.TRINTA.

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[GATILHO: TRANSTORNOS ALIMENTARES]

Vilém esperou a maquiadora dar uma retocada no brilho do seu rosto e então se posicionou no meio de todos aqueles flamingos

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Vilém esperou a maquiadora dar uma retocada no brilho do seu rosto e então se posicionou no meio de todos aqueles flamingos. Não eram reais, caiam amontoados uns sob os outros como flamingos de plástico deveriam fazer, mas ainda assim exalavam aquela semelhança incômoda com criaturas reais. Seja lá onde a Plameňák encontrava suas réplicas de objetos orgânicos, elas eram bem feitas.

Sob o sol que brilhava acima de toda a equipe reunida ali, as penas rosadas das aves cintilavam de um jeito suave que, em contraste com o gramado verdejante abaixo delas e o sangue falso jogado em cima de suas penas, pareciam criaturas imaculadas e indefesas que foram rompidas pelos atos mundanos e sujos dos humanos.

Condenadas á deformidade cruel.

A maquiadora se afastou e Vilém se virou na direção de um rapaz que se aproximou com dois flamingos nas mãos. Eles eram moles e até meio pesados. Vilém os pegou, cada um com uma mão, e começou a posar com os cadáveres falsos dos flamingos.

O ensaio era para uma coleção de macacões inspirados nos anos 80 e em flamingos. Cores vibrantes e estampas diferentes montavam o retalho que Vilém se tornara. Preferia os ensaios ao ar livre do que os que aconteciam nos estúdios.

Ele trocou de roupa mais três vezes e a equipe se realocou em outros lugares - próximos a arbustos altos ou árvores de galhos tortuosos. Seus cabelos negros contrastavam de forma agressiva com o rosa, o verde, o azul e o laranja. Os flamingos davam o toque final, faziam Vilém parecer alguém que, embora trajado em panos nada ameaçadores e no meio de um parque, podia acabar com qualquer criatura que entrasse em seu caminho, como aparentava ter feito com os pobres flamingos, amontoados a seus pés com as penas riscadas de sangue.

E então o ensaio se deu por encerrado.

Ela tirou o último algodão embebido em limonada da jarra e o depositou sobre o montinho em cima do prato

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Ela tirou o último algodão embebido em limonada da jarra e o depositou sobre o montinho em cima do prato. Carregando um copo de água gelada em uma mão e o prato na outra, Gia então se afastou e sentou-se à mesa, meio nervosa.

Lentamente pegou um dos algodões encharcados e com os dedos o dividiu em dois, logo em seguida levando um a boca. A sensação era horrível, mas ela engoliu. Deu um gole em sua água e logo depois comeu o outro pedaço de algodão.

Obsessão CarnívoraWhere stories live. Discover now