Six

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Entrei correndo pelo saguão da empresa, passando meu cartão pela máquina exatamente às 23:29, sendo que meu turno começava às 23:30. Respirei fundo e me encostei na parede, tentando me acalmar após ter corrido como uma louca pelas ruas de Seul, a fim de não perder meu horário. Eu havia dormido bem mais do que 30 minutos, estava tão exausta que não reagi ao despertador tocando ao meu lado e acordei às 22:30 com Tae e Yoongi derrubando um armário inteiro de panelas no andar debaixo. Yoongi raramente ia nos visitar por estar sempre ocupado no estúdio musical em que trabalhava, mas sempre que podia ele ia até lá e nos importunava. Apesar de ser muito convencido, ele foi uma das melhores coisas que Hoseok atraiu para aquela casa além das risadas escandalosas do mesmo.

Interrompi meus devaneios ao ver que o elevador já havia aberto em meu andar. Deixei minha mochila azul com ovelhinhas em cima de minha mesa e olhei em volta, estranhando o fato de o departamento estar vazio e o único barulho que ocupava o lugar era o do Windows do meu computador sendo ligado. Fui até a cozinha, afim de um copo de café, levando um pequeno susto ao encontrar um ser humano ali. Ele vestia uma calça jeans clara e dobrada nas pontas, um blusão listrado e tênis brancos, além de os cabelos estarem bagunçados. Ele se concentrava em pegar todo o café possível da máquina.

-Olá, sr. Kim- disse em uma voz baixa. Eu não havia o visto desde o último incidente, e uma parte de mim se sentiu feliz por vê-lo ali e ter liberdade para conversar com ele sem que pensassem que somos um casal. Outra parte de mim se sentiu preocupada por ele ainda estar ali àquele horário. Quando ouviu minha voz, Namjoon desequilibrou a caneca na máquina e a deixou cair no chão, a quebrando em vários pedaços.

-Aah… olá Lin- sorriu envergonhado, se abaixando para pegar os cacos da caneca. Fui até ele para ajudá-lo, mas logo no primeiro caco vi um filete de sangue saindo de uma das mãos de Namjoon.

-Ya, eu te assustei tanto assim? Não era a intenção- disse tentando concertar a situação. A questão era que Namjoon havia se machucado por minha culpa.

-Achei que ninguém viria aqui hoje. Seu turno já começou?- assenti com a cabeça.- não irei te atrapalhar.- Peguei em sua mão machucada, analisando o que ele havia acabado de fazer.- Não se preocupe, não dói- Me levantei e ele se levantou também. O puxei até a pia e lavei sua mão com cuidado, tendo uma melhor visão do machucado. Era pequeno, mas mesmo assim precisava de cuidados.

-Acho que vamos cuidar disso primeiro.

Namjoon POV

Eu precisava de um tempo sozinho naquele inferno de empresa para tentar trabalhar sem ser atrapalhado, então achava que a madrugada era a melhor opção. Aparentemente, era a única opção de Lin. Eu a encarava enquanto ela cuidava do pequeno corte em minha mão, eu havia pedido para que ela não se preocupasse mas ela não me ouviu. O que me assustou não foi o fato de ter alguém ali aquela hora, mas sim esse alguém ser Lin e ela se parecer um pouco com um zumbi com todas aquelas olheiras e cara de morte. Não podia negar que havia pensado naquela pequena chinesa durante os últimos dias, e várias vezes me peguei ansiando por encontrá-la pelos corredores da empresa. De qualquer jeito, apenas de saber que ela estava no mesmo cômodo que eu me desconcertava, e agora ela estava a centímetros de mim, e seus toques leves em minha pele me causavam arrepios vez ou outra.

-Isso pode arder um pouco- disse antes de pingar algumas gotas do remédio que ela havia encontrado dentro da caixa de primeiros socorros que ela achou em um dos armários. Ela estava totalmente concentrada em algo tão pequeno, e não deixou de ser fofa em momento algum. Alguns minutos depois, minha mão tinha um band-aid com pequenos ursinhos- coisa que surgiu da mochila dela- e mesmo assim ela me olhava preocupada.

-Yaa, estou bem agora, viu só? Esses ursinhos vão cuidar do meu ferimento de guerra.- disse balançando a mão, a fazendo rir. O som que saiu de sua garganta foi tão contagiante que tive que rir junto. Em vez de dizer algo passei a encara-la, o que só se tornou constrangedor depois de alguns segundos em que percebi que ela também me encarava.  

-ah… eu vou estar em minha sala.- Disse e caminhei para fora da cozinha, mas para isso, tinha que passar ao seu lado. Parei outra vez e me virei para ela.- e não precisa me chamar de sr. Kim, me sinto um pouco idoso- ela riu e assentiu com a cabeça.

-Ok, Namjoon- sorri para ela e saí da cozinha, ainda com um pequeno sorriso no rosto. Meu nome parecia mais legal soando em sua voz.

Fui para minha sala e comecei a organizar alguns arquivos, era estranho saber que apenas eu e Lin ocupávamos aquele andar inteiro, mas tentei não pensar muito nisso e focar em meu trabalho. Algum tempo depois de eu finalmente ter me concentrado, ouvi Lin praguejar tão alto que mesmo sua mesa estando a muitos metros de distância da minha, além de ser separa por paredes, pude ouvir perfeitamente sua voz. Me levantei de minha mesa e caminhei até onde a garota estava, e assim que cheguei até ela, vi que seus dedos trabalhavam freneticamente no teclado em sua frente e ela parecia totalmente focada no computador. Encarei a pequena, que tinha seus lábios entreabertos e sua testa franzida, e encarava aquela sequência de códigos que rolavam pela tela. Eu sabia apenas alguns deles, e Lin os decifrava com uma velocidade incrível. Apenas alguns minutos depois, seus olhos se voltaram do computador para mim, se assustando com minha presença.

-Ah… desculpe se atrapalhei quando falei sozinha. Acho que está tudo bem outra vez.- Puxei uma cadeira e me sentei ao seu lado, podendo ver com mais clareza a bagunça em sua mesa. Haviam alguns livros espalhados pela superfície, uma lâmpada de urso acesa em cima das páginas repletas de números e letras, e algumas canetas em um canto. Tudo isso em volta do notebook aberto, agora com algumas abas desconhecidas por mim.

-O que houve?- Ela olhou do computador para mim, demorando para responder.- Outro ataque, suponho.- ela assentiu com a cabeça.

-Eram tão frequentes assim antes de eu chegar?- Ela apoiou sua cabeça em uma das mãos, continuando a me encarar. Ela parecia cansada, e um instinto estranho me fez pensar como seria abraça-la naquele momento.

-Se tornaram frequentes depois que fechamos um negócio importante. Não esperavam que nós tivéssemos alguém tão bom quanto você na nossa equipe.- ela sorriu fraco, brincando com uma das canetas.

-Tem noção de quem pode estar fazendo isso?- Balancei a cabeça em negação.

-Temos algumas suspeitas. Esse negócio a princípio não era nosso, conseguimos pegá-lo de uma empresa na China. Imaginamos que isso possa vir de lá.- Lin levantou seus olhos, me encarando ao ouvir o nome de seu país.

-Espero que essa não seja a razão de eu estar aqui agora.- Disse a menor em um tom que me pareceu decepcionado.

-Não, você está aqui porque mereceu o emprego. Claro que você será de grande ajuda nesse caso. Conhece alguma empresa de lá com uma equipe de hackers tão forte assim?- Lin se remexeu desconfortável na cadeira, não respondendo minha pergunta de imediato. Seus olhos rolaram dos livros para o chão, e só depois pararam em mim. Não a conhecia bem, mas podia dizer que algo estava errado.

-ah… Não, não conheço alguma. Acho que tenho que continuar a estudar, se me der licença-  Disse em um tom de voz baixo e se virou para seus livros outra vez como se dispensasse minha presença, então me levantei e voltei para minha sala. Olhei para trás uma última vez antes de tomar o rumo de minha sala, e quando encontrei os olhos de Lin, eles me encaravam com uma intensidade que eu não sabia como descrever. Ela parecia perdida em seus próprios pensamentos e não notou quando eu a encarei de volta.

Algo estava errado, e eu precisava descobrir.

Binary Code |Kim Namjoon|Where stories live. Discover now