A característica mais triste de uma guerra, tirando as perdas, é o fato de que não se pode confiar em ninguém. Um lado obviamente sairá vencedor, porém para alcançar a vitória, vale absolutamente tudo. Fato era que, boa parte dos renegados pensavam como Wahein, queriam ser o que eram sem temer a morte. A vitória deles, perante sanguinários, humanos e caçadores, significava o fim da vida nas sombras, o fim do medo ter o peito perfurado por uma estaca.

Diante desses fatos, muitos ali já sabiam do plano de Marius, outros nem imaginavam tamanha covardia. A verdade é que num ponto, Marius estava certo; fracas e frágeis, uma verdade que doía, mas a única daquele momento. Eram tantos dayans que Drake e Heigi não tiveram tempo nem para pensar nelas, um deslize significava a morte de ambos. Isso de certa forma, as deixou vulneráveis, sem a proteção dos dois, e o resultado foi o que aconteceu.

Velcan pensava numa desculpa que daria para Marius quando ele desse por conta do sumiço dos corpos. O argumento mais apropriado seria ele dizer que Drake sentiria seu cheiro nela quando se aproximasse do corpo, delatando ele como o assassino. E não era uma invenção, de fato era isso que ocorreria, sem falar na ligação. Marius pensou em tudo, mas não pensou nisso, planos tão cruéis não podem ter erros, ou estes, podem causar a morte do criador. 

— Pense bem Letícia, você está fazendo um favor para Heigi. A única utilidade que você tem pra ele é o seu sangue. Tirando isso, você não é ninguém. — Disse friamente.

As palavras de Marius a machucaram profundamente, causando uma dor tão forte quanto a física, pois no fundo, também pensava o mesmo.

O vampiro se aproximou, ajoelhando-se.

— Um breve momento de dor, para uma libertação. Contente-se em saber que choraremos sobre seu corpo inerte. 

Aguda como o bater das lâminas, a dor em sua barriga a faz erguer o olhar encarando-o. O vampiro não esboçava uma reação feliz, pois estava fazendo exatamente o que jurou não fazer mais: matar um inocente.

O olhar dela desceu em seguida, fitando a faca enterrada em sua barriga. Ali são saiu sangue, pois se deu uma hemorragia interna, uma de suas veias fora cortada.

Letícia tombou ao chão, a visão embaçada da bota de Marius foi a única coisa que pôde ver. Caleb sentiu o coração apertar, seus ferimentos eram quase tão graves quanto o de Selena.

De mãos atadas não podia defendê-la, ou só pioraria a situação. Aquilo era desnecessário, não toparia compactuar com aquilo caso Marius tivesse sido mais específico em relação ao seu plano. Ao saber de tudo, tanto ele quanto seu irmão se arrependeram amargamente, mas era tarde demais.

Marius o encarou, esperando que ele terminasse o serviço, Letícia ainda lutava pra continuar viva. Ele não viu outra alternativa a não ser o fazer. Ajoelhou-se, levantando a cabeça dela.

Letícia o encarou, e viu os intensos e brilhantes olhos amendoados do vampiro. Tão próxima, a expressão triste dele tornou-se nítida ao olhos dela.

— Precisamos sumir com os corpos. — Virou rosto para o ancião, que o olhou confuso

— Como? Drake precisa acreditar que...

— Tanto Drake, quanto Heigi são fortes o suficiente para descobrirem quem foram os assassinos. — Advertiu sério. Marius ficou pensativo, mas acabou por concordar.

— Você tem razão... vou ter que arranjar uma justificava que os convença. — Levou as mãos ao queixo. — Mas deixe isso pra depois, vamos, termina com isso logo. — Mandou.

Aquela seria uma das poucas vezes que não sentiu prazer em morder alguém, não queria fazê-la de sua presa, mas era necessário.

Relutante ele o fez, bebendo o sangue da forma mais vagarosa que conseguiu, até Marius se convencer de que ela de fato seria eliminada.

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