- Bom, Camila. - Suspirou e se debruçou sobre a mesa. - Quando você chegou aqui, tinha quatorze anos. Antes o tratamento era simples, terapia para cuidar de alguns pontos dentro de sua mente e medicamentos para adiantar a evolução do seu lado humano. Isso foi o que o seu médico em Miami recomendou.

- Entendi. - Respirei fundo e engoli seco. - E quando eu cheguei aqui? Qual foi meu diagnóstico?

- Era bom. - Sorriu simples. - Você estava progredindo, tinha chances de terminar o tratamento aos dezesseis.

- E agora? 

- Bom, Camila. Você abandonou tudo. - Ele deu de ombros com pesar e eu me senti idiota. - Você sabotou a si mesma. Por que decidiu voltar?

- Eu... - Suspirei e fitei minhas mãos, antes de voltar a olhar para ele. - Eu encontrei alguém e eu não quero machuca-la. Estou tendo problemas com isso, eu tento controlá-la o tempo inteiro, a forço fazer o que não quer e... Eu não quero ser assim com ela.

- Certo. - Dr. Armstrong recostou-se em sua cadeira. - Me fale o que tem feito nesses últimos anos.

E então passei um bom tempo falando sobre meus passatempos e a forma quase doentia que me dediquei aos estudos. Na Lycan, nós fazíamos nossa própria grade curricular no fim de cada semestre. Como eu não trabalhava, passei dois anos fazendo aulas da minha turma durante o dia e a noite, fazia as aulas dos alunos mais avançados. Conclusão, o meu curso de quatro anos seria terminado em três.

Falei também sobre a forma que eu lidava com ômegas e em como eu era completamente aversa à relações a longo prazo. Sempre mantive em minha cabeça que quanto menos pessoas fossem importantes para mim, menos eu sofreria com possíveis perdas.

Ainda assim, eu tinha um medo gigantesco da ausência dessas pessoas em minha vida. Dinah havia sofrido um acidente de carro ano passado, deixando-me quase louca. Matts era soldado e toda vez em que embarcava em suas missões, eu ficava completamente pilhada, esperando notícias. 

Já o Machine, aquele cara se metia com todo tipo de gente, já levou várias surras e foi ameaçado de morte algumas vezes, definitivamente, conhecer pessoas pode trazer sofrimento. Eu já tinha eles, não queria mais, por isso, nunca permiti que mais alguém se aproximasse de mim.

E eu sabia que com ômegas eu sofreria ainda mais. Porque eu estaria apaixonada, cultivando uma ligação com outra pessoa que seria muito além da amizade. Eu já sofri por ter que sair de Miami sem ao menos me despedir de ninguém. Não disse adeus para Lauren e por algum motivo, isso me corroeu ainda mais por dentro.

Então decidi que o mais correto a se fazer era me proteger. Proteger meu coração porque eu já estava farta de perdas, estava farta de ter que superar coisas que uma criança não deveria superar. Eu era nova demais para passar por tudo aquilo.

E quando resolvi dar uma chance para uma ômega, tudo acabou de forma trágica. Rebecca foi a última com quem tentei um relacionamento, depois dela, apenas tive sexo casual. Era mais fácil assim.

- Então essas foram a sua forma de lidar cada vez menos com a outra espécie. - Ele concluiu. - Você gosta de ter o controle sempre em suas mãos.

Era exatamente por isso que algemava os ômegas que transavam comigo. Não os permitia me marcar, apertar e nem se aproximararem demais. Relacionar-se com alguém apenas por sexo, era fácil e seguro, algo que eu podia controlar.

Passei muitos anos sem poder controlar nada que acontecia ao meu redor. Então decidi que iria tentar controlar o máximo de situações que eu pudesse.

- Essa ômega... - Ele sorriu. - É por isso que você se irrita tanto com ela. Você se sente frustrada porque ela tira você do controle e por conta disso, você se desespera e a força. Tem que aprender a parar de tentar colocar coleira nos outros, Camila.

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