Guiadas por esse mesmo instinto, as duas resolveram sair do carro. Selena liberou seus sentidos e priorizou o olfato, os cheiros vieram instantaneamente, mas devido a fome, seu cérebro deu destaque ao cheiro de humanos. 

Um em específico chamou a atenção delas, um bem próximo. Inspiravam o aroma, e foi como se tivessem ligado um modo automático, seguiram em direção barranco que delimitava a linha. Ali que usaram sua transformação em corvo pela primeira vez, sem mal perceberem o que estavam fazendo. O bater das asas chamou a atenção dos garotos, que ao olharem em direção ao carro não viram ninguém. Nesse momento a preocupação tomou conta de cada um.

Sobrevoando a vizinhança, localizaram o dono do cheiro, ou os donos: um casal de humanos, que escorados no muro se beijavam. Pousaram próximos a eles que, ao ouvirem o barulho estranho, viraram-se.

— Vampiras! — Exclamou. Nesse momento, as duas recuperaram seu lado racional, e então elas se entreolham confusas. Pela maneira que ele falou, ele já sabia da existência de vampiros a muito tempo. — Achei que já estivessem livrado a cidade desses... monstros. — A última palavra de sua frase transmitiu repulsa, e somada a um olhar ameaçador, fizeram as duas ficarem apreensivas.

Sua mão foi levada a cintura, onde levantou a barra de sua camisa, mostrando sua arma. Selena olhou aquilo, imóvel, assim como Letícia.

Não sabiam porque, mas a mesma raiva que sentiu antes, ao ver aqueles jovens vampiros sendo mortos retornou, ainda mais forte. Emoções, emoções demais, mágoas passadas, cicatrizes não curadas.

Ele continuou daquela forma, estranhou o fato das duas estarem paradas em encarando-o chegava a ser assustador.

Queria que elas atacassem primeiro, mas seu desejo não foi satisfeito. Não sabia ao certo o que fazer, afinal, se atirasse primeiro, elas simplesmente desviariam, então precisava aguardar, só não contou que, o temor de sua namorada por vampiros era imenso.

O medo dela foi sentido pelas duas, e se tornou pânico assim que o brilho nos olhos delas tomaram suas escleras, e um sorriso surgiu em seus lábios, mostrando as presas afiadas.

A humana correu, e isso forçou o garoto a virar o rosto para chamá-la. Foi distração suficiente para que ambas avançassem, e o pegassem desprevenido, jogando-o no chão. Selena tomou a arma e a arma observou, já Leticia o prensava no chão, mantendo-o imobilizado. 

Com raiva, ela apertou o revólver com força, fazendo com que o mesmo se incendiasse sua mão. A dor da queimadura a fez soltar a arma, que caiu ao chão ainda em chamas, e ela balançou sua mão freneticamente, até as chamas se apagarem.

Observou sua mão queimada e viu a lenta cicatrização que se dava nela, Leticia a olhou preocupada, mas notou que nenhuma expressão de dor tomava o rosto de Selena.

Era fascinante, doía, mas de forma suportável. Se fosse humana, estaria no momento chorando de dor. Agora estava explicado porque vampiros feridos eram tão resistentes.

Ira, sentimento que tomava ambas naquele momento. Haviam caçado e encontrado sua presa, e não pretendiam deixá-lo vivo.

Leticia foi a primeira a mordê-lo, sem ter a mínima cautela em o fazer. Mordeu com força, o que o levou e gemer alto, quase gritando. Selena observou aquela cena sem fazer nada, sem sentir nada além do desprezo.

Era o mesmo sentimento que tinha quando matava um vampiro quando era humana, durante as missões, ela sempre imaginava quantas pessoas aquele indivíduo havia matado, e isso a fazia não ter nenhuma pena. Agora, percebeu que as coisas se inverteram, imaginava agora, quantos vampiros ele havia matado, principalmente sem motivo. No entanto, ela preferiu afastar esses pensamentos e saciar sua sede, pegou o braço do rapaz e mordeu seu pulso.

Anjos do AnoitecerWhere stories live. Discover now