Binary Code |Kim Namjoon|

Three

-Deixa eu ver se entendi: você ia dar em cima do seu chefe?- Disse Jimin, me olhando com uma expressão de dúvida. Revirei os olhos e apertei a xícara de café em minhas mãos.

-Pela quinta vez, sim. Podemos parar de falar sobre isso? Estamos há quase uma hora discutindo sobre o assunto, me faz querer voltar pra minha cama e dormir.- Os garotos riram baixo, me fazendo suspirar. Era o dia seguinte à festa da empresa, e eles não me deixavam em paz pela gafe que cometi com meu próprio chefe. Era humilhante lembrar que eu insultei um superior.

-Bom dia, flores do dia!- Jin chegou na cozinha com um pequeno pacote em mãos.- pensa rápido- jogou o pacote em minha direção, mas Jungkook estendeu o braço e o pegou antes.

-É meu agora. Não me olha assim, iria bater exatamente no meio da sua cara se eu não tivesse segurado. Por nada.- revirei os olhos e mordi minha torrada. O garoto abriu o pacote, que continha um donut de chocolate para cada.

-Seokjin, você é um amor.- o mandei um beijo no ar, fazendo ele sorrir.

-Ya, vocês tem sorte de eu estar de bom humor mesmo com meu vizinho bêbado tendo vomitado no lindo tapete em frente a minha porta, e Mina ainda pisou em cima sem querer.- torci o nariz, vendo os outros garotos fazendo o mesmo.

-Mina não olha por onde pisa?- disse Hoseok com a boca cheia de cereal. Hobi não gostava de Mina por, na sua opinião, ela ser “piranha demais” (palavras do próprio Hoseok) para ser namorada de Jin. Ela morou conosco por algum tempo, até que se formou antes de todos nós por ser mais velha e foi morar em um apartamento no centro, mas não sem antes conhecer Jin e se dizer apaixonada por ele. Claro, era fácil se apaixonar por Seokjin e seus ombros largos, mas ela não era o tipo dele.

-Você já teve problemas com seu vizinho antes? Não lembro de ter falado sobre ele- disse Tae, mordendo seu donut. Jin negou, assoprando em seu chá recém posto em sua xícara.

-Ate ontem ele não havia me incomodado. Sabe, esses executivos são muito fechados em si mesmos, mas parece que ontem ele bebeu um pouco demais.- Olhei para Jin por cima da borda de minha caneca.

-Você disse executivo? Cuidado, Wang Lin está entre nós, provavelmente se arrepiou só de ouvir a palavra.- deixei a xícara na mesa e belisquei o braço de Jimin, que estava ao meu lado.

-Ya, ele não faz o tipo dela. É alto, pele um pouco morena, lábios enormes, e o cabelo dele é platinado.- Engasguei com a comida assim que ouvi aquelas palavras de Jin. Não era possível o CEO da minha nova empresa ser vizinho dele, ou era?

-Onde ele trabalha?- perguntei após me recuperar. Jin me olhou entretido assim como os outros garotos.

-Nunca perguntei, e também não ouvi falar. Mas ele tem uma boa situação financeira e usa uns ternos de dar inveja… acho que já vi ele com um emblema da Y.D.- Sim, aquele era o CEO da festa. Um homem que fique melhor do que ele num terno? Impossível.

-Acho que não precisa falar muito do seu vizinho, Jin, eles já o conhecem.- Jin franziu o cenho.

-Como tem tanta certeza?- Olhei de canto do olho para os outros garotos em volta da mesa.

-Ele é o CEO que eu encontrei casualmente ontem na festa da Y.D.- Jimin, Taehyung, Jungkook e Hoseok soltaram um coro de risadas escandalosas ao mesmo tempo.

-Parece que o Jin vai ter uma nova vizinha em breve.- Bufei e deixei meu café na mesa, me levantando e subindo as escadas. Céus, eles conseguiam ser mais irritantes que o normal quando se tratava de relacionamentos. Após subir alguns lances de escadas, as risadas escandalosas já não eram mais audíveis, então tentei voltar a dormir.

Namjoon POV

Talvez eu tenha bebido um pouco demais ontem, só talvez. Não me lembro de muita coisa depois que saí da festa da Y.D e fui para um bar com alguns conhecidos, mas sei que meu vizinho não gostou muito do meu feito, já que encontrei um bilhete colado do lado de fora da minha casa escrito “você me deve um tapete novo e igual àquele em que você vomitou ontem”. Achei que estivesse brincando, mas quando olhei para a sua porta o tapete realmente não estava mais lá. Pouco a pouco, algumas lembranças toscas invadiram minha cabeça e eu apenas suspirei, voltando para meu sofá.

Ah, a garota hacker… dela eu me lembro bem. Um pouco afrontosa para alguém daquele tamanho, e mesmo que a responsabilidade carregada por ela fosse o dobro do que cabia dentro dela, sabia que ela aguentaria. Parei para pensar em como ela era fofa mesmo com toda aquela antipatia e óbvia vontade de ter ido embora daquela festa assim que entrou lá, talvez seu sotaque chinês fosse seu charme. Talvez não, tenho certeza de que era isso. Os cabelos pretos e ondulados também, e o jeito que ela semi-cerrava os olhos para enxergar ao longe… droga, Namjoon!

Meus pensamentos foram dispersados quando ouvi uma voz manhosa vindo do meu quarto. Arregalei os olhos, tentando lembrar se havia trazido alguém comigo ontem, mas não precisei forçar muito a memória quando vi Jia, uma “amiga”, saindo de dentro do meu quarto.

-Bom dia- sorriu sem mostrar os dentes e veio até mim, me selando.- A noite de ontem foi maravilhosa.- sorri para ela.

-Foi sim, amor- ela sorriu satisfeita, mas a verdade é que eu não lembrava nem como ela havia entrado ali. A vi indo em direção à cozinha e voltar alguns minutos depois com uma caneca com algum líquido quente.

-Desculpe, Jia, mas eu tenho que ir à empresa, acabaram de me ligar- disse me levantando do sofá antes que ela fizesse mais perguntas.

-Mas Namjoon… é sábado- parei no meio do caminho e me virei de frente para ela tentando encontrar uma desculpa.

-Sabe, eu tenho bastante coisa pra fazer que já deveria ter feito. Mais tarde te ligo, ok?- ela assentiu com a cabeça e eu sorri fraco. Entrei em meu quarto e peguei a primeira blusa de moletom que encontrei. Achei as chaves e minha carteira, as coloquei no bolso e corri para fora de casa. Antes de sair, pedi à Jia que deixasse a chave na portaria.

Fui cavalheiro? Nem um pouco. A questão é que eu não fazia noção do que havia acontecido entre a hora que sai da festa e acordei em casa, e não sabia o que dizer para Jia naquele momento além de “adeus”.

Algum tempo depois eu empurrava a porta do prédio da Y.D, sendo cumprimentado por Yang, a recepcionista. Fiz uma breve reverência e andei até o elevador, entrando no mesmo e apertando o botão do meu andar.

-gostei do pijama, Namjoon- disse um de meus superiores, que também estavam dentro do elevador, antes de sumir pelo corredor. Bufei olhando meu moletom azul marinho, só agora percebendo a estampa do urso Ryan bem no centro da peça.

-Não é um pijama…- murmurei e sai do elevador, andando em direção à minha sala, mas fui parado no meio do caminho pelo burburinho de vozes vindo de uma das seções. Não contendo minha curiosidade, fui até o vidro que demarcava o limite da seção de economia, percebendo o que estava acontecendo ali.

Todos os computadores estavam desprogramados, com vários números aparecendo e sumindo na tela a todo instante. Olhando para um dos computadores próximos de onde eu estava, pude ver os números. Aquilo era código binário?

Um dos funcionários saiu de dentro da sala, parecendo estressado o suficiente para quebrar aquela divisória de vidro. Olhou para mim e ficou algum tempo parado antes de gritar furioso.

-Onde está a sua estagiária? Estamos tendo um ataque, e você está aí de pijamas me olhando com cara de tacho.- franzi o cenho, pensando em responder que eu não havia saído de casa preparado para trabalhar naquela manhã, mas ele apenas piorou sua cara feia. Dei meia volta e fui até meu escritório, procurando o número de Wang Lin nos contatos da empresa. Quando encontrei disquei seu número no celular e, quando eu já estava desistindo de falar com ela, uma voz suave e sonolenta atendeu o aparelho.

-Pelo amor de Deus, quem está me ligando às 9 da manhã em um sábado?- Sorri mesmo sabendo que ela não veria.

-Bom dia, Wang Lin. Aqui é seu chefe, Kim Namjoon, e você tem 5 minutos pra chegar na Y.D. Tem alguém invadindo a nossa rede.- desliguei a chamada antes que ela pudesse gritar de frustração ou me dizer algo inconveniente, deixei o celular em cima da mesa e comecei a me empenhar no meu próprio trabalho.