PARCERIA

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As compras naquela tarde foram bem agitadas. Tubarão pegava tudo a sua frente, Benício retirava o excesso das compras devolvendo as prateleiras.

Para que não tivessem nenhum estresse o rapaz pediu ao chefe que assumisse a responsabilidade de buscar as bebidas para o almoço, enquanto isso ele foi em busca dos ingredientes do bobó de camarão. Resolveu fazer outras iguarias com frutos do mar, pensando naqueles que pudessem ter alguma reação alérgica ao camarão. Faria um linguado marinado com limão, alecrim e alcaparras, também faria uma moqueca capixaba com robalo, uma salada de bacalhau e lula empanada como tira gosto.

Para a sobremesa pensou num brownie com brigadeiro branco, e sorvete de flocos como acompanhamento. Não sabia como faria tudo isso com tão pouco tempo, mas havia se comprometido com o almoço, e daria o seu melhor.

Já com tudo no seu carrinho, foi ao encontro de Tubarão e Julinho, o patrão ainda estava no setor de bebidas e aparentemente tinha dificuldade com a quantidade a levar, Benício o ajudou no que pode e logo se encaminharam ao atendimento.

No caminho de volta, Tubarão que tinha perdido quase um salário nas compras conversava com o filho, ele não tinha muito jeito para crianças, mas lhe faltava muito mais jeito para puxar um diálogo com o babá.

Ben também não tinha muito o que dizer, então preferiu não fazer nenhum comentário. Viu que Julinho estava agora deitado no seu braço, o menino estava cansado do dia intenso que tiveram e logo adormeceu.

- Mandou bem hoje rapaz- Arriscou Tubarão, ganhando rapidamente a atenção do passageiro.
- Como? - Perguntou Benício sem entender do que se tratava.
- No futebol, fiquei surpreso. Manda bem pra caralho. Se soubesse tinha puxado você para minha equipe de cara. Faríamos uma dupla e tanto não acha?
- Jamais saberia, porque nunca se permitiria tomar conhecimento disso, pelo menos não enquanto continuar fazendo juízo de algo ou alguém através das aparências.
- Agora eu que não entendi- Respondeu firme, tentando entender o que o rapaz falava e ao mesmo tempo prestar atenção no trânsito.

Ben resolveu desabafar, talvez esse seria o momento que Tubarão o jogasse pra fora do carro, mas percebeu que não tinha nada a perder.

- As aparências muitas vezes enganam. Vi que seus amigos e o senhor, por exemplo caíram na risada somente com a possibilidade de me ver jogando. Na verdade até o seu amigo lá, capitão do meu time, ficou frustrado quando surgiu a chuteira e a roupa.

- Não foi bem assim- Tubarão falou alto- Quer saber foi desse jeito mesmo, me desculpe. É que quando pensamos num cara como você, vem logo a impressão que vai rolar aqueles ataques de frescura. E você nos surpreendeu, mais uma vez me surpreendeu.
- Isso é tão relativo, não é porque o cara é mais afeminado que ele é uma pessoa ruim.
- Calma rapaz, eu não disse que você é ruim, na verdade nem afeminado é.
- Mas e se eu fosse? Independente do meu comportamento eu sou um cara normal, que busca ser ético nas minhas atitudes, assim como muitos caras "frescos", e é isso que importa, não o nível de macheza, até porque isso não quer dizer nada, conheço vários caras exemplos de virilidade que são bem afetados em determinadas situações.
- Por favor, não venha falar sobre esse tipo de assunto. Não quero saber desse tipo de promiscuidade.
- Fique calmo senhor, não era minha intenção, meu objetivo era demonstrar que nunca seríamos uma boa dupla como falou. Não enquanto pensar dessa forma.

O carro havia acabado de estacionar na garagem da família.

- Eu já reconheci que pensei errado- Falou irritado.
- Sim, é verdade. Só esqueceu de reconhecer que o fresco aqui era melhor que todos os pernas de pau dos seus amigos, muito melhor que o senhor também.

Benício falou isso pegando Julinho no colo e deixando Tubarão sozinho no carro. Ele teve a sorte de não ouvir os xingamentos desferidos a ele pelo patrão.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora