A velha fazenda.

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Eram dez da manhã, Evelin despertou, não fazia muito que havia dormido, mas o suficiente para sonhar com Menahem, era tudo muito recente e muito louco de se pensar, como poderia alguém fazer algo tão cruel, matar daquela forma seu namorado, um rapaz que tinha um histórico completamente pacífico, jamais arrumara confusão com ninguém.

-Bom dia menina! Dormiu bem?

-Bom dia Dona Zuzu! Não consegui dormir muito, nem deu pra descansar, a cabeça não para de pensar no que aconteceu.

-Eu entendo menina, sei bem como está se sentindo, mas, tenta não ficar pensando, eu sei que é dificil, mas tenta. Por que não aproveita e vai uns dias para a fazenda do seu avô?

-Taí Dona Zuzu, me deu uma boa ideia, acho que vou pra lá mesmo ficar uns dias, vai me fazer bem o campo.

Evelin e Dona Zuzu arrumaram suas malas rapidamente, a menina não queria perder mais nenhum minuto, queria ir pra fazenda que sempre lhe fizera bem. A fazendo pertenceu a seu avô, o velho Genaro¹, a Fazenda Belo Monte era de sua propriedade, embora ele passasse mais tempo na madeireira, gostava de trabalhar os cortes de madeira e servir a todos de Belo Monte. O velho Gê como era conhecido, era amigo de todos, e todos o queriam muito bem.

Evelin lembrava de quando era criança ir bastante a fazenda, brincar com os animais, se divertir com seu avô, até que aquela tragédia acontecera, o velho Gê desapareceu alguns dias e depois disso seu corpo fora encontrado junto ao de mais três criminosos que estavam causando terror na cidade de Belo Monte, além de na mesma semana terem morrido empregados de fazendas vizinhas e também os gemeos Gregório e Samuel. Era muito abacaxi pro investigador Tatá descascar. Tudo o que Evelin se lembra é de que o caso de seu avô nunca teve uma resolução que seja aceitável.

A garota entrou no carro e partiram para a viagem, de tão cansada que estava, sem sequer perceber pegou no sono.

-Menina? Acorda menina! Chegamos!

-Oi Seu Raimundo, chegamos já?

-Já menina, dormiu tão pesado que nem viu o caminho, né mesmo?

-Verdade Seu Raimundo, dormi mesmo, pesado, estava precisando. Me ajuda com as malas?

-Claro menina, vamos, deixa que eu carrego.

Esse cheirinho de café está me deixando doida, vem da cozinha da Dona Cilá com certeza. Vem Seu Raimundo, vamos entrando, bora pra cozinha, quero esse café já.

-Olá Dona Cilá, tudo bem?

-Olá menina Evelin, como você está moça, que bom te ver. Seja bem vinda filha.

-O cheirinho do seu café está uma tentação, cheguei na hora certa.

-Então venha filha, vou te servir, além do mais, adivinha só? Fiz aquele bolo que você tanto gosta, vem vou cortar pra você.

-Vem Seu Raimundo, senta aqui com a gente, vem tomar café.

-O menina, nem precisa chamar duas vezes rs! Obrigado por ter me convidado, seu pai me deu ordens pra ficar aqui com a senhorita e servir em tudo o que a senhorita precisar.

-Muito obrigado Seu Raimundo, o senhor é um fofo!

Depois de algumas horas ali, conversando, botando todas as prosas em dia, Evelin com seu corpo já reclamando o cansaço, decidiu se recolher e ir dormir. Pediu licença e retirou-se, chegando no quarto, não pensou duas vezes, se jogou na cama sem nem mesmo se trocar, deitou e aquele cheirinho gostoso de campo que entrava pela janela, mato fresco, fez com que ela se sentisse em casa e repousasse, o sono logo a venceu, e Evelin dormiu.

***


-Bom dia gente!

-Bom dia menina ( Responderam ambos)

-Vem, senta aqui, tomar café da manhã.

-Dormiu bem menina? Perguntou Seu Raimundo.

-Dormi sim, mas tive um sonho tão esquisito. Sonhei com a capelinha aqui da fazenda, dentro dela eu via algumas pessoas, estranhas, que não conheço, mas entre elas estava meu namorado, Menahem parecia distante, estranho.

-O filha, talvez isso não seja um mal sinal, se o viu dentro da igreja, pode ser que isso signifique que ele está bem e em paz na presença de Deus.

Dona Cilá virou-se pra ela, e disse que era besteira ela ficar com aquilo na cabeça, que era só um sonho, e sugeriu que ela fosse dar um passeio pela fazenda.
Evelin concordou e então vestiu suas roupas e a bota que tanto gostava e saiu para caminhar.
Não pensou duas vezes em qual seria o primeiro lugar a ir, claro que seria o estábulo, amava os cavalos.
Ao chegar avistou um rapaz alto, parecia bastante jovem, na verdade, devia ter aproximadamente a mesma idade que ela, será que era?...

-Pipoquinha?

-E, e, e… Evelin? É você mesmo? Nossa, como você cresceu, está uma moça linda, quase não reconheci, como você está?

-Você também cresceu e mudou bastante, tá um rapaz bonito, eu to bem na medida do possível, vim passar uns dias na fazenda, estava precisando.

-Hum! Terminou com o namorado?

-Quase isso, outra hora te conto com calma o que aconteceu. Me arruma um cavalo? Quero dar uma volta na fazenda.

-Claro, vou pegar um pra você, me espere aqui alguns instantes.

Pipoquinha voltou com o cavalo para Evelin, um bem manso, ela rapidamente mostrando os seus dotes de amazona, montou o cavalo e saiu pela fazenda afora.

Andou, andou, andou… E claro, foi parar justamente no local do seu sonho, Evelin agora estava a porta da capelinha na fazenda.

FIcou ali parada alguns instantes pensando se deveria ou não entrar no prédio que já estava abandonado há tanto tempo, era uma construção tão sinistra quanto uma capela abandonada pode sugerir ser.

O cavalo demonstrava uma certa inquietude, diferente de seu estado calmo de antes. Ainda assim, Evelin insistia em querer dar uma olhada no prédio, tirar a cisma do sonho.

Evelin apinhou do cavalo e se dirigiu até a porta, fez força e não precisou de muita na verdade para mover as folhas de portas já apodrecidas da velha capelinha.

Um ar carregado, cheio de humidade e um odor putrido chegou a seu nariz, certamente alguns animais, ratos talvez, tivessem morrido ali dentro. Aquele sopro de ar fizera Evelin estancar, um calafrio lhe correu a espinha, talvez fosse realmente mais prudente abandonar a ideia de estar ali e ir embora, já havia acontecido coisas estranhas demais para uma única semana, era hora de ter um pouco de paz.

Evelin virou-se para sair, mas teve a sensação de estar sendo observada. Mais que depressa ela se pôs a correr, montou o cavalo e disparou para longe dali, já com um pouco de distância, puxou o arrelho e olhou para trás, não havia ninguém na capelinha, não que ela pudesse ver ao menos.

[...]

***

Olá amiguinhos, tudo bem? Neste capítulo você pode acompanhar um pouco da história de Evelin, e descobrimos que ela é neta de velho Gê. Os mistérios que rondam a morte de Menahem, agora se misturam com o mistério da morte do velho Gê que também nunca foi esclarecido corretamente.  Será que foi mesmo uma boa idéia Evelin ir passar uns dias na fazenda?

Nota do Rodapé: ¹ Velho Gê, assim como o investigador Tatá, os gêmeos Samuel e Gregório e outros personagens citados, fazem parte da obra literária de André Vianco o Senhor da Chuva e são citados como referência neste livro por ser uma história inspirada neste best-seller.

Quando a ultima luz se apagar.Where stories live. Discover now