Capítulo XVII: Um Rumo para Cada Alma

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A locomotiva partiu originalmente de Krasnoyask e percorreu uma distância longa até chegar à pequena estação de trem, localizada no mundo esquecido e curto da região, onde outrora, conhecia-se de renome como a morada de Karev.

Durante o percurso a condução viu tudo o que uma viagem extensa pode oferecer: as paisagens da taiga siberiana; as abundantes águas fluviais; o fluxo contínuo de oficiais, soldados e civis que subiam e desciam de acordo com as intenções, ordens e missões a cumprir...

Tudo para chegar ali, naquele ponto, onde Gregor Nasekomoyev embarcaria rumo a Moscou para assumir seu posto no Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética.

Tal setor do governo, na época, ainda possuía similaridades com os congressos, mas não permaneceu assim por muito tempo, já que nos anos decorrentes a situação mudou - como quase tudo no extenso território soviético - e o Comitê Central perdeu força diante ao autoritarismo stalinista.

Para um vislumbre mais claro do que se tornaria o parlamento russo, basta lembrar que no futuro aplaudiria-se os discursos de Joseph Stalin, por quinze minutos inteiros, pois todos os ouvintes temeriam ser os primeiros a parar com a saudação e ofender a paranoia conspiratória do Secretário Geral...

Mas, por enquanto, tais fatos não importam e devemos voltar ao momento em que a locomotiva chegou a estação de trem.

Nasekomoyev já se encontrava sentado em um dos banquinhos de madeira quando o apito do trem a vapor gritou alto... o ruído agudo era idêntico ao que ouvia na antiga São Petersburgo de sua adolescência, idêntico ao som que lhe anunciava as horas durante os anos de liceu, pois, curiosamente, em sua sala de aula, o relógio sobre o quadro negro tinha o defeito de atrasar-se sozinho.

O oficial sorriu a medida que as lembranças avançaram em alguns anos. Ele recordou, então, da família deixada na atual Leningrado... percorreu mentalmente o rosto de cada um, como se analisasse uma fotografia através da lente de uma lupa... deixou por último a figura da garotinha de cabelos castanhos e rosto arredondado.

"Como será que está minha filha? Ah! Já está por comemorar o décimo aniversário... como o tempo passa!"

O oficial considerou formular uma nova tentativa de contato com Katherina Grigorievna, mas resolveu, após breve reflexão, aguardar ainda algum tempo.

"Certamente, quando chegar à adolescência a menina será menos suscetível aos discursos maternos."

Mais velha, Katherina seria capaz de avaliar por si os problemas do pai, então, Nasekomoyev escreveria uma carta. Contaria à filha sobre os ferimentos de guerra que roubaram-lhe a aparência jovem e os reflexos, tornando-o o que a ex-esposa costumava chamar de "aberração desengonçada".

— Camarada oficial... — chamou o soldado incumbido de fiscalizar o embarque — se quiser já pode se instalar na sua cabine... viajarão no primeiro vagão o senhor e os convidados que informou. O general que ocupava as acomodações desembarcou há duas paradas atrás...

Nasekomoyev levantou-se e o rapaz, jovem demais para vestir uma farda, se ofereceu prestativamente para carregar a bagagem do superior... Gregor nutriu logo de cara admiração pelo sujeito que, ao contrário de muitos, não o encarou com repulsa ou pena e sim com cortesia.

— Obrigado, camarada — agradeceu Gregor que aceitou o favor e seguiu o guia para dentro do compartimento — e então, o senhor recém embarcou?

— Ah, não... estou aqui desde que o trem partiu. O senhor não imagina que viagem tumultuada foi no início! — contou o soldado com o tom de voz que anuncia a bisbilhotice — Houve um incidente quando saímos da região de Krasnoyask.

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