Capítulo 17

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Quando acordo subitamente depois de um pesadelo, vomito ao lado da cama.

A dor na minha cabeça é tanta, que parece que me cérebro está se desfazendo. Meu corpo está queimando de febre, e sinto o suor na minha roupa e no meu cabelo enquanto tremo de frio.

Olho à volta tentando me situar.

Já estou no quarto, apenas uma luz fraca ilumina o ambiente.

Tento correr para o banheiro quando sinto que vou vomitar de novo, mas a única coisa que consigo é ir cambaleando e me apoiando nos móveis e na parede até chegar lá.

James e Meredith disseram que seria desconfortável.

Só não disseram o quanto.

Uma fraqueza domina todo o meu corpo, deixando-me sem forças para me manter em pé, por isso, sento-me na borda da banheira e coloco minha cabeça entre as mãos, sem conseguir segurar as lágrimas.

Ninguém deveria ser obrigado a passar por isso sozinho.

É assustador demais.

E a maior ironia é que parece que estou morrendo e não que estou sendo curada.

Apesar de estar concentrada no meu desespero, ouço movimento do lado de fora e uma enfermeira pede uma equipe maior.

A seguir, ela entra no banheiro, nem sequer me lembrei de fechar a porta.

— O que você está sentindo? — pergunta ligando a luz e fazendo-me cobrir os olhos com a mão involuntariamente.

Percebendo meu incômodo, a enfermeira apaga a luz e acende outra lâmpada indireta à volta do espelho que não me perturba tanto.

— Mal-estar geral. Me desculpe... — digo virando os olhos para o quarto e sentindo o rosto corar de vergonha.

— Não se preocupe, já estamos tratando disso — ela diz. — Vomitar é normal. Você tem dor de cabeça?

— Muita.

Quero descrever a dor, mas uma nova ânsia de vômito me mantém calada e concentrada para fazer o enjoo passar.

— Sente alguma outra dor?

— Sim, em todo o corpo — respondo. — Nunca me senti tão mal em toda a minha vida.

— Certo, Emily. Mas tirando a cefaleia, sente alguma dor muito específica? — Balanço a cabeça em negação. — Tudo dentro do esperado, então — ela diz, por fim, enquanto faz anotações no prontuário. A seguir, a enfermeira direciona o termômetro que tira do bolso no jaleco na minha testa. — Trinta e nove e meio — fala o que eu já imaginava. — Seu corpo está tentando se adaptar a uma nova condição. Ele vai tentar resistir no começo, mas depois vai aceitar. Agora, preciso que você tome um banho para diminuir um pouco sua temperatura e, assim que a Dra. Susana chegar, ela a examina novamente.

A enfermeira liga a torneira da banheira e me ajuda a levantar e a tirar a roupa. O enjoo não passa e tudo continua rodando à minha volta.

Sento-me embaixo do chuveiro, abraço as minhas pernas e a água mais fria do que eu queria começa a envolver meu corpo sensível, provocando pequenas pontadas de dor. Mas um banho quente não ajudaria a reduzir a febre.

Lágrimas silenciosas começam a rolar do meu rosto, e a voz da minha mãe ecoa na minha cabeça garantindo que tudo vai ficar bem.

Isso me acalma.

Pouco depois, a enfermeira diz que já posso sair da banheira. Levanto-me e sinto o rosto corar de vergonha. Antes, o mal-estar era tanto que nem ao menos me importei de ficar nua.

Aconchego-me no roupão que uma delas me ajuda a vestir e enxugo meu corpo molhado, enquanto sinto o frio do ar-condicionado do quarto invadir o banheiro quando a enfermeira abre a porta.

A cama está com novos lençóis, e a mesa de cabeceira e todo o resto estão limpos. Há alguns aparelhos perto da cama, e a médica, que conheci de manhã, já está me esperando.

— Isso era para ter acontecido algumas horas atrás — Doutora Susana comenta com um sorriso acolhedor. — Você é muito forte, Emily.

— Não me sinto forte — reclamo.

Ela me pede para deitar e diz que, se for necessário, vai passar alguma medicação depois de ver o resultado dos exames.

Os aparelhos são tão sofisticados quanto os da Sala da Cura, apesar de portáteis. Ela fura o meu dedo para retirar uma amostra de sangue e coloca o oxímetro no meu indicador esquerdo. Minha pressão é aferida e, após colocarem alguns elétrodos pelo meu corpo, verificam meu coração.

Pouco depois, os resultados são impressos.

A médica analisa os números e decide que tudo está dentro dos valores normais para o procedimento. Não passa medicação para a dor de cabeça alegando que são administrados apenas em último caso.

Eu acho que esse é um último caso.

Mas ao menos me dá um comprimido sublingual para diminuir o enjoo e evitar que eu vomite de novo para não desidratar.

— A febre está fazendo seus batimentos acelerarem, mas dentro do limite previsto. Vou deixar este aparelho monitorando seu coração e, caso haja alguma alteração significativa, ele emitirá um alarme e as enfermeiras voltam a me chamar. — Encaro os olhos azuis dela. — Tente dormir um pouco!

Fico mais uma vez sozinha.

E não tenho sono.

Portanto, acho que o resto da minha noite vai ser sentindo enjoo, a dor de cabeça que a médica não quis amenizar e ouvindo meus batimentos acelerados ecoarem no quarto.

Eu luto com o mundo, eu luto com você, eu luto comigo mesma
Eu luto com Deus, apenas me diga quantos fardos ainda restam
Eu luto com a dor e os furacões, hoje eu chorei
Estou tentando lutar contra as lágrimas, enchente nas entradas
A vida é um inferno
(Pray For Me | Kendrick Lamar)

Alguém querendo fazer companhia para a Emily não sofrer sozinha? Nossa ruivinha sofre tanto!

E nada do Reizinho chegar!

Até amanhã!



A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora