Capítulo 46

18.3K 2.6K 694
                                    

Observo Mia passar pela mesa onde estou sentada sem me reconhecer, e preciso chamar o nome dela para fazê-la voltar com uma expressão confusa.

— Emily? — pergunta, inclinando-se para me ver melhor.

Amanda me avisou que havia muitos repórteres na frente da Torre, por isso, escondi-me por baixo de um boné e óculos de sol enormes para poder sair do prédio. E claro, tive que usar a saída dos fundos.

— Preciso de outro chá de camomila — falo com a cabeça rodando.

Mia chama a atendente e se senta na cadeira à minha frente.

Preciso parar de fazer coisas idiotas, como beijar o Príncipe em público. A ansiedade e a insônia atacam, e isso desencadeia crises de enxaqueca fortíssimas.

— Você é a notícia dos últimos anos — ela diz animada. — Já está difícil lidar com a fama?

Ainda não são oito horas da manhã e pelos vistos todos já sabem do meu beijo épico.

Abaixo a aba do meu boné e me encolho ainda mais na cadeira. Eu sei, era isso que eu queria: me tornar mais popular na Matriz. Mas tenho que dar um passo de cada vez, ainda não estou preparada para as consequências.

E apesar de muita gente torcer por um romance entre o Nathaniel e eu, também deve haver muitas pessoas odiando a nossa aproximação.

E tenho que ter cuidado com isso.

— Não consigo enfrentar repórteres ou fotógrafos hoje — comento em tom de confissão. — Nem o Nathaniel.

— Você não quer ver o Nathaniel? — A voz dela é curiosa, mas o tom baixo o suficiente para ninguém das outras mesas ouvir. — Achava que ele seria a pessoa que você mais queria ver hoje. — Só balanço a cabeça negativamente, mas me arrependo na mesma hora. Agora, ela parece que vai explodir, como se meu cérebro tivesse diminuído e balançasse aqui dentro. — Você está bem? — Mia pergunta, colocando uma mão em cima da minha, com uma expressão preocupada no rosto.

Forço um sorriso.

— Sim. É só... complicado — digo, e a atendente se aproxima da nossa mesa.

Queria poder falar com alguém sobre tudo o que está acontecendo. Em alguns momentos, sinto que não vou aguentar a pressão, o medo, a ansiedade.

Se ao menos eu pudesse desabafar, ter um ombro para chorar, alguém para me dizer que vai ficar tudo bem, talvez tudo se tornasse mais suportável.

Mas já me sinto feliz por não precisar usar a máscara perto de Mia. Ela nunca insiste em saber o que está acontecendo ou parece estar me julgando, apesar de se mostrar sempre disponível para me ajudar no que eu preciso.

Mia faz os pedidos e, quando olho para a atendente, vejo por trás dela uma grande televisão mostrando o beijo no Festival.

Desvio o olhar, queria poder não me lembrar do Nathaniel por pelo menos cinco minutos. É cansativo demais tentar mantê-lo afastado da minha cabeça o tempo todo.

E tudo ainda está pior: para onde eu olho, ele está.

Ele e eu.

— Vou para a casa de campo passar o fim de semana. — Mia avisa, com uma expressão preocupada. — Você quer vir?

Tenho certeza que ela achava que iria me encontrar radiante hoje quando liguei para marcar esse encontro.

Mas eu só queria sair da Torre, ficar incontactável.

— Eu adoraria — começo —, se não for atrapalhar os seus planos.

— De forma alguma, Emily! Vou adorar passar o fim de semana com você.

A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora