Lydia foi ensinada a não chamar atenção.
Foi ensinada a esconder sua força e habilidades extraordinárias.
Mas depois de assistir todos aqueles que amava morrerem tragicamente, o poder que nem sequer sabia que tinha foi despertado.
Ela agora morreria...
– Soube o que aconteceu com aquela vila ao Sul da Floresta Branca? Rainelle, era o nome dela, se não me engano. – Thael ouviu Nora dizer enquanto trocava mais uma vez os ferimentos de Lion, que agora já dormia sem febre.
– Não.
– Mataram todos.
– A vila toda? – Ele perguntou.
– Sim, e depois colocaram fogo nas casas. Não sobrou quase nada.
Ele levantou as sobrancelhas, e sentiu seu coração se acelerar um pouco.
– Foi o rei?
A bruxa apenas assentiu sem olhá-lo. Houve um tempo, quando ainda era controlado pela magia sem limites do Tirano, que era ele que comandava os massacres. Eram muitos naquela época, tantos que tinha perdido a conta. Por mais que tenha finalmente se livrado do rei, e orquestrado a rebelião, não conseguia afastar aquelas imagens de sua mente. Pessoas, desarmadas e confusas gritando de pavor na iminência de suas mortes. O cheiro de cadáveres, e de fumaça. E os sussurros desesperados por suas vidas, ainda assombravam suas noites.
– Por que? – Thael perguntou. – Já faz algum tempo desde o último.
– Disseram que escondiam alguém com o sangue proibido. O sangue d'O Antigo.
– E como descobriram? Tão ao Norte assim.
– Sabe como funciona Leoric.
– Esse não é meu nome. Não mais. – Ele falou dando as costas para Nora e apoiando uma das mãos na parede enquanto encarava o chão.
– Tudo bem. Desculpe. – Nora falou, se levantando. – Ele pode sentir Thael, temos que sempre nos manter alertas. Não estamos seguros, nem nunca estaremos, não enquanto ele viver.
Nora estava certa. O tempo em Litherl estava o tornando acomodado, e desleixado. Ele sabia que ainda estava em uma posição boa, e ainda achavam que estava morto. Mas era que questão de tempo, ele tinha que estar preparado.
– E essa pessoa? A d'O Antigo? – Ele perguntou. – Sabe o que aconteceu com ela.
– Dizem que morreu. Esperava outra coisa?
Ele balançou a cabeça negativamente. Não era simples escapar do rei.
– Sabe que dia é hoje? – Ela perguntou mudando de assunto, para aliviar a tensão acumulada no pequeno cômodo. – O recrutamento. Não vai mesmo tomar Ruriel como aprendiz?
– Como mesmo disse Nora. Temos que estar sempre preparados, se eu tiver que fugir, o que será de Ruriel ao ficar aqui?
– Sabe, posso não ser tão boa quanto minha irmã, mas eu vi pedaços do destino do garoto. Assim como você, ele nasceu para a guerra. – Nora falou antes que Thael pudesse sair da casa. Ele nunca gostou de previsões de bruxa.
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A taverna estava quieta, com o final das feiras, tudo que restava era o trabalho de consertar aquilo que tinha sido estragado pelos numerosos hóspedes mal educados e truculentos. Um barulho alto da porta da frente batendo e coisas sendo derrubadas no chão o fez tirar os olhos do remendo que tentava fazer um dos lençol de linho. Ele realmente odiava costurar. Era Ruriel, ele pode constatar ao ver o garoto, desajeitadamente, recolhendo pratos de madeira e de ferro do chão e os recolocando na mesa mais próxima.
– O que está fazendo aqui? Devia estar no recrutamento!
– Estava indo para lá quando ouvi uma conversa, mestre! Já sabe o que aconteceu em Rainelle?
– Ruriel! – Ralhou Solem, que estava sentado em um dos cantos da taverna, bêbado. – Thael já lhe disse que não quer garotos correndo pela taverna.
– Já sei Ruriel, deixe-o Solem, e vá para as minas trabalhar, antes que se arrependa. Vou fechar o bar agora, homem, pode voltar a noite para ficar mais bêbado.
Thael saiu com Ruriel pela porta dos fundos da taverna.
– Vou te acompanhar para ter certeza que vai ao recrutamento. Sabe as consequências de não ir.
– A morte, conte-me uma novidade. – Ruriel respondeu – Devo dizer que o Tirano precisa de criatividade em suas punições. Essa já está velha.
– O que não falta a aquele homem é isso. Precisa ter cuidado Ruriel. Isso é sério. Vou aumentar seu treinamento. Precisa estar preparado sempre, e capaz de proteger quem ama. – Thael falou.
– Vou poder lutar contra o senhor? – Ruriel perguntou.
– Veremos... – Disse o taverneiro. – Agora vamos, vou te acompanhar até o circulo, Lion me mataria se perdesse o recrutamento.
