Ben levou Julinho direto para o quarto, ficou surpreso ao encontrar Débora em casa ainda naquele dia, pensou que só veria a patroa no domingo.

- Oi Dona Débora.
- Oi, o Tubarão ligou falando de um acidente seu hoje, está tudo bem?
- Sim senhora, foi só um susto.
- Eu não quero ser chata, mas por favor, foca o seu trabalho em cuidar do menino, eu nem sei como ficaria se você tivesse alguma contusão grave hoje. E lembre-se, você estava no seu horário de serviço.

Ben ficou constrangido com a cobrança disfarçada de preocupação da patroa.

- Tudo bem, vou me policiar quanto a isso. Fomos comprar as coisas do almoço amanhã, vou fazer... - Não chegou a concluir o cardápio, logo foi interrompido por Débora.
- Por favor não me fale desse almoço que minha pele fica irritada só de pensar nessa presepada. Boa noite Benício, Boa noite.

A mulher bateu a porta do quarto, deixando o rapaz no corredor falando sozinho.

Enquanto Ben cuidava de colocar Julinho para dormir após o banho, Tubarão seguia descarregando as compras do almoço ainda engasgado com o atrevimento do rapaz.

Ao adentrar na cozinha para iniciar os trabalhos, Ben foi surpreendido pelo chefe vermelho feito um pimentão.

- Escuta aqui rapaz, nunca mais me deixe falando sozinho. Me ouviu?
- Eu não percebi que estava falando senhor.
- Pois estava, e sempre estarei, porque a última palavra na porra dessa casa é minha- Falou isso gritando com o rosto muito próximo ao de Benício.

O rapaz começou a sentir uma forte tonteira com aquela gritaria toda. Precisou ser amparado pelo homem que agora mudava o semblante de raiva para preocupação.

- Ei Ben, o que você está sentindo?

Quando começou a recobrar todos os sentidos, suas narinas foram invadidas pelo cheiro forte dele, seu rosto estava encostado naquele imenso peitoral. Benício percebeu-se tentando aproveitar aquele momento, que vontade de apertar aquele homem no seu abraço, de sentir o seu gosto.

Foi se soltando aos poucos e viu Tubarão o guiando até a uma cadeira.

- Vou ligar para Débora, deve ter sido o choque de mais cedo, você precisa de uma radiografia.
- Não, por favor Alex- o chamou pelo nome novamente gerando um estranhamento no chefe, que logo foi esquecido pela preocupação- eu estou bem, foi só o susto.
- Me perdoa, por favor me perdoa.

Ver um homem daquele tamanho pedindo perdão daquela forma fez com que Benício quisesse mais ainda aquele abraço.

- Tudo bem, está tudo bem. Eu também queria te agradecer pelo que fez mais cedo.
- Do que você está falando?
- De ter socado o carinha lá que me derrubou.
- Porra cara, nem precisa agradecer, tenho ranço de quem faz maldade, fiquei cego quando vi o que ele fez contigo.
- Eu entendo, também não gosto desse tipo de crueldade, mas espero que não tenha problemas por conta disso.
- Relaxa, ele já me mandou uma mensagem pedindo desculpas. Mas não vou responder tão cedo, minha preocupação agora é com esse almoço amanhã.
- A propósito vou começar os trabalhos.
- Você tem certeza que está bem? Posso ligar para a Débora.
- Não precisa ligar, ela está no quarto, acho que já foi deitar. De qualquer forma já estou bem.
- Pensei que ela fosse chegar amanhã. E então no que posso te ajudar?
- Como assim?
- Não vou te deixar você fazer tudo sozinho, o que precisa da minha ajuda?
- Está falando sério?

Tubarão o encarou sério

- Eu não minto porra.
- Desculpa, não foi isso que quis dizer. Pode ajudar descascando a mandioca e depois cortando os temperos, eu vou limpar os peixes e os frutos do mar.
- Beleza, vou lavar as mãos.

O trabalho demorou cerca de duas horas, Ben precisou cortar novamente os temperos, ele tinha um certo cuidado para que tudo tivesse o mesmo tamanho, e viu pedaços de cebola cortados grosseiramente pelo chefe, viu também dentes de alho praticamente inteiros. De qualquer forma o trabalho com a mandioca foi de grande adianto, obviamente com o dobro do tempo.

- Tô vendo que seremos uma boa dupla não apenas no futebol.

Ben começou a rir com o papo do chefe.

- Sendo sincero acho que temos mais futuro no futebol mesmo, mas você acabou sendo um bom assistente.
- Obrigado chefe.

Os dois começaram a rir

- Eu fiquei surpreso também em como você joga bem, caras grandes como você geralmente tem mais dificuldade.
- Rapaz eu sou formado em Educação Física, e tenho uma academia. Seria uma fraude se não tivesse um bom preparo físico. Que bom que você reconhece que eu jogo bem.
- Reconheço sim, mas eu jogo mais- E riu, sendo encarado pelo outro com seriedade, riu mais ainda da situação- Relaxa eu nem gosto de futebol assim, acabei indo para o lado do vôlei no tempo do colégio, era bom também, mas faltou altura para conseguir tentar seguir profissionalmente.
- Faltou sim.

Os dois acabaram indo se deitar, o dia seguinte seria longo. Tubarão aguardava uma boa festa em homenagem a mãe, Ben aguardava que tudo desse certo no banquete que estava preparando. Queria surpreender a família, mal sabia que as maiores surpresas estavam reservadas pra ele mesmo.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora