Capítulo 39

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Lydia

Já tinham se passado três dias inteiros desde que deixaram Litherl. Estavam a pé, e quase não paravam para descansar. Se Lydia não tivesse acostumada com a fome que passara na floresta branca, ela não estaria tão bem como estava naquele momento. Mas não podia dizer o mesmo de Ruriel, mesmo parecendo disposto, era nítido o cansaço que ele sentia. Seus olhos fundos e postura cada vez mais desmotivada denunciavam a situação que ele estava. Não estavam pegando o caminho mais curto, já que provavelmente as montanhas já estavam sendo vasculhadas pelo exército a procura deles. Estavam lentos, e não demoraria para que o Tirano os achasse, precisariam de mantimentos em breve, e cavalos, sim, cavalos iriam ajudar bastante. Eles iriam para a vila de Rugh, Leoric tinha anunciado um dia atrás, lá ele teria ajuda para conseguir cavalos e acelerar a viagem.

- Vamos parar um pouco. - Falou Leoric sentando em uma pedra perto do rio. - Podem encher os cantis, lavar o rosto, as mãos, e descansar.

Lydia se aproximou do rio largo com o próprio cantil e o viu encher lentamente, a água estava fria, mas a medida em que desciam as montanhas o clima melhorava razoavelmente.

- Na guerra, o mais importante é ter domínio sobre sua mente. - Leoric começou. - Saber como ignorar o cansaço, e o esgotamento, é o que determina se morrem ou vivem. Vamos treinar um pouco, para não perderem a prática.

Lydia sabia que o esgotamento mental em que estavam agora seria perfeito para um treinamento, seria duro, mas não seria nada comparado com a guerra que presenciariam mais a frente, tinham que estar prontos.

Ela e Ruriel encaravam Leoric em silêncio.

- Precisam colocar sua mente em uma forma elástica, para que ela possa absorver o que acontece, e se moldar a realidade. - Ele continuou. - Devem dominar suas mentes, para não deixarem seus medos, inseguranças e cansaço atrapalharem seu desempenho na batalha.

Ruriel assentiu e deu um gole grande no cantil que tinha acabado de encher, enquanto Lydia apenas olhava para o mestre com uma expressão séria.

- Vão correr em círculos em volta da clareira. - Disse Leoric apontando, ignorando a pergunta de seu aprendiz - Até que eu os mande parar.

Lydia viu Ruriel tomar a frente, correndo com uma velocidade bastante moderada, sabendo que deveria conter o passo caso aquela corrida demorasse muito tempo.

- Mais rápido - Ouviu Leoric gritar.

Eles aumentaram o ritmo da corrida, e Lydia percebeu que o terreno em que estavam era cheio de buracos e pequenas elevações, que os forçariam a pular e desviar rapidamente.

- Mais rápido. - Leoric gritou novamente.

Ela apressou o passo ainda mais completando mais uma volta, já começando a se sentir ofegante. Ruriel, que ia à sua frente, estranhamente não demostrava sinais de que a corrida estava pensando-lhe os músculos. Já deviam estar a mais de uma hora correndo, e Lydia lutava contra a exaustão, e já havia diminuído involuntariamente o ritmo em que corria.

- Use o Antigo garota! - Leoric falou. - Não devia estar cansada ainda.

Ela se concentrou, imediatamente sentindo a pressão da canção do antigo zunir em seus ouvidos, ressoando pelos seus músculos e fortalecendo-os rapidamente. Era isso que devia sentir ao usar o poder de forma proposital? Aquilo parecia com como se sentiu quando encontrou a Floresta Branca, e ela lhe ensinou a esconder seu poder.

- Essa lebre ficou realmente gostosa. - Leoric falou, enquanto mordia um pedaço da lebre que tinham caçado no dia anterior.

Os jovens desviaram o olhar do caminho que seguiam e olharam em direção à fogueira. Leoric estava sentado, de frente a eles, segurando a carne com a mão e comendo animadamente. Imediatamente o estômago de Lydia reclamou, e sua boca encheu de saliva.

A Canção do Antigo (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora