Capítulo 10

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                                                                           CICATRIZ

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CICATRIZ

Entro fazendo o sinal, não demora muito e avisto uma pessoa desagradável acenando para mim. Caminho até a mesa a contragosto, então percebo que ela está acompanhada de um cara que deve ter um pouco mais que minha idade. Tinha um físico de um modelo, bronzeado, cabelos castanhos e olhos também.

- Oi - cumprimento, ela apenas levanta e aperta minhas bochechas como se fosse uma criança de dois anos. Isso me irrita, e ela sabe bem disso. - Para - afasto suas mãos em resposta. Ela me abraça, o que a cada vez me faz hesitar.

- Saudades sua - ela me encara por um momento, vejo uma faísca de sinceridade que logo desaparece. - Meu acompanhante é Renato - eu aperto sua mão.

- Carol.

- Senta e relaxa - respiro fundo e sento de frente para eles.

- O que quer? Estou ocupada.

- Nossa, tanto tempo sem ver sua mãe e não tem um minuto para ela?

- Não, para de enrolar e vai logo ao ponto.

- Só queria que conhecesse o Renato.

- Você sabe que não acredito em você? Por que será?

- O que ele vai pensar ouvindo você falar assim? Uma megera sem coração? Sorrio.

- Ah, entendi agora. Em vez de dar o golpe do baú, você está sustentando gigolôs?

- Não sou gigolô, estou apaixonado por sua mãe. - ela sorri como se estivesse comovida, o que essa cena não me convence.

- Nossa, Andréia, seu nível baixou. Está iludindo adolescentes? Ah, já sei, percebeu que está ficando velha e está se deixando explorar com medo que ninguém mais te queira - o cara parece pasmo, posso estar sendo cruel, mas sei que se eu não for, ela será. - Você sabe que isso não vai adiante. Por que não acaba logo com isso antes que ele se machuque, ou você é muito idiota para perceber isso? - Ela não parece se abalar nem um pouco, o que já esperava. O único que se irritou foi Renato, que saiu irritado atropelando tudo. Ponto pra mim.

- Qual o seu problema? - ela levanta fingindo estar ofendida. - Não te fiz nada e você faz isso? Por que ainda estou surpresa? Você sempre faz, sempre afasta as pessoas. Desde que nasceu, você é um estorvo, não é à toa que tem vinte anos e é virgem. Nunca teve um namorado porque ninguém quer ficar perto de você - ela suspira dramaticamente, é nesse momento que paraliso. Ela praticamente grita tudo na minha cara, e todos olham para nós. - Você não pode acreditar que há algo de bom nas pessoas? - ela levanta bruscamente.

- Não fode! Vindo de você que só ferrou comigo a vida toda e agora quer que eu te aceite como se nada tivesse acontecido? - cruzo os braços.

- Você me afasta, não entende?

- Não, eu não preciso te afastar, isso você consegue sozinha.

- EU TE ODEIO, sempre odiei desde que nasceu, nunca te quis - despeja enquanto fala bem perto do meu rosto e sai me deixando humilhada no café, digerindo tudo.

Aquelas palavras não eram novidades, mas elas ainda causavam a destruição de sempre. "TE ODEIO" ecoa na minha cabeça, e algum funcionário me tira do transe.

- Você está bem? - Um rapaz moreno de avental me olha com pena, o olhar de costume que tanto odeio. Balanço a cabeça afirmativamente, sem forças para falar. - Desculpe, mas terá que se retirar - ele fala, oferecendo o braço para que o acompanhe.

- Ah! Tudo bem - ele continua a me oferecer o braço - Estou bem.

Finalmente meu corpo se move em direção à porta, onde Thiago está lá parado como se estivesse tomado um choque. Passo por ele e avisto seu carro, caminho até ele sem demora, e ele me acompanha em silêncio até o carro. Ele apenas senta em silêncio e dá a partida.

- Você ouviu muito? Quer dizer... Você... Sabe o que ela disse a mim?

- O suficiente - fala baixo, como se não quisesse que escutasse. Ele me encara e sorri - Não esquenta, melhor entrar. Deve estar cansada - ele abre a porta para mim, e saio rápido. Mas quando chego em frente à porta, meu corpo estanca.

Por que ela tinha que arruinar tudo? Será que vai arruinar essa casa que chamo de lar?

- Tudo bem? Está sentindo algo? - ele fala como se estivesse tendo um ataque cardíaco, que a essa altura seria capaz.

- Estou bem - ele me puxa para um abraço inesperado, fazendo meus olhos encherem, anunciando que irão transbordar. Antes que isso aconteça, me solto do abraço.

- Preciso entrar - minha voz sai falha, e entro apressada.

Corro para o banheiro, não quero ir para o quarto e correr o risco de Erica estar lá e me ver chorando. Entro no banheiro e desabo no chão, choro sem pudor. Meus soluços saem enquanto abraço meus joelhos e escondo minha cabeça.

Uma pequena parte de mim esperava que essa cicatriz não doesse mais, mas ainda dói mais do que esperava. Eu não queria suportar isso de novo, não de novo. Então sinto um clique. Eu sei como posso fazer essa dor passar.

Levanto e vou até a farmácia do banheiro e procuro algo cortante. Encontro algo parecido com uma gilete. Então, sem demora, pressiono o objeto cortante na minha pele do braço, e só sinto o ardor familiar e bem-vindo.

- O que acha que está fazendo? - olho para Daniel, que agora segura minha mão, me impedindo de continuar. Seu olhar de espanto e interrogação me encaram.

Gotas escorrem pelo seu rosto porque seu cabelo está molhado. Ele me olha com tristeza, preocupação, mas principalmente decepção.

- Pedi para não fazer mais isso, o que aconteceu? Foi aquele babaca, não foi? Eu o avisei, aquele idiota - ele caminha em direção à porta, mas o paro.

- Não foi ele, fui eu. Não suportei ouvir o que minha mãe me disse. Foi demais - solto a gilete no chão e tento limpar as lágrimas.

- Vem, vamos sair daqui - ele segura minha mão, mas sinto uma tontura forte, minhas pernas fraquejam e tudo fica escuro.

Uma Garota nada PerfeitaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora