Capítulo 5

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— Eu também tenho algo sobre o qual gostaria de conversar com você.

— Digo sem pensar duas vezes, para não perder a coragem. É agora, eu vou contar.

— Tudo bem, mas eu posso falar primeiro? — Ele segura minha mão e
me arrasta em sua caminhada. Deixo que ele me guie e caminho na margem do lago junto com ele.

— É que o que eu tenho para te falar é muito importante. — Digo.

— Eu também. — Ele me olha de uma forma tão séria, como ele nunca havia me olhado antes, então decido o deixar falar primeiro.

— Tudo bem, fale.

— Sinceramente, nem sei por onde começar. — Ele respira fundo e seguimos caminhando lentamente. Alguns momentos passam e quando eu acho que ele desistiu de falar, ele começa:

— Acho que não tem como fazer você entender a grandiosidade da paz e da alegria que você me faz sentir, porque você não sabe como eu me sentia antes de você. Então vou tentar lhe explicar de uma forma bem simples. Eu não sentia nada... — Ele diz olhando para frente e eu sigo olhando o seu rosto de perfil. — Eu sempre amei meus pais, meus irmãos, meus avós, até mesmo alguns poucos amigos, mas mesmo assim, eu sentia que faltava algo. O amor que eu sentia por eles era meio que mecânico, como se fosse algo que tivesse que sentir, entende?

É meio difícil de explicar e imagino que seja mais ainda de entender, mas a questão é que eu na maioria da minha vida, me sentia vazio, sentia como se algo estivesse faltando. É um sentimento horrível esse, sabe...Eu olhava o mundo a minha volta e via que apesar dos pesares, todos pareciam acabar encontrando o seu rumo, menos eu. Eu sentia como se fosse um barco à deriva, tinha uma força que me empurrava e empurrava mas que nunca me levava a lugar algum. O mar estava feroz, me balançando, me golpeando com suas fortes ondas, como se quisesse me afundar, me carregar para baixo, e eu resistia, mas com muito medo dele conseguir. Eu me sentia desesperado para chegar até terra firme, para achar um lugar seguro, uma salvação, uma redenção...Você consegue imaginar o tamanho da minha agonia? — Ele olha para mim com um olhar torturado, não deve ser fácil para ele falar sobre isso.

Balanço a cabeça em sinal positivo, sim, eu posso imaginar. Meu Deus, só pelo jeito dele falar já me sinto sufocada, para ele que de fato passou
anos se sentindo assim, deve ter sido um inferno.

— Nunca imaginei que você se sentia assim, você sempre pareceu uma pessoa...Feliz.

— E em certos momentos eu até era, mas em outros esse vazio que eu sentia era grande demais para ignorar. Nos primeiros anos da minha
adolescência essas sensações sombrias eram mínimas, mas o tempo foi passando e eu fui crescendo. Fui vendo meus amigos se apaixonarem, começarem a namorar, e eu simplesmente não conseguia sentir o que eles me descreviam. Imaginei que era porque eu não havia encontrado a
pessoa certa, passei a imaginar que talvez aquele vazio fosse a falta dessa pessoa especial. Que quando eu a encontrasse, tudo ficaria bem.

Mas eu nunca a encontrava, eu nunca nem sequer me interessava por uma garota além de sexualmente, pensar em ficar com uma mesma garota, ter que agir como os meus colegas apaixonados? Não, aquilo me dava pânico. Comecei a perceber os sinais e cheguei à conclusão que alguma coisa deveria estar errada comigo, quanto mais os anos se passavam e eu só conseguia olhar para as mulheres como meros objetos sexuais, fui chegando a conclusão que o problema era com os outros. É muito mais fácil admitir que os outros é quem tem problemas e não você. Conclui que todos a minha volta eram idiotas iludidos, acreditando em algo como amor, monogamia, relacionamentos, e eu era o único que conseguia enxergar que essas coisas não existiam. Afinal, devia eu acreditar em algo que eu nunca havia sentindo e só ouvido falar? O problema é que, todos a minha volta acreditavam nesse sentimento, todos estavam vivendo ele, e ao mesmo tempo em que eu agradecia por não ser mais um idiota apaixonado...Eu queria ser um
idiota apaixonado, eu ainda precisava de alguma coisa para preencher esse vazio que eu sentia. Eu queria sentir aquilo que todos diziam sentir, o frio na barriga, a vontade louca e incontrolável de querer ficar com aquela pessoal especial, os sorrisos bobos e a risada frouxa, eu queria muito saber como era sentir isso, mas eu não...Simplesmente não conseguia.

— Então você escolheu ignorar esse sentimento e preencher o vazio com o seu estilo de vida...Ann...Não muito ortodoxo.

— Exatamente.

— E funcionava? Quero dizer, o vazio ia embora?

— Na hora sim, mas depois ele voltava, com mais força. Em algum
momento do caminho, eu simplesmente me perdi, Dakota. Já não sabia mais o que estava fazendo. Não sabia o porquê era do jeito que eu
era. Eu cresci em um lar carinhoso, com pais amorosos, com família e amigos também amorosos. Eu tinha tudo para ser um romântico incorrigível.

Inesperada paixão 2° Temporada - Damieحيث تعيش القصص. اكتشف الآن