OLHARES

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- Você já sabia não é? Eu tenho certeza que sabia.

Tubarão antes de entrar na academia fez questão de ligar para a esposa ainda no estacionamento. Na primeira ligação Débora não escutou, o seu sono era pesado, mas na segunda vez ela pegou o celular e ouviu os gritos do marido.

- Sabia do que Tubarão? E por que está gritando assim?
- Um viado Débora, você colocou um viado na nossa casa para tomar conta do nosso filho.
- Então é por isso que está gritando? Me faça um favor Tubarão, me esquece.
- Estava bom demais para ser verdade.
- Está melhor ainda, você não tem mais motivos para se preocupar, meu querido.
- Como não, você sempre soube o que sinto com relação a viado.
- Sei e sempre achei uma palhaçada, e para de fazer graça, você estava todo feliz com a comida do rapaz até ele sair do armário.
- Sério, eu não sei o que pensar, ele é bom eu confesso, mas ter um viado morando conosco é algo que nunca imaginei.
- Tubarão querido, tudo continua do mesmo jeito, ele é nosso funcionário, a vida sentimental e sexual dele não é da nossa conta, a não ser que...
- Não ser o que?
- Que você esteja encantado com outros atributos do rapaz, como aquela bunda toda.
- Vá se fuder Débora, tá me chamando de viado porra?
- Não seria novidade nenhuma na sua família querido.

Tubarão não sabia o que fazer caso Débora estivesse na sua frente naquele momento. Ela nunca havia o tirado do sério como naquele momento.

- O que você quer dizer com isso? - Falou espumando de raiva.
- Você sabe melhor do que eu, afinal de contas a família é sua.
- Pois você vai ver o viado aqui quando eu chegar em casa mais tarde.
- Por hoje já chega né? Agora quem sabe o Benício não esteja interessado.
- Pois esse aí vai ver é outra coisa, o meu pé na bunda dele expulsando da minha casa.
- Tubarão, já chega está falando besteira demais e de cabeça quente, deixa o rapaz fazer o trabalho dele e você vá fazer o seu. Eu também não curto bichas, mas ele fazendo o trabalho dele sem entrar no meu caminho tudo certo. Tenho certeza que amanhã mesmo você vai ter esquecido isso e estar feliz da vida com a comida dele.
- Eu não sei onde estava com a cabeça quando deixei você fazer uma loucura dessas.

Débora já cansada daquela conversa desligou o telefone na cara do marido.

Durante o trabalho na parte da tarde Tubarão não conseguiu tirar aquela situação toda da cabeça. Não sabia bem o que fazer a respeito disso, pensou em conversar com Luciano, mas lembrou que o clima com o sócio ainda não era dos melhores. Já pela noite, trocou a roupa e foi direto para o treino de musculação, passou por todos os aparelhos até decidir que estava no horário de ir para casa. Tendo sorte encontraria ainda o resto do almoço. Preferiu deixar quieto o seu sentimento quanto a sexualidade do rapaz, mas manteria os dois olhos bem abertos quanto ao que ele fazia com seu filho. Sabia que era absurdo desconfiar de alguém dessa forma, mas já tinha visto tantas coisas absurdas no trabalho como policial que manteve o seu posicionamento.

Fazia muito calor, resolveu tirar a camisa que estava encharcada de suor, colocou dentro da mochila com o restante das roupas que tinha usado no escritório.
Saiu da academia guiando sua motocicleta, e pela primeira vez em muito tempo chegaria a casa no horário do jantar, faziam meses que ele evitava encontrar Débora com seus ataques. Também seria a primeira vez que faria isso sóbrio nesse tempo todo, ele na maioria das vezes bebia uma, e muitas outras.

Não demorou muito até estar com a motocicleta estacionada na garagem. Caminhou até a porta de casa e sem precisar usar a chave a abriu. Por lá encontrou Julinho na maior correria pela sala com sua roupa de Capitão América do último aniversário. Benício o acompanhava utilizando uma falsa capa de super herói. Ele acompanhou a cena até ser percebido por Julinho que saiu correndo agora para o seu abraço.

QUERIDO BABÁ (ROMANCE GAY)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant