Capítulo XXVII

Começar do início
                                    

— Apoiado! – Mô brindou com a irmã mais uma dose de tequila, fazendo cara azeda uma vez que a bebida desceu pela sua garganta.

Os nachos demoraram demais para ficar prontos, e a tequila já estava servida há tempo suficiente para causar sérios estragos. Não pude deixar de comparar a forma como cozinhávamos com a forma que a avó de Ben o fazia. Ela parecia saída de um programa de culinária, com seus aventais de barra de renda, luvas especiais, condimentos em potes enfeitados e a mesa perfeitamente posta com porcelana importada.

Antes de a panela esquentar, sentíamos uma necessidade por música. Não tinha graça cozinhar sem poder mexer os quadris. Depois preparávamos os aperitivos, em geral alcoólicos. Nós nos revezávamos no fogão, dando a oportunidade para cada uma dançar sua música favorita ou brincar com as outras. Falávamos e ríamos mais do que cozinhávamos, e nossos assuntos vez ou outra acabavam em pornografia.

— Não posso dizer que não vou sentir falta do Alfredinho...

Gargalhadas abafaram até a música, enquanto Luci informava o apelido carinhoso do pênis do seu namorado.

— Calma, florzinha, vocês nem terminaram ainda – dizia Mô.

— Mas vai ser a primeira coisa que vou fazer amanhã.

Luci levantou-se decidida e, andando mais torto que direito, tomou o rumo da saída da cozinha.

— Calma, sua louca, vai quebrar o pescoço. – Regi foi ao auxílio da prima.

— Ela esqueceu que amanhã é feriado! – Mô me deu uma piscada e foi ajudar as duas.

Eu comecei a arrumar os pratos e Babi me ajudava.

— Foi uma boa ideia a tequila. Eu não sabia mais o que falar.

— Tem coisas que só o álcool cura.

Rimos. Babi era minha irmã, mas era incrível como eu me sentia anos-luz mais próxima de Mô. Nós brigávamos tanto na casa amarela que, quando estávamos aqui, simplesmente tomávamos distância uma da outra.

— Como você está?

— Bem.

— Você quer dizer Ben?

Eu tive de rir.

— Vocês parecem estar se entendendo.

— É uma forma de dizer.

— E o outro, nunca mais...?

— Não, graças as minhas estrelinhas...

Um copo dançou na minha mão, mas aterrissou em segurança na bancada de granito.

— Não entenda mal, mas eu fico muito curiosa. Como você conseguiu esquecer tão rápido o outro?

— Eu não esqueci rápido, Babi. Eu já o tinha esquecido faz tempo, eu só não queria admitir. Jamais poderia ter me apaixonado pelo Ben se eu ainda gostasse do Martin.

— Eu pensei... Quero dizer, há quem se apaixona por duas pessoas ao mesmo tempo. – Babi deu de ombros.

— Eu acho isso impossível.

Eu realmente achava isso, e se havia uma pessoa que eu sempre imaginei que concordaria comigo sobre isso, seria ela.

— Então você está apaixonada pelo Ben? E hoje foi conhecer a avó dele oficialmente como namorada dele? Você tem muita sorte. A Marília é um doce, e não posso pensar numa cunhada melhor que a Tami! – Babi parecia empolgada.

Herança de Sombras - Livro 1 - LuxúriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora