Capítulo 51

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Leoric

A multidão começava a se dispersar depois de um longo e terrívelmente monótono discurso de Anara, Leoric já tinha escutado milhões de vezes palavras como aquelas, pensadas para incentivar e inflamar multidões, por politicos veteranos.

Lydia estava calada, encarando a praça com os olhos arregalados. Com certeza aquilo tinha sido demais para ela, mas Leoric achou graça ao ver sua feição horrorizada quando todos os rebeldes se ajoelharam para ela. Eles sempre considerariam a libertadora sua salvação. Independentemente do nome que ela levava. Antes Selene e agora Lydia.

A plataforma onde estava agora, se apresentava cheia de pessoas bem vestidas. Leoric franziu o cenho, sabia que agalesia tinha bons artesãos, e que praticamente tudo que precisavam era fabricado na cidade, contudo, tinha certeza que poderiam usar melhor seu ouro do que em roupas luxuosas, para amaciar o ego de uma nobreza sem trono. A verdade, ele sabia, os rebeldes tinham levado uma dura derrota na batalha por Dunandir, e agora estavam acuados, e conformados dentro da proteção que Agalesia fornecia.

- É bom saber que está de volta cavaleiro. - Um homem desconhecido vestindo robes roxas de tecido fino o parou quando se dirigia para perto de Lydia e Ruriel, que naquele momento tentavam desviar dos apertos de mão e tapas nas costas que recebiam. - É um prazer conhecê-lo.

Leoric se forçou a olhar para o homem que bloqueava seu caminho. Não tinha nada que odiava mais naquele lugar do que as chatas interações sociais, com a nobreza destituída dos reinos do norte e sul. Ele nunca tinha visto aquele homem, e nada em suas feições pareciam familiares. Ele, ao lado de Selene, tinham comandado os exércitos rebeldes para diversas batalhas a fim de retomar o norte, era conhecido por todos ali, e se lembraria claramente de alguém como ele, que, como indicava seu colar de ouro rosa Aurealiano, era representante do povo de Aurealia no conselho de Agalesia.

Ele cumprimentou o homem com um aceno de cabeça, e desviou seu caminho para ultrapassar o obstáculo que ele tinha se tornado.

— Meu nome é Losandro. — Ele falou novamente, dessa vez agarrando o braço de Leoric para chamar atenção. - Espero que possa arranjar um tempo livre para conversar em breve.

Leoric bufou inquieto, aquele homem estava defitinitivamente o irritando. Ele não gostava de ser tocado, muito menos por politicos que tinham a ganancia estampada no olhar.

— Poderemos conversar em breve, Anara, com certeza, logo irá convocar uma reunião, com a presença da libertadora e de seu cavaleiro. — Ele respondeu apressado. — Agora, se me dá licença...

- Vamos lá, cavaleiro. - Losandro falou ainda sem soltar o braço de Leoric. - Garotos de... quantos anos? Quinze? Não devem estar presentes nesse tipo de conversa.

Ele puxou o braço com violência, fazendo com que o homem pomposo perdesse o euqilibrio momentaneamente. Leoric deu um passo em direção a ele, se aproximando, deixando claro a diferença de altura e força entre os dois. Ele encarou os olhos do homem com dureza e com o poder de comando que tinha adquirido desde de muito novo.

— Garotos? Sim. Podem ser garotos, mas já enfrentaram muito mais batalhas que você jamais sonhou em toda sua vida. — Leoric falou com a sobrancelha arqueada.— Lydia é a única que tem o poder de enfrentar o rei, e Ruriel é aquele que está destinado a ajudá-la e ainda sim quer tomar decisões sem a presença de quem efetivamente vai executá-las?

Ele sentiu os olhares de algumas pessoas que os cercavam observando a discussão. Esperando que uma das partes cedesse. Leoric tinha se esquecido o quão insuportáveis eram aqueles jogos de poder.

— A única? - Losandro disse com um meio sorriso sínico nos lábios. — Sabe, com todo o respeito, cavaleiro d'O Antigo, tenho certeza que por esse mesmo pensamento, perdemos a guerra da última vez. Estou aqui para  garantir que essa fé cega por uma profecia que nem ao menos sabemos se é real, não nos condene mais uma vez. Confiamos demais em alguém que claramente não estava, bom... você sabe melhor que eu, não sabe?

Leoric sentiu seu sangue correr mais rápido, quando imediatamente sentiu seu poder pulsar ao som da canção do antigo que sem perceber tinha invocado. Algumas pessoas ao redor soltaram sons de exclamação percebendo a energia que ele ostentava. Losandro empalideceu, denunciando que ele mesmo tinha sangue do Antigo já que podia perceber o poder percorrendo o corpo do cavaleiro, fortacelecendo cada músculo rapidamente.

— O que, por Nirl, quer dizer com isso? — Leoric vociferou.

— Que bom que já se conheceram! — Ele escutou a voz de Anara dizer, mas se recusou a desviar o olhar de Losandro. - Estão precisando de você lá em baixo Losandro, algo sobre uma confusão de propriedades.

Losandro sentiu solenemente, e deu um meio sorisso para Anara.

— Bom. O dever me chama. - Losandro disse antes de se afastar, não sem antes dar um aceno de cabeça respeitoso para Anara.

Leoric fez menção de pará-lo, ele podia ter uma idéia do que o homem estava insinuando, e não era algo que ele poderia deixar passar tão facilmente. Não sobre Selene.

— Se me permitir lhe dar um conselho, cavaleiro. — Anara falou baixo o suficiente para que apenas ele pudesse ouvir. — Eu pararia com a discussão, os jovens estão observando, e não parecem confortáveis.

Ele entendeu o que ela queria dizer e rapidamente se virou para onde Ruriel e Lydia o esperavam, olhando inquietos para onde tinha acabado de discutir com Losandro. Eles tinham passado por muita coisa, e uma viagem muito longa, deviam estar exaustos. Leoric se aproximou deles sendo seguido por Anara.

— Sobre o que foi aquilo? — Ruriel perguntou, encarando Losandro que descia da plataforma pela escada de metal.

— Nada que deva se preocupar. — Ele explicou. — Apenas mais um politico.

Ele viu os jovens balançarem as cabeças, mas sabia que eles não tinham engolido a desculpa, apenas estavam cansados demais para discutir. Apenas ai teve algum tempo para perceber o estado dos dois. Eles com os olhos fundos, pareciam mais magros, e as roupas que usavam estavam sujas de sangue. Principalmente as de Ruriel.

— Devem descansar agora. Tanto quanto for necessário. Depois disso, conversaremos. — Leoric falou para os dois, arrancando suspiros de alivio.

— Devemos falar sobre isso. — Anara interveio. — O ideal seria eu recebê-los no palacete, mas tenho certeza de que não deve preferir dessa maneira. Não é cavaleiro?

— Sem dúvida nenhuma, não consigo aguentar nem cinco minutos perto dessa baboseira. — Ele respondeu de repente mal humorado.

— Foi o que pensei. — Ela falou. — A antiga casa do conselheiro Karim está vazia. Você pode voltar a morar nela, se preferir, e tem espaço o suficiente para os três.

Aquelas palavras o levaram momentáriamente ao passado. O conselheiro Karim tinha sido quem levara Selene e Leoric pela primeira fez para Agalesia, tinha defendido veementemente a permanencia dos dois com os rebeldes mesmo depois de tudo que tinham feito em nome do rei. Karim tinha sido um dos primeiros a morrer na última batalha de Leoric, e sua única derrota.

— Será perfeito. — Ele disse retornando ao presente.

Anara assentiu, e se virou para guiá-los, por cortesia, pelo caminho que Leoric sabia de cor. Assim que terminaram de descer as longas escadas de metal para alcancar a praça ainda lotada de pessoas, alguém se chocou contra seu corpo, apertando seus braços finos ao redor de sua barriga com uma força inacreditável, em um abraço desajeitado.

— Leoric! — Ele ouviu a voz fina e conhecida dizer, tropega pelo que pareciam ser lágrimas. — Seu grande idiota! Eu pensei que estava morto.

Isabel. Ele reconheceu. A menina que estava sempre seguindo ele e Selene por todos os cantos da cidade dos anões. Leoric se desvencilhou do abraço educadamente. E encarou a mulher que agora estava em sua frente se debulhando em lágrimas. Seus cabelos curtos e ralos, tinham se tornado longos e cheios de fios loiros, seu corpo magro e franzino tinha ganhado curvas que ele nunca tinha pensado que viriam a ter. Ela estava diferente, estava mais alta, não tanto como Lydia, mas sem dúvida era completamente diferente do que se lembrava,  ele percebeu, lhe dando um sorriso tímido.

Oláaaa, outra boa notícia hoje, sexta- feira a canção do antigo chegou em oitavo no ranking de fantasia, acreditamm? Eu não hahahaha. Foi graças aos seus votos e comentários, então comentemm, ajudem essa pobre autora! O que acharam do capítulo? Não esqueçam da estrelinha. <3

A Canção do Antigo (Completo)Where stories live. Discover now