The Stolen Years

XII

— Aonde estamos indo? Estamos andando há horas. — eu disse para Lauren.

— Chegamos. — eu olhei confusa para ela e ela me apontou um outdoor. Estava uma mulher loira de lingerie com a legenda "An-rou, curvas charmosas". — O que acha deste anúncio?

— An-rou? O nome... Parece mirar em donas de casa. — eu disse. — Mas no negócio de lingeries, o mercado de donas de casa é pequeno. Porque a maioria das donas de casa têm péssimas vidas sexuais. Elas compram calcinhas práticas.

— Se dependesse de você, como reformularia?

— Se fosse eu... Eu começaria mudando o nome da marca. Vamos chamar de... Apps Bra!

— Apps Bra? — Lauren arqueou a sobrancelha.

— Isso. — eu disse — Como os apps de celular... Eles sabem de tudo. Atende a necessidade de todo mundo, certo?

— Passou.

— O que quer dizer? — eu sorri sem entender.

— Quer voltar a trabalhar? — Lauren me perguntou.

— Eu? Esqueça.

— Philip perguntou de você hoje. Ele quer que você volte a trabalhar.

— Não posso. — me virei.

— É mais qualificada que a maioria das pessoas. — ela falou enquanto andávamos. — Voltar a trabalhar pode te ajudar a recuperar a memória.

— Você acha?

Ela assentiu.

— Pense bem.

***

— Lembre-se de que todos no trabalho se referem à você como Sra. Cabello. — Lauren me levava ao trabalho de carro.

— Até você?

— Claro que não. Fazíamos contato através de nossas secretárias. — Ela falou. — Dois anos atrás você fez um rebranding (estratégia de marketing, mudar logotipo, design) de uma relojoaria local colaborando com uma marca europeia chamada "Blancpain". Fez um relógio de 15 mil passar a valer 150 mil da noite para o dia.

— Dez vezes mais? — eu estava impressionada. — Eu era boa assim?

Lauren assentiu.

— A empresa a promoveu para diretora de criação. As ações deles subiram muitas vezes.

— E quanto a você? Qual é o seu título?

— Sou diretora de vendas. — Ela falou dando um sorriso.

— Quem está acima? Eu ou você?

— Eu, claro.

Começamos a sorrir.

Logo havíamos chegado no enorme prédio.

— Este é o caminho para o seu escritório. — Lauren estacionou, retirando um papel do bolso. Era um mapa improvisado para mim. Ela parecia se importar comigo ainda. — Assim que sair do elevador passe pela porta de vidro. Seu escritório é o terceiro à esquerda.

E então eu fui me perdendo uma vez.

Não cumprimente ninguém no caminho porque você nunca cumprimentava.

Assim que encontrei a porta de vidro, dois homens me olharam com espanto e voltaram para trás no mesmo instante. Eu abri a porta e todos ficarem eretos e me olharam tentando parecerem eficientes. Mas, o olhar deles... Era medo.

— Sra. Cabello!

— Bom dia, Sra. Cabello!

Eu assentia desnorteada.

Eu encontrei meu escritório. Meu Deus! Era enorme! E havia tantos prêmios em cima de uma mesa! Tão lindos! Eram mesmo meus? Havia um quadro com eu recebendo uma das premiações. E oh! Uma foto minha em uma capa de revista! Meu Deus! Era tanto para processar! Eu havia conseguido tudo isso?

— Mila!

— Philip! — eu o abracei.

— Bem-vinda ao lar. — ele disse — Você voltou!

Eu logo notei algo diferente nele.

— Emagreceu?

— Claro. Tem sido uma loucura aqui sem você para me ajudar. Estou feliz de ver que você está bem! Estou muito feliz por você!

— Obrigada.

— Pessoalmente, eu gostaria que você descansasse mais. — Ele disse. — Mas como você sabe, o Grupo Hualong rejeitou todas as nossas propostas. No passado, você sempre conseguia conquista-los. Estamos contando com você de novo.

— Vou fazer o possível. — Eu não fazia a menor ideia do que fazer.

— Porque a modéstia? Não é seu estilo. Sabe... Quando seus colegas souberam que você ia voltar hoje, começaram a fazer brainstorming (tempestade de ideias, uma técnica de dinâmica de grupo) logo cedo. — Ele disse. — Se quiser, pode se encontrar com eles na sala de reunião.

— Agora?

***

Coloquei o fone. Lauren estava na escuta em sua sala quando escutei sua voz em meu ouvido.

— Está preparada? Vamos começar...

A sala estava cheia e uma palestrante falava.

— Hoje eu vou...

— A palestrante perto da lousa branca é Ashley. As pálpebras dela são irresistíveis para os estrangeiros. Você sempre a leva para reuniões sociais porque ela é boa de copo. Ela bebe mais que um time de beisebol. — Lauren falava. — Está vendo a alergia no pescoço dela? É por causa do excesso de bebida. — Eu quis rir, mas me segurei. — À próxima à direita é a Taylor. Ela é mais velha e tem peitos grandes. Você não gosta dela porque ela é obcecada por namoros. Olha, olha! Ela está falando com o namorado de novo. — e era verdade, ela digitava no celular com um sorriso — Mas a Taylor tem uma grande vantagem. Ela é vidente. Ela sempre prevê as tendências de moda da próxima estação. Com 90% de precisão. O homem ao lado de Taylor é o Harry, mestre em chinês. — Harry era um tanto afeminado. — Ele tem alguns livros publicados. É um bom escritor, mas sua orientação sexual não está muito clara. Ele gosta de calças apertadas e coloridas e o nome da sua caneta é bonitinho... "Margarida". — Ela falava num tom engraçado — O homem à sua esquerda limpando o suor, é o Louis. A empresa toda sabe que ele tem medo de você. Ele não consegue trabalhar enquanto você está a vista. Por isso que, sempre que temos uma apresentação, ele pede um atestado. Mas como ele é um excelente ilustrador, você o deixa em paz. — Coitado, ele realmente estava suando. — Sabe por que você o contratou? Porque ele desenhou um círculo perfeito a mão quando você o entrevistou. Esse truque ainda a impressiona. Ahn... Ele até mesmo concorreu ao Livro Guiness dos Recordes.

Aos poucos eu fui me acostumando com o trabalho. Em poucos dias, eu já me lembrava de como fazia tudo. Embora fosse muito exaustivo às vezes.

Eu estava me preparando para ir embora quando escutei risadas na sala de Lauren.

— Esta pousada é linda. Vamos ficar lá. — Lucy dizia abraçada a Lauren.

Logo elas começaram a se beijar e a brincar.

Eu não aguentava ver aquilo.

Então eu corri.

Corri para fora do prédio. Para longe daquilo tudo.