E não havia melhor lugar para comer a esta hora do que na Tia Ana. Portanto, voltamos para trás e dirigimo-nos ao café. Passamos primeiro em minha casa para eu poder ir buscar dinheiro, apesar de o Frederico ter insistido em pagar. O café estava aberto quando chegámos. A Tia Ana é uma madrugadora. Levanta-se a horas doidas para preparar tudo o que precisa para o dia de trabalho. Uma vez vim de uma festa às cinco da manhã, e lá estava ela a abrir o café. Nesse dia ela ofereceu-me o pequeno almoço... as cinco da manhã.
- Vejam quem são eles!- sorriu-nos mal entramos no café- É cedo hoje. Sentes-te bem Beatriz? É terça feira!
Para estar aqui às nove da manhã, não me parece que esteja bem da cabeça...
- Pois é, não tens aulas hoje?- perguntou antes que eu pudesse responder.
- Só depois da hora de almoço- virei-me para o balcão- Precisa de ajuda em alguma coisa? - disponibilizei.
- Não querida, mas obrigada. O que é que vocês vão querer?
- Eu quero uma tosta mista com manteiga dos dois lados e um sumo de laranja natural, se faz favor. Queres alguma coisa, Frederico?
- Não, obrigado. Já tomei o pequeno almoço.
- É para já!- como é que ela consegue estar tão bem disposta a uma terça feira, às nove da manhã? Preciso de saber qual é o segredo- Podem sentar-se. De preferência num sítio que não esteja ocupado.
Nenhuma mesa estava ocupada.
O Frederico riu-se e eu fiz o mesmo depois dele. Fomos sentarmos na mesa onde tínhamos estado da última vez. Gostava daquele cantinho do café. Sempre me sentei aqui quando queria estudar e não me apetecia estar em casa, e esta mesa era a ideal.
- Conta-me coisas sobre ti - pediu, de repente, apanhando-me desprevenida.
- Queres que diga o quê? Não sou uma pessoa muito interessante- encolhi os ombros e enconstei-me na cadeira. Tinha tanta vontade de dormir, apesar de saber que mesmo assim não ia conseguir voltar a adormecer.
- Tenho a certeza que és- a confiança dele na minha pessoa era maior que a minha própria confiança. E eu conheço-me desde que nasci, e ele apenas há uns dias. Quer dizer, às vezes tenho atitudes que me fazem questionar se era mesmo eu que estava em controlo do meu corpo e da minha mente na altura- Conta algo que gostasses, ou não te importasses, que eu soubesse.
- O meu nome completo é Beatriz Vieira Azevedo, tenho 21 anos, o dia do meu aniversário e 2 de junho e estou atualmente a estudar Artes. Adoro pintar e desenhar, adoro ouvir música, principalmente portuguesa, e dentro dessa, o meu artista favorito é o Diogo Piçarra... Adoro ver documentários sobre cobras e tubarões gigantes e de sobrevivência na selva, gosto de ver filmes e séries deitada na cama e enrolada em três mantas, por uma específica ordem: priemiro a amarela, depois a azul e por cima dessas duas, a da Minnie. Não sei dar nomes a cães - ele riu-se tanto que até a Tia Ana se começou a rir com o seu riso -, mas sei dar nomes a ursos de peluche. Tenho um que se chama Senhor Rabell, porque o rabo dele é estranho e achatado.- mais um riso capaz de fazer sorrir o mais chateado dos deuses- E, aparentemente, gosto de tostas mistas com manteiga dos dois lados.
- E dizes tu que não és interessante- ainda se estava a rir, enquanto olhava para mim. Os seus olhos castanhos brilhavam. Todo ele parecia brilhar naquele momento.
Permiti-me a mim mesma observá-lo de uma maneira mais demorada. O rapaz era bonito. E muito. Os seus olhos eram extremamente cativantes. Sempre gostei mais de olhos castanhos do que de cores claras. E os dele eram provavelmente os mais bonitos que já vi até hoje. O seu cabelo, também castanho, ameaçava tapar-lhe os olhos, devido ao seu tamanho. Mas o seu sorriso... Sem dúvida, a mais bonita parte do seu rosto. Era como um pedaço de céu que o abençoava e a todos os que tinham o prazer de o contemplar.
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Uma Cadeira e Dois Chocolates Quentes
Teen FictionFrederico e Beatriz encontram-se casualmente numa tarde fria de Inverno num bairro lisboeta escondido da maior parte da população. O que acontece a Frederico naquela tarde, fez Beatriz ir ao seu encontro e convidá-lo para um simples chocolate quente...