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Alguns anos antes

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Alguns anos antes

Me sentei diante de Morgana, em sua sala, na sede da Plameňák. Encarei a fenda onde seus olhos escuros estavam.

- Você já deve imaginar o por quê do ataque de Andrea ontem à noite enquanto você era o prato principal na Ceia, certo? - ela perguntou, como sempre seus olhos correndo por toda minha face, como se me analisasse.

- Na verdade não - respondi. - O pessoal me disse algumas coisas, mas não acredito que seja apenas inveja... - fiz uma pausa. - Ninguém ataca outra pessoa daquele jeito só por inveja.

Um resquício de sorriso surgiu no rosto enrugado de Morgana.

- Você é modesta, Valentina - ela falou, erguendo uma das sobrancelhas. - Acredito que saiba que atualmente é uma das modelos mais cobiçadas e devo dizer também mais belas da Plameňák.

Eu sabia disso. Mas não falei nada, continuei apenas encarando seus olhos.

- Você praticamente rouba o trabalho das outras garotas quando as marcas precisam de modelos para desfiles, ensaios, o que for - Morgana umedeceu os lábios finos. - Andrea, por exemplo, já não consegue algo significativo há um certo tempo, o que é um perigo dada as rigorosas regras de trabalho da Plameňák.

- Ainda não vejo motivo para ter sido atacada - rebato. - Ela queria enfiar o punho todo na minha garganta! Andrea enlouqueceu com tudo...

- Tudo...?

- Tudo - falei. Morgana sabia muito bem do que eu estava falando. - Ela já sucumbiu a pressão, aos rituais, as regras... Andrea é um perigo para si mesma e para a agência, Morgana.

Nos encaramos em silêncio. Sentia a tensão pairando a nossa volta. Todos da Plameňák sempre agiam com reverência a ela, como se Morgana fosse capaz de mastigá-los e jogar fora, mas eu sabia que tudo não passava de uma casca que ela criara para intimidar e lidar com as pessoas, mas no fundo ela era tão frágil quanto uma bolha de sabão.

Ela se pôs de pé.

- Você está sugerindo que a gente condene Andrea? - perguntou, mas quem estava insinuando era ela mesma.

- Não - respondi. - Mas não me surpreenderia se fosse preciso caso você a tire da Plameňák. É ouvir um "adeus" e ela pode ameaçar todo mundo dizendo que vai expor a gente. E essa é a regra número um, lembra? Jamais expor a Plameňák. Jamais. A condenação para esse tipo de atitude é a "gourmetização", como você gosta de chamar quando transforma alguém em comida. Você faria isso?

- Por você? - ela perguntou, rápido de mais, seus olhos brilhando de um jeito esquisito. Franzi o cenho. Vi ela engolir em seco e a expressão relaxar, voltando ao normal. - Leis são leis, Valentina. Se for preciso gourmetizá-la, assim será.

Novamente ficamos em silêncio. Respirei fundo, colocando uma mecha do meu cabelo escuro atrás da orelha.

- Bom, alguma coisa precisa ser feita - falei. - Não é a primeira vez que sou atacada e não gosto de imaginar o que podem fazer comigo se você ou a Rút não mostrarem quem realmente manda aqui.

- Não foi a primeira vez? - Morgana perguntou, franzindo o cenho.

- Mês passado, no desfile para a Módda Aksamit - falei, relembrando o episódio. - Foram só palavras, mas era claro que o Kléber estava me ameaçando.

Morgana esboçou uma expressão demasiada confusa e chocada. Sempre muito exagerada em emoções quando se tratava de mim.

- É isso - disse por fim. - Acho que já está tudo muito bem esclarecido. Espero não passar por isso outra vez.

- Garantirei que não aconteça de novo - ela falou, e algo sombrio atravessou seu olhar.

Meio hesitante, me levantei e deixei a sala, deixando-a de pé, me encarando fortemente.

Obsessão CarnívoraWhere stories live. Discover now