Capítulo 2 - Manuela

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     Havia acordado a algumas horas, mas eu simplesmente não tinha forças e nem vontade de sair da cama. Fiquei durante um bom tempo apenas olhando para o relógio na parede, observando o tempo passar lentamente, torcendo para que ele levasse a dor que sentia junto consigo:

     ― Manu? –Amber bateu a porta, mas eu apenas permaneci quieta.

     Após alguns segundos sem obter resposta, ela abriu a porta e adentrou o quarto. Percebi que ela estava com algumas caixas, e depois de amontoa-las em um canto, se sentou na beira da cama, olhando para mim:

     ― Passei no apartamento do Eric para pegar suas coisas, está tudo aí. –Ela disse calmamente.

     ― Obrigada, não sei se conseguiria voltar lá. –Por ter virado a noite chorando, minha voz estava rouca.

     Amber ficou em silêncio por alguns instantes:

     ― Não fique chateada comigo, mas eu contei a Cindy o que aconteceu.

     ― O quê? –Afastei a coberta, me sentando para olha-la- Obrigada Amber, por contar a todos a forma épica como eu fui traída!

     ― Manu, ela é sua amiga! Ela precisava saber, até porque seria super chato vocês dois estarem na festa de aniversário dela e ela cometer a gafe de achar que vocês dois ainda são um casal!

     ― Isso nunca aconteceria. –Sai da cama, indo em direção ao banheiro.

     ― Como? –Amber me olhou sem entender.

     Parei, me virando para olhá-la:

     ― Eu não vou mais a festa da Cindy.

     ― O que? Mas por que?

     ― Porque o Eric é amigo do Jhosep e eu sei que se for, em algum momento eu vou acabar esbarrando com ele e vai ser demais pra mim, você entende? Eu vou me lembrar de tudo e tenho certeza que não vou suportar! –Meus olhos se encheram de lágrimas.

     Compreendendo o que eu estava sentindo, Amber caminhou até mim, me abraçando forte, o que foi o suficiente para que eu desabasse.

     Eu amava o Eric e durante o tempo que ficamos juntos, pensei que ele também me amasse, agora, sentia como se os dois anos que passamos juntos, não tivessem passado de uma perda de tempo, uma grande farsa e em meu subconsciente, me perguntei quantas vezes ele deveria ter me traído ao longo desse tempo.

     Apesar de estar sem disposição alguma para fazer qualquer coisa, depois de me acalmar um pouco, tomei uma ducha, vesti meu uniforme e fui para o hospital com a Amber.

     Passei a manhã e a tarde toda lá e sempre que recebia um paciente no meu consultório, sentia minhas forças se renovarem, era um sentimento inexplicável, principalmente agora, saber que eu era capaz de ajuda-los, parecia ser o único propósito da minha vida:

     ― Olá, será que eu posso entrar? –Amber disse parada a porta, logo após meu último paciente sair, deixando-a aberta.

     ― Claro –Disse, recolhendo os prontuários sobre minha mesa e os guardando em uma pasta.

     ― Posso perguntar como você está? –Ela entrou de braços cruzados, me encarando atentamente, a espera de uma resposta.

     ― Acho que você já perguntou, não é? –A ignorei por alguns instantes, percebendo que ela não sairia dali até saber exatamente como eu estava me sentindo- Na verdade, o trabalho me distraiu um pouco, mas sei que assim que chegar em casa e deitar na cama, eu vou desabar de novo, e isso é inevitável.

     ― Eu só poderei sair as oito, mas se você quiser eu posso pedir para sair um pouco mais cedo para ficar com você.

     ― Não se preocupe Amber, prometo não cometer nenhuma loucura nessas três horas em que ficarei sozinha. –Tentei sorrir, mas não consegui.

     ― Tem certeza? –Ela me encarou temerosa.

     — Tenho –Peguei minha pasta e dei um beijo na bochecha de Amber- Te vejo mais tarde.

     Apesar de ter me esforçado o dia todo para me manter firme, bastou o táxi passar em frente ao cinema em que Eric e eu nos beijamos pela primeira vez, para que eu percebesse que eu não era forte o suficiente para continuar fingindo que não me importava.

     Chorei baixinho no caminho até o apartamento de Amber e ao chegar, dei uma nota para o taxista, sem esperar pelo troco. Depois, caminhei até o quarto de visitas, vesti o meu pijama e me joguei na cama, chorando tudo o que tinha para chorar.

     Eram quase oito horas da noite, e eu estava abraçada ao travesseiro esperando minha respiração normalizar e a vermelhidão do meu rosto desaparecer depois de ter chorado tanto, quando Amber abriu a porta e entrou:

     ― Vamos, eu não aguento mais te ver assim! –Ela disse jogando uma mala de viagem ao meu lado.

     ― O que é isso? –Me sentei, a tempo de vê-la pegando algumas roupas minhas no guarda-roupas e as atirar sobre a cama.

     ― É óbvio não acha? –Ela me encarou com um sorriso- Faça as malas, estamos indo para Las Vegas!

     ― Mas o aniversário da Cindy é só no fim de semana, além disso eu já te expliquei porque não posso ir, tem também o hospital...

     ― Manu, não se preocupe com o trabalho, já conversei com o diretor do hospital e depois de explicar sua situação, ele nos deu todo o resto da semana de folga, além disso, como você mesma disse, o aniversário da Cindy é só no final da semana, então, para não se encontrar com o Eric, vamos adiantar nossa viagem, a Cindy terá que fazer duas festas e gastar um pouco mais, mas tudo bem, não é? –Amber riu.

     ― Vocês duas são demais, sabia? –A encarei, completamente emocionada.

     ― Sim, eu sei e a Cindy também sabe disso, mas a questão é que eu prefiro morrer a ter que continuar te vendo triste e deprimida, a vida é muito curta para ser vivida assim, Manu! –Ela pegou um vestido azul claro, o jogando para mim- Se vista baby, Las Vegas nos espera! 

O que acontece em Vegas, nem sempre fica em VegasWhere stories live. Discover now