-Pronto, ele sumiu.- voltei a encará-lo.

-Ele?

-Sim, eu tenho certeza de que era um homem na moto. Deu pra ver pela viseira do capacete.- franzi o cenho, tentando me lembrar de alguém que poderia ter algo contra mim além de todos os meus conhecidos de Hong Kong, mas eles não viriam atrás de mim na Coreia. Ou viriam?

Alguns minutos depois Hobi estacionava o carro na garagem de casa, combinando comigo que não contaríamos para ninguém o que houve para não os preocupar. Carregamos as sacolas para dentro e as deixamos em cima da mesa, e quando eu dava as costas para a cozinha pensando em ir para meu quarto, ouvi barulhos de passos descendo a escada. Olhei para cima e encontrei Jin segurando um livro de receitas.

-Nem pense em fugir, senhorita Wang. Vai me ajudar a fazer o bolo, porque não sou seu cozinheiro particular.- Sorriu debochado e me pegou pelo braço, me arrastando até a cozinha outra vez. Guardamos as compras e separamos todos os ingredientes, os deixando em cima da mesa.

-O que estão fazendo?- Perguntou Jungkook, entrando na cozinha. Abriu a geladeira e pegou uma garrafa de agua, colocando um pouco em um dos copos.

-Bolo.- respondi simples, abrindo o pacote de farinha.

-Vou assistir.- Se sentou em uma das cadeiras, olhando para eu e Jin.

-Poderia, pelo menos, guardar a garrafa de água na geladeira outra vez.- Disse Jin, quebrando alguns ovos.

-Mas eu ainda vou tomar mais.- Olhei de Jin para Jungkook, sentindo a discussão que estava prestes a começar.

-Se você deixar o litro pra fora, eu vou bater ele na sua cabeça pra você nunca mais esquecer.

-Se você fizer isso, eu vou colocar sua cabeça embaixo da torneira pra você se lembrar que existe mais agua no mundo.

-A água tem que estar gelada, Jungkook.

-As geleiras derretendo no polo norte são geladas, Jin hyung, vá tomar agua lá. Agora é um padrão a agua ser gelada? Nossa sociedade capitalista inventou isso para vender mais geladeiras. Vou dizer isso para o Yoongi hyung, ele pode usar para escrever músicas.- Revirei os olhos e peguei o litro de água que estava em minha frente, o guardando de volta na geladeira.

-Vocês dois são insuportáveis. Tomara que as geleiras do polo norte te congelem pra sempre, Jungkook, e que a geladeira do Jin queime quando ele quiser soju gelado.- Os dois abriram as bocas para responder algo rude, mas a campainha tocou antes que tivessem a oportunidade. Olhei para a porta, esperando que fosse Yoongi entrando, mas ela não se abriu.

-Estão esperando alguém?- Perguntei, e os dois negaram. Caminhei devagar até a porta, parando com a mão na maçaneta. Abri a mesma, esperando que fosse o dono do predio ou algum vizinho reclamando da nossa bagunça, mas não havia ninguém. No chão, um envelope verde água foi posto em cima do carpete. Peguei o mesmo e corri porta a fora, olhando para os lados, mas a unica coisa que vi na rua foi uma moto preta acelerando pelo asfalto, virando a primeira esquina. Voltei para dentro com o envelope em mãos, fechando a porta.

-Olha, alguém recebeu um cartão de aniversário- Jungkook disse animado quando eu cheguei ate a cozinha. Abri o envelope, encontrando um cartão rosa com vários ursinhos e glitter espalhado pelo mesmo. Ao abrir, encontrei uma mensagem escrita à letra cursiva em caneta azul brilhante.

- “Parábens pelo seu dia. Há 21 anos atrás, não sabia que você seria tão prodigiosa assim. Coma bem e se cuide, nos vemos nos próximos dias.”- Li em voz alta, ficando confusa com a mensagem. Fechei o cartão e olhei em todo o papel, procurando algum sinal de identificação, mas não encontrei nada. As unicas pessoas que me conheciam desde que eu nasci eram meu pai, que nem está mais vivo… E minha mãe.

Peguei o envelope e olhei seu verso, encontrando dois selos. Um deles era um clássico da China, e ao lado dele, um carimbo. Senti um arrepio percorrer minha espinha ao reconhecer o desenho e a inscrição abaixo.

王辦公室

第六大道54號

香港,中國

Com meu mandarim não tão enferrujado, consegui ler o que estava escrito:

Escritórios Wang,

Sexta avenida, número 54

Hong Kong, China

Claro que ela seria dramática ao ponto de colocar o selo da empresa de fachada que ela construiu e o selo desnecessário da China, já que era domingo e os correios não entregam nesse dia. Subi as escadas até o quarto de Hobi, escancarando a porta.

-Hobi, de que cor era a moto da qual estávamos fugindo hoje?- Perguntei.

-Acho que era preta. Mas por quê?- Não respondi e fechei a porta, encostando na parede oposta. A pessoa na moto com certeza trabalha para Wang Youra, a maior ladra da China e, de bonus, a minha mãe, que deixou claro que “nos veremos nos próximos dias”.

Minha mãe finalmente havia me encontrado, e aquilo não era um bom sinal.

Binary Code |Kim Namjoon|Donde viven las historias. Descúbrelo ahora