Capítulo 62

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Passei os últimos minutos hipnotizada pelo ritmo oscilante das ondas, pelas nuvens brancas e pesadas se fundindo à imensidão do mar no horizonte e pela névoa que começa timidamente a invadir a praia.

— É lindo, não é? — Nathaniel pergunta enquanto desce rápido a escada.

— Agora entendo porque você gosta de estar aqui — respondo.

Assim que se aproxima de mim, vejo uma pessoa completamente diferente.

Não o Comandante da Guarda Real ou o Príncipe.

Na verdade, ele até parece uma pessoa normal de camiseta e bermuda, sem o uniforme militar ou as roupas formais nas quais me habituei a vê-lo.

— Você tem que sentir isso — ele diz indo até a porta.

O movimento que faz para abri-la levanta um pouco a manga da camiseta, e uma tatuagem no braço esquerdo desponta, mas não consigo identificar o que é.

Parece que tinha razão, continuo me surpreendendo com ele.

Do lado de fora, a maresia úmida me envolve e, quando uma rajada de vento sopra, agradeço por estar com o cabelo preso em um rabo de cavalo alto.

Passamos por uma piscina com borda infinita e Nathaniel desce uma escada que termina em cima da areia.

Apesar de estar com vontade de continuar, paro.

— Você não vem? — ele pergunta.

Não quero parecer desesperada para saber o que ele tem para me mostrar, mas minha paciência já está chegando ao limite.

— Não — respondo, mesmo estando com vontade. Afinal, nunca pisei na areia da praia antes, e o cheiro do mar com essa ventania é realmente convidativo. — O que você queria comigo? — pergunto.

— Pode esperar. — Desvio o olhar dele e dou um suspiro impaciente. — Preciso andar um pouco, Emily. Dias difíceis.

Por mais que me irrite, esse comportamento do Nathaniel me faz realmente acreditar que tudo está bem, que o que quer que ele tenha para me mostrar não é urgente ou importante.

Ou pelo menos não é para ele.

— Parece que vai chover — digo, para tentar fazê-lo desistir.

A espuma branca cobre uma parte cada vez maior da praia enquanto as ondas varrem a areia.

— Você tem medo de chuva? — pergunta, com um ar de desafio.

— Sim, eu tenho. Nunca vi ninguém tomar banho de chuva por prazer — ele finge um bocejo de tédio. Tem horas que me dá vontade de bater no Nathaniel. — Sem chance, não vou — afirmo.

Então me lembro que já não tenho o vírus e que o tratamento para aumentar minha imunidade está funcionando.

Além disso, apesar do vento e das nuvens, a temperatura continua agradável.

Não vou congelar se pegar um pouco de chuva.

— Emily, se não descer agora, vou ai pegar você — ele fala sério, mas o sorriso divertido no final me faz tirar um lado da sandália e jogar na direção dele.

Tiro o outro lado e desço as escadas tentando ignorar a cara de vencedor que ele faz.

— Qual é o seu problema? — pergunto, sentindo-me confusa com as mudanças de humor dele. — Posso dar o contato do meu psicólogo para você.

— Um psicólogo provavelmente não conseguiria resolver os meus problemas — diz, desviando os olhos dos meus —, mas agradeço sua preocupação.

Andamos um pouco em silêncio.

A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Where stories live. Discover now