Sentei-me o mais rápido que consegui, reparando que as minhas mãos estavam amarradas atrás das costas.

O medo começou a travessar o meu corpo, em golfadas demasiado violentas. Lembrei-me da mulher que me intercedera na estrada e tentei focar-me na sua cara – algo que não me era associado a algum nome.

Quem ela era? O que ela queria de mim?

Olhei à minha volta, reparando que estava no que parecia um cómodo inacabado, com paredes por pintar, plásticos no que poderia ser uma janela, e sinais de obras interrompidas. Algo abandonado.

Forcei os meus pulsos nas cordas que os prendiam, tentando soltá-los a todo o custo, mas de nada adiantou. Apoiando primeiro os joelhos no chão, consegui pôr-me de pé.

Não foi preciso dar dois paços para a loira aparecer no que parecia a saída dali. Ela deu um sorriso mórbido, enquanto caminhava na minha direção.

- Onde a Madame pensa que vai? Não te dei autorização para te levantares! – a sua voz era dura, cheia de ódio.

Recuei um paço, sem proferir palavra.

- Não te preocupes, o teu namoradinho já está a vir. E quando ele vier, poderá ver pessoalmente o que é perder alguém.

A primeira imagem que me veio à mente foi do Tomás e temi por ele. Lembrei-me de quando ele me contou a origem da sua cicatriz: causada através de uma vingança de bairro.

"...lá no bairro era olho por olho, dente por dente" – a sua frese martelou-me na cabeça.

Seria aquilo mais uma vingança? Uma vingança do tipo de pessoas que eram capazes de esfaquear outra?

A minha respiração entrava entrecortada nos meus pulmões, enquanto eu começava a suar de nervosismo.

- Quem és tu? Eu nem te conheço...

- Não te preocupes, o Diogo conhece-me bem o suficiente – ela riu de uma forma maligna.

Diogo?

Foi impossível conter o sorriso que se apoderou dos meus lábios. Era um sorriso de puro escárnio – zombava de mim mesma – nascido apenas para aplacar a vontade gargalhar. Aquilo apenas tinha sido causado pela minha mentira, uma mentira que chegou longe demais ao ponto de acharem que eu era importante para o Diogo. Uma mentira consegue trazer tantos estragos!

Se ele me perder, não vai ser ninguém de importante, queridinha!

- Tás a rir de quê, vadiazinha?

O seu corpo chegou pertíssimo do meu e ela simplesmente esticou a mão, desferindo uma bofetada na minha cara. Senti toda a sua força naquele ato de violência, ao ponto de me desequilibrar e, sem ter onde e nem como me segurar, cair desamparada no chão.

A minha cabeça bateu no chão cru, fazendo com que a minha visão ficasse embaçada e tonta. Soltei um gemidinho de dor, o mínimo que consegui mostrar o quanto aquilo tinha doído.

- Ri-te agora, anda lá! – ela berrou, ensandecida.

Pus-me de joelhos, incapaz de me deixar subjugar a tal ponto e ela agarrou nos meus cabelos, puxando a minha cabeça para cima.

- Quero ver-te rir, quando tiveres os miolos estourados – a mulher rosnou, empurrando a minha cabeça violentamente e soltando os meus cabelos.

Engoli em seco, enquanto a loira apontava uma arma à minha cabeça. Se aquele fosse o meu fim, pelo menos teria servido para alguma coisa.

Se aquela louca soubesse que na verdade o Diogo era irremediavelmente apaixonado pela Paloma, seria a minha irmã nesta situação e não eu. E já que eu lhe tinha causado tantos estragos na vida, pelo menos poderia poupá-la a isto.

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora