Capítulo 9 - Manuela

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     Estava deitada na cama a quase duas horas sem fazer absolutamente nada, exceto olhar para uma pequena mancha amarela no teto. Cindy e Amber a essas horas deveriam estar no trabalho e eu não queria incomodá-las.

     Olhei as horas no meu celular e ao ver que já se passava do meio-dia, resolvi ir até a cozinha preparar alguma coisa para mim.

     Atravessei o corredor até chegar a cozinha e quando abri a geladeira, fiquei perplexa ao constatar que ali só haviam iogurtes vencidos, água, manteiga, alguns ovos e duas fatias de pizza estragadas, o mais assustador foi imaginar como Lorenzo, mesmo comendo toda aquela porcaria conseguia manter a forma, já que ele não parecia ser um adepto a academias ou se preocupar com o seu bem-estar.

     Com fome, apanhei minha bolsa e deixei o apartamento, caminhando em direção a um pequeno quiosque que havia na praia, onde eles serviam frutos do mar frescos, junto de vários acompanhamentos.

     Conforme os minutos iam passando, as pessoas iam saindo da água e da areia e se reunindo ali no quiosque e em pouco tempo, aquele lugar e tantos outros que haviam espalhados pela praia já estavam lotados.

     Depois do prato principal, pedi um açaí com nozes, o frio de mais cedo havia desaparecido e dado lugar a um calor sufocante, o que me fez agradecer mil vezes por ter trocado de roupa e colocado um short jeans e uma regata com estampa de flores antes de sair mais cedo.

     E naquele momento, saboreando meu açaí e sentindo o vento que vinha do mar bater em meu rosto e balançar meus cabelos, não parecia haver lugar no mundo mais relaxante do que aquele.

     Antes de voltar para o apartamento, resolvi passar em um mercado que havia ali perto e comprar algumas coisas para compor a geladeira e a dispensa de Lorenzo, eu sabia que iria continuar por mais alguns dias ali, antes de resolver toda a situação do divórcio, e tudo o que eu menos queria, era morrer de fome.

     Ao voltar, tirei todos os alimentos das sacolas e os guardei na geladeira e no armário e enquanto fazia isso, me perguntei a quanto tempo Lorenzo não fazia uma refeição de verdade em casa.

     Apesar de ele ser um babaca e de eu ainda estar disposta a deixar o seu apartamento, sabia que precisávamos estabelecer uma relação amigável, graças ao processo lento e demorado que teríamos de enfrentar.

     Eram quase cinco horas da tarde, quando eu temperei algumas fatias de carne e as coloquei em uma forma no forno para assar.

     Como iria demorar um pouco até que a carne ficasse assada, caminhei até meu quarto e tomei um banho rápido, optando por uma saia preta com pregas e uma camiseta branca com estampa do Coldplay, que eu havia comprado na primeira vez em que estive em um show da banda, ela era um pouco larga, então dei um nó na lateral, a ajustando mais ao meu corpo. Amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo e voltei para a cozinha.

     Depois de conferir a carne, cortei alguns tomates, pimentões, pepinos e cebola em uma travessa, preparando uma salada, estava terminando de preparar o arroz, quando a porta do apartamento de abriu.

     Lorenzo entrou, a jaqueta dependurada sobre o ombro e a camiseta amarrotada, assim como seus cabelos estavam levemente desgrenhados, entregando mais um dia de trabalho duro e cansativo:

     ― O que está fazendo? –Ele se aproximou, me observando com curiosidade.

     ― Estou preparando o jantar. –Disse, o olhando sobre o ombro.

     ― Para quem?

     ― Para nós dois, ué! –Sorri, ao notar sua expressão confusa- Sente-se, já está quase pronto.

     Pensei que aquela seria uma boa oportunidade para ele fazer seus comentários desnecessários e um tanto quanto desconfortáveis, mas me surpreendi quando em silêncio ele puxou uma cadeira, dependurou sua jaqueta nela e se sentou.

     Assim que desliguei o fogo do arroz, o forno soou um alerta, avisando que a carne também já estava pronta, com cuidado peguei uma luva e retirei a forma do forno, a colocando sobre a pia de inox.

     Peguei dois pratos e servi os dois com uma porção de arroz, uma fatia de carne e salada, o coloquei diante de Lorenzo, que ainda me olhava impressionado e me sentei na cadeira a sua frente:

     ― Espero que tenha ficado no ponto. –Disse, cortando minha carne.

     ― Por que está fazendo isso? –Lorenzo disse sério, me fazendo olhar para ele.

     Pensei por alguns segundos, buscando pela resposta mais sensata, antes de finalmente responder:

     ― Acho que nós dois começamos com o pé esquerdo, pelo visto, nós ainda teremos que passar bastante tempo juntos até que toda essa situação se resolva e mesmo que eu não concorde com algumas de suas atitudes, como ocorreu mais cedo, vou procurar não o julgar, afinal, é a sua vida, e eu não tenho o direito de opinar sobre ela.

     Por alguma razão, enquanto me olhava, Lorenzo não parecia saber ao certo o que dizer:

     ― Eu a agradeço por isso e prometo que vou procurar respeitar mais o seu espaço.

     ― Quanto a isso não se preocupe, amanhã mesmo vou ver se encontro um hotel para ficar. –Disse dando uma garfada na minha comida.

     ― Qual o problema de continuar aqui no meu apartamento? –Ele perguntou com cautela.

     ― Bem, você é um homem livre e como tal gosta de receber pessoas aqui no seu apartamento, não quero que se sinta desconfortável com a minha presença, ou que elas se sintam. –Disse com muito cuidado, para não o ofender.

     Ele se remexeu em seu lugar, cruzando suas mãos sobre a mesa:

     ― Seja sincera –Seus olhos cor de mel me fitaram e era impossível desviar minha atenção deles- Você se sentiu desconfortável com o episódio de mais cedo, não foi?

     Engoli em seco, o respondendo:

     ― Na verdade sim.

     ― Por quê? –Ele quis saber.

     ― Eu não acho que... –Tentei encerrar aquela conversa, mas ele me interrompeu.

     ― Por favor, me diga. –Ele insistiu.

     Céus, aquilo era tão embaraçoso:

     ― Eu não gosto da forma como você trata as mulheres.

     ― E que forma seria essa? Até onde sei, todas saem daqui bastante satisfeitas.

     ― Não estou falando disso –Senti minhas bochechas corarem gradativamente- O fato é que você as usa.

     ― Eu nunca enganei ninguém –Ele se defendeu- Todas que aceitam ficar comigo, sabem que tudo não vai durar mais do que uma noite.

     ― É que eu já fui enganada uma vez, e sei o quanto isso dói. –Por mais que não quisesse, toda aquela conversa acabou fazendo com que eu me lembrasse de Eric.

     Um silêncio desconfortável começou a pairar sobre nós, Lorenzo fixou seu olhar em um ponto longe de mim, e por alguma razão, seus olhos intimidadores, não voltaram a encarar os meus:

     ― Obrigado pelo jantar. –Lorenzo disse rapidamente, se levantando abruptamente da cadeira, apanhando sua jaqueta e desaparecendo no corredor.

     Observei seu prato, ele mal havia tocado na comida:

     ― Isso vai ser mais difícil do que eu pensei. –Me lamentei, levando minhas mãos a minha cabeça em sinal de completa derrota.

     Se eu já suspeitava de que seria impossível que Lorenzo e eu convivêssemos em harmonia, agora já não me restavam dúvidas.

O que acontece em Vegas, nem sempre fica em VegasWhere stories live. Discover now