Cris tentou conter, mas logo foi difícil impedir a risada.

— Bom, era esperado, acredito, mas você sabe que tem algo bom com relação a isso?

— Sério? E o que é? — Nelson olhou para Cris, descrente. — Eu gostaria de saber, já que não tenho a mínima ideia.

— Agora só dá pra ir pra cima! — gritou Cris com um grande sorriso.

Nelson olhou para aquele sorriso e não pode resistir a soltar uma risada fraco.

— Você também podia me ajudar a ser otimista desse jeito — disse em voz baixa.

— Hoje é uma ocasião especial. Vai ser ruim pra mim se você pensar que sou assim o tempo todo. Especialmente quando ver minha faceta real — disse, o sorriso ficando malicioso.

O nadador soltou um risinho.

— Bom, vou conhecer sua faceta real no futuro. Mas, mesmo assim, queria ser que nem você. Otimista sobre isso tudo... — O sorriso de Nelson diminuiu enquanto olhava para baixo. — Na verdade, tenho medo... estou rezando do fundo do coração que tenha como ir para cima...

Cris parou de sorrir. Ele ficou em silêncio enquanto encarava o rosto de Nelson. Após um instante, inclinou-se para frente:

— Sei que acabamos de nos conhecer, mas estou aqui por você — disse, baixinho.

Nelson ergueu a cabeça e virou-se para o homem que conhecera na noite anterior. Ele olhou para o rosto que geralmente tinha um sorriso. Cris agora mostrava uma expressão preocupada, pronto para escutar o que quer que ele fosse dizer. O nadador hesitou por um segundo, mas as palavras saíram dele.

— Acho que estou sendo egoísta demais. Eu... Eu devia ter morrido naquele acidente, mas não morri. Isso foi um milagre. Daí eu devia ter perdido a perna, mas não perdi. Os médicos disseram que eu podia ficar sem movê-las mais. Mas cá estou — disse Nelson, enterrando o rosto em ambas as mãos. — Nadar como antes devia ser um milagre também, mas vou ficar sem milagres logo ou não? E se a ressonância mostrar que não posso voltar pras piscinas? Sei que é egoísmo, mas não tem como... Não posso perder as piscinas... Sem elas, eu... Eu não sei o que sou sem elas...

Antes que notasse, Nelson chorava nas mãos dele. Cris aguardou em silêncio, apenas o som do choro ecoando entre eles.

— Você não está sendo egoísta — disse ele depois de Nelson terminar de chorar. O nadador ergueu a cabeça e olhou para seu assistente. — E ainda que pense isso, nesse caso, você pode ser egoísta sim. Você não está tirando nada de ninguém. É seu objetivo, seu sonho, então não tem nada de errado nisso.

— Você acha?

— Sim! E se alguém reclamar, diga que eu deixei você ser egoísta — disse Cris com um sorriso confiante que arrancou uma risada do nadador.

— Mas... e se eu não conseguir voltar pra piscina?

— Então você vai se sentir perdido por um tempo. Talvez por um bom tempo. Mas, quem sabe encontre outro caminho. Mesmo que não seja na piscina, mesmo que não seja como atleta, há muito que você pode fazer. — Cris encarou Nelson com um sorriso gentil.

— Você está... certo. — Nelson suspirou e se inclinou de volta no banco, observando o céu claro. — Você diz isso com tanta confiança que é quase como se estivesse na minha posição.

— E estou... — Cris ficou quieto enquanto encarava o chão. — Sendo honesto, estou na mesma situação no momento...

Nelson olhou para ele. O sorriso gentil se fora e agora os olhos de Cris pareciam não ter foco. O nadador entendeu e aguardou.

O nadador e o assistenteWhere stories live. Discover now