ansiedade pela possibilidade de não atingir sua forma antiga. Seu medo do clube não renovar seu contrato. O jeito estranho que Cris o fazia sentir volta e meia. Toda a dor e pensamentos ruins durante sua reabilitação. Tudo.

Agora, só havia ele e a água.

Quando estava prestes a alcançar o outro lado, Nelson fez um giro. Não devo dar tudo de mim, né? Ele conteve sua força um pouco quando empurrou a parede com os pés. No momento em que seu impulso sumia, ele nadou com os braços, deslocando a água e ganhando velocidade. Então atingiu o outro lado, tocando a parede quando parou.

Para sua surpresa, Cris estava lá, esperando por ele com um sorriso.

— Quer ver seu tempo? — perguntou o assistente quando o nadador ergueu a cabeça acima da água para respirar.

Nelson olhou para Cris e o celular. Por um segundo, a memória do dia quando foram ao parque aquático uma semana atrás, quando viu seu tempo naquela hora, voltou e ele sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Ele balançou a cabeça para tanto responder quanto esquecer daquilo.

— Depois — disse, saindo da água e ficando de pé sobre o bloco de novo.

— Bom — disse Cris com um sorriso gentil. — Preparar... vai!

Nelson empurrou as penas no instante em que escutou o grito. Dessa vez, ele foi até o outro lado e voltou para mais nove vezes. Apesar de respirar por todo o trajeto, estava sem ar.

O nadador e o assistenteWhere stories live. Discover now