Desde que cheguei, tive tempo para clarear a minha cabeça. Tenho dado passeios, lido bastante e trabalhado algumas horas por dia. O projeto que tinha com Niall acabou por ser transferido para outra pessoa, visto que eu não estava presencialmente e dificultava bastante o trabalho. Tenho feito apenas pequenos trabalhos independentes. 

Alfie tem estado bastante diferente nestas últimas semanas. Tem passado a maior parte do tempo fora de casa, penso que tem tido bastante trabalho e ainda aceita horas extra, para conseguir ter um bom pé-de-meia. Quando estamos os dois em casa, ele trata-me como se fosse a sua namorada e isso tem sido muito desconfortável. Sei que somos próximos mas começo a sentir-me estranha e a desejar que não o fôssemos, pelo menos neste nível. Está na hora de voltar para casa, a minha verdadeira casa, com Harry.

Levantei-me da cadeira onde estava sentada e peguei no saco de pano que estava pousado na cadeira ao lado da minha, colocando-o no ombro. Coloquei a minha mão no ombro de Nicolo e agradeci-lhe por aquelas palavras, prometendo que hoje era o dia em que ia resolver tudo. Comecei a caminhar pela rua, no entanto, segui uma trajetória diferente da habitual. Não fui para casa. Decidi visitar o centro histórico da cidade, ser uma turista dentro desta cidade que começa a ganhar o meu coração. 

Passaram-se algumas horas e começava a sentir o cansaço nos meus pés. Encontrei um banco à sombra da copa de uma árvore e sentei-me, retirando o meu telemóvel e começando, de forma automática, a digitar o número de Harry. Levei o telemóvel até ao meu ouvido, ouvindo um bip e outro, e outro.

'Nina, por favor, diz-me que és tu. Não desligues' Ouvi imediatamente a voz de Harry e o meu coração congelou completamente. Senti as minhas mãos começarem a tremer ao ouvir a sua voz e coloquei a mão que estava livre sobre o meu ventre, que estava coberto com um vestido de primavera amarelo. 'Fala comigo' disse em seguida, com a voz claramente cansada, como se tivesse a andar muito depressa. Ouvi um ruído de fundo, parecendo-me que ele estava na rua.

'Tenho muitas saudades tuas. Vem ter comigo a Verona, por favor.' Disse em tom baixo, sabendo que as hormonas se estavam a apoderar de mim. Comecei a sentir as lágrimas descerem pela minha face e rapidamente as limpei, levantando a minha cabeça e olhando para a igreja que estava à minha frente.

'Estou há duas semanas em Verona' Harry disse, ofegante. Um arrepio percorreu todo o meu corpo e imediatamente levantei-me do banco onde estava, num sobressalto. 'Diz-me onde estás, quero ver-te, por favor.'  consegui perceber o desespero pela sua voz.

'Estou na praça das ervas' disse rápido, começando a sentir um nervosismo ainda maior e uma vontade enorme de o abraçar. Olhei ao meu redor e dirigi-me até ao centro da praça, para conseguir ter uma melhor perceção da mesma e das pessoas que ali se encontravam. 

Ouvi o som do  beep, sinal de que a chamada tinha sido desligada. Ajeitei o saco de pano no meu ombro e olhei confusa para o telemóvel, não percebendo o porquê de ele ter desligado. Levantei a minha cabeça e olhei em redor, procurando desesperadamente por uma cara conhecida no meio daquela confusão. A descer a rua, que ia de encontro à praça, consegui ver um homem a correr bastante rápido, que parou assim que chegou à praça, devido aos carros que estavam a passar na estrada. 

Era Harry. Um sorriso enorme formou-se na minha cara, assim que percebi que era ele. Ele atravessou a estrada e parou, sem se conseguir mover na minha direção. Devíamos estar a cerca de 10 metros de distância. Olhei para a sua face e vi que ele estava bloqueado, a olhar para a minha. Os seus cabelos estavam bastante grandes, muito maiores do que aquilo que eu me lembrava, e reparei que tinha a barba por fazer, revelando uma sombra mais escura, daquilo que eu conseguia ver à distância que me encontrava. Vestia umas calças de ganga com uma T-Shirt branca e uma camisa de manga comprida, que usava desabotoada. 

Olhei de novo para a sua face. Comecei a aproximar-me dele, ao me aperceber que ele estava completamente hipnotizado. Caminhei num passo lento, não sabia o que lhe dizer assim que estivéssemos cara a cara. Não aguentei, estava a ser demasiado doloroso andar tão devagar. Comecei a correr, um pouco rápido, e reparei que ele fez o mesmo, vindo na minha direção. Assim que estávamos a dois passos um do outro, ambos parámos repentinamente. Consegui vê-lo de perto e olhar para a sua face. Percebi que ele estava a chorar e, depois de o ver olhar para as minhas bochechas, entendi que eu também o estava a fazer. O olhar dele desceu até à minha cintura, onde ele colocou as suas mãos,e vi que as suas lágrimas começaram a correr mais forte.

'Eu, eu...' ele disse olhando para mim e chegou-se mais perto, deixando de existir aqueles dois passos entre nós. Pegou em mim e abraçou-me, simplesmente isso. 

Senti as suas mãos à minha volta e apertei-o. Apertei-o com imensa força, para que ele não conseguisse sair dali e ir embora. Apertei-o com o desejo que isto seja a realidade e que eu não esteja apenas a sonhar. 

'Promete que nunca mais me abandonas da maneira que o fizeste' a sua voz murmurou-me, ao ouvido. Levei as minhas mãos até aos seus caracóis e apertei-o, sentindo pela primeira vez em muito tempo o seu cheiro característico. Isto estava mesmo a acontecer, não estava a sonhar. As suas mãos pousaram o meu corpo no chão e ele desencaixou a sua cabeça do meu ombro, de modo a conseguir olhar para mim. A sua face observava-me cuidadosamente e eu fiquei sem reação, sabendo que a única coisa que conseguia fazer naquele momento era beijá-lo.

Levei ambas as minhas mãos à sua cara e aproximei os nossos lábios. Assim que o fiz, os seus lábios completaram o caminho e foram de encontro aos meus. Senti medo, ternura e tristeza neste beijo, sabendo que ambos estávamos a fazer o que era certo. As suas mãos pousaram sobre as minhas costas e ele puxou-me mais para si.

'Espero que não me odeies.' Disse murmurando, assim que os nossos lábios se separaram do beijo. Os seus olhos pousaram nos meus e ele acariciou as minhas costas, puxando-me de novo para um abraço apertado.

'Mesmo que tivesse todas as razões do mundo para o fazer, não ia conseguir' Ele respondeu-me, murmurando de novo no meu ouvido. 

Senti as lágrimas começarem a descer de novo, com uma intensidade que não estava a conseguir controlar. Harry separou-se de mim calmamente, para que me conseguisse olhar na face e levou as mãos à mesma, limpando as lágrimas que corriam. As minhas mãos pousaram involuntariamente na minha barriga e reparei no trajeto que os seus olhos fizeram, acompanhando o meu movimento e subindo rapidamente o olhar para mim. Na sua cara, para além das lágrimas, consegui ver a sua boca a abrir-se em espanto e ele levou as suas mãos à minha barriga, pousando-as tão delicadamente como se eu fosse partir a qualquer momento.

'Nós estávamos cheios de saudades tuas.' Disse, olhando Harry e sabendo que estava prestes a ser inundada de perguntas. 


Bem, passado alguns anos, senti que devia dar continuidade a esta história. 

Espero que tenham gostado e até ao próximo capítulo \o

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⏰ Last updated: Apr 14, 2022 ⏰

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Something Else || h.s. #Wattys2016Where stories live. Discover now