Capítulo 6

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Estou tão fora de forma, pensou Nelson enquanto sentava no banco para desacelerar a respiração. Cada respirada que dava doía um pouco. Bom, isso era esperado. Mas pensar que seria tanto assim... Estive correndo um pouco desde que o médico me deu permissão, mas não recuperei nada depois todo esse tempo... uma distância curta dessas nunca me cansaria antes.

— Você está muito fora de forma! — exclamou Cris na cara dura enquanto sentava perto do nadador, olhando para Nelson com um sorriso de orelha a orelha. — Acho que nadadores realmente são como peixes fora d'água quando estão fora da piscina.

Nelson o encarou e soltou uma risada contra sua vontade. Ele passou a mão no rosto para esconder o sorriso.

— Que piada horrível. Foi tão ruim que você devia sentir vergonha e se esconder do público — disse, balançando a cabeça, mas um sorriso ainda se forçando em seus lábios.

— Mesmo assim, você não consegue parar de sorrir — disse Cris, cujo próprio sorriso aumentava.

— Foi tão ruim que ri da ruindade dela. Valeu — adicionou Nelson quando Cris passou uma garrafa d'água. Ele bebeu metade em um gole só. O nadador limpou a boca com a parte de trás da mão e mostrou a garrafa para Cris. — Você devia fazer coisas assim, sabe? Ajudar, apoiar e tudo mais pro cara que vai ser assistente, em vez de, sabe, ser brutalmente honesto em como estou fora de forma.

Cris colocou sua mão no queixo e cerrou os olhos, fingindo pensar profundamente.

— Tem razão. Eu devia ajudar mais — disse, após um tempo. Então, sua expressão séria mudou para uma zombeteira com um sorriso animado. — Mas é mais legal tirar uma com você!

— Bom saber que você vai se divertir às minhas custas de agora em diante — disse Nelson, tentando colocar um pouco de raiva falsa na voz. Mas quando viu o sorrisinho de Cris, sabia que falhara.

— Ah, vai. Eu prefiro ser sincero. Além do mais. — Sua expressão ficou séria, sem brincadeiras. — Você vai escutar coisa bem pior quando voltar pras piscinas, sabia? Sendo assim, não é melhor escutar de quem tem o seu melhor interesse no coração?

Nelson abriu a boca, desistiu e então suspirou. Ele bebeu o resto da água em silêncio.

— É verdade — disse depois de um tempo com um sorriso triste. — Estou muito enferrujado, embora estivesse me exercitando por um tempo. Não dá pra argumentar contra a verdade cruel. Especialmente dada por alguém que tem o meu melhor interesse no coração.

Cris logo reparou o tom zombeteiro.

— Mas eu tenho sim! Pode acreditar, nunca acordei tão cedo por outra pessoa.

— Ainda sou grato pela oferta de uma vida — disse Nelson, fazendo uma pequena reverência. Mas, quando ergueu os olhos, sorria de novo. — Só que ainda acho que você devia ser mais gentil. Posso ter essa cara, mas palavras machucam meu pobre coração.

— Tá mais pra você que quebra muitos corações — murmurou Cris. Então pegou a garrafa vazia da mão de Nelson e a substituiu por uma bebida esportiva. — Em vez de ser mais gentil, prefiro ajudar com coisas desse tipo.

— Acho que dá pra aceitar. — Nelson bebeu quase metade em um gole só.

— Então, atleta Nelson — falou Cris para seu punho fechado, fingindo ser um microfone —, como se sente quanto ao seu retorno? — Ele moveu a mão para mais perto da boca de Nelson.

Nelson olhou a mão e depois o rosto de Cris.

— Bom, se eu precisar ser franco... Me sinto uma merda no fundo do poço.

O nadador e o assistenteWhere stories live. Discover now