Capítulo 6

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A mochila parece ter uns dez quilos a mais neste momento, e minhas pernas pesam. Além disso, o nevoeiro não está denso como antes, o que não é de forma alguma bom, pois estamos ainda mais expostos agora.

E o medo é tanto que não consigo nem ao menos me importar com o frio.

— Desculpa, Em — Lucas diz, pegando a mochila dos meus ombros. Ele a pousa no chão, e toca o meu gorro, puxando-o um pouco mais para baixo. — Você não deveria estar passando por isso.

— Eu estou onde deveria estar — afirmo, mas minhas palavras não fazem a culpa se dissolver dos olhos dele.

Lucas pega a mochila, e andamos rápido e em silêncio. Quando estamos novamente ocultos pelas árvores, sinto um alívio com a pouca probabilidade de sermos surpreendidos pelos oficiais da Guarda Real.

Mas mesmo que todo esse risco que estamos correndo não seja agradável, não estou nem um pouco arrependida de ter vindo. Nem estou pronta para deixar esse momento terminar.

Preciso de um último beijo antes de voltarmos para o hospital.

Aperto a mão do Lucas, o que o faz parar e olhar para mim. A luz fraca da lanterna que está apontada para o chão, mas mesmo assim ele parece lindo, com todos os contornos do rosto dele se sobressaindo nas sombras.

Tão perfeito.

Levanto-me nas pontas dos pés e o beijo, fazendo-o soltar a mochila e colocar as mãos no meu rosto. Mas apesar de frias, o toque delas me aquece.

E daqui a uns meses sei que será sempre assim.

Não vamos precisar nos esconder.

Não vamos precisar nos separar.

E não há nada que eu queira mais do que isso.

Um barulho no meio das árvores faz as nossas bocas se distanciarem e nos encaramos antes de olharmos para os lados. Deve ter sido apenas neve acumulada caindo dos galhos das árvores.

— Vamos, Em! — ele sussurra, enquanto esfrega as mãos nos meus ombros para me aquecer, e sorrio com o gesto carinhoso. — Você está congelando.

Voltamos a andar, e não demora muito para Lucas apertar a minha mão fazendo-me parar de andar, exatamente igual a como eu fiz há pouco.

Mas há tensão no gesto dele.

Estava tão perdida na sensação que o beijo deixou na minha boca, que só agora reparo que há um carro parado ao lado do jipe.

Ouço passos atrás da gente e todo o meu corpo congela.

Não tenho coragem de me virar, mas Lucas o faz e me preparo para o pior.

— Anna — ele diz surpreso. — O que você está fazendo aqui?

Viro-me rápido agora e suspiro aliviada.

— Desculpem-me, não quis assustar vocês — ela diz, e apesar de a voz dela estar firme, o olhar denuncia seu desconforto com a situação. — Soube que há muitas patrulhas esta noite, por isso, vim ajudar.

Que ela gosta do Lucas não é novidade para mim.

Mas confesso que não sabia que gostava tanto ao ponto de colocar a própria segurança em risco por causa dele.

De repente, tudo o que sinto é ciúme.

Então me lembro da Resistência e de que o que viemos pegar pode comprometer tudo o que eles estão fazendo há anos.

E assim como o ciúme veio, ele vai embora.

— Obrigado, Anna — Lucas agradece. — Nós realmente demoramos hoje.

A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora