Capítulo 4 - Lorenzo

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     ― Senhor Montenaro? –Minha secretária disse após entrar discretamente em meu escritório.

     Eu estava de pé, diante da minha mesa, desenhando a planta de um edifício para uma empresa estrangeira, que colocaria uma filial no Rio de Janeiro, um projeto importante que deveria ser planejado com cautela.

     Minha secretária continuou lá, parada, apenas me olhando:

     ― Senhor? –Ela chamou novamente.

     Deixei minha caneta sobre a mesa e a encarei impaciente:

     ― Você sabe que eu odeio ser interrompido quando estou trabalhando em um projeto, o que é tão importante para você me interromper deste modo? Que eu me lembre, não tenho nenhuma reunião agendada para hoje.

     ― Desculpe senhor, mas o corretor de imóveis está aqui para vê-lo. –Ela corou, o que só serviu para me deixar ainda mais irritado.

     ― E o que você está esperando? –A olhei inquieto- Mande-o entrar.

     ― Claro senhor. –Ele fez um maneio de cabeça e saiu de forma desajeitada do meu escritório, suas bochechas mais coradas do que antes.

     Levou alguns instantes até que o corretor entrasse:

     ― Olá senhor Lorenzo, como vai? –Ele passou sua maleta da mão direita, para a esquerda me cumprimentado.

     ― Estou muito bem, obrigado –O cumprimentei- Por favor, André, sente-se. –Apontei a cadeira, enquanto me movia para o outro lado da minha mesa, me sentando- E então, tem boas notícias para mim? –Me recostei em minha poltrona, o olhando atentamente.

     ― As melhores senhor! –Ele disse animado- O cliente aceitou fechar a compra da casa pelo valor proposto.

     ― Isto é ótimo! –Disse- Você já providenciou toda a papelada? Para que possamos oficializar a venda?

     ― Sim, mas eu não sabia que o senhor era casado, então precisarei que sua esposa também assine os documentos.

     ― O quê? –Arqueei minhas sobrancelhas, incrédulo- Eu não sou casado.

     ― Como assim? –O corretor disse ainda mais confuso- Me desculpe senhor, mas no cartório, seu estado civil consta como casado com a senhorita Manuela Duarte.

     ― Não pode ser, eu não conheço ninguém com esse nome.

     ― Tem certeza? Talvez seja de algum relacionamento antigo do qual o senhor tenha saído e o cartório possa ter cometido o equívoco de não atualizar seu novo estado civil... –Ele tentava encontrar alguma explicação.

     ― Não André –O interrompi- Isso é impossível, eu nunca fui casado na minha vida antes! Eu sequer faço ideia de quem seja essa mulher!

     ― Isso é estranho...

     ― Não se preocupe, eu irie ao cartório mais tarde para tirar a limpo essa história, é inadmissível que eles possam ter cometido um erro tão grave assim! –Disse inconformado com tamanha incompetência- Diga ao cliente que até o fim da semana, a casa será dele.

     ― Tudo bem senhor, obrigado. –André disse, se retirando.

     Fiquei parado durante alguns instantes, pensando em como um absurdo daqueles poderia ter acontecido justamente comigo. Eu não conhecia nenhuma Manuela e muito menos havia me casado com uma, o fato é que eu não conseguia me imaginar casado com ninguém, o que de certo modo, tornava toda a situação ainda mais absurda:

     ― Bom dia, chefinho! –David disse entrando em meu escritório com alguns papéis em mãos, vestido em seu terno vinho estonteante- Trouxe algumas ideias para o novo edifício que está planejando.

     ― Agora não é uma boa hora.

     ― Você não quer falar de trabalho? –Ele disse zombeteiro- Está tudo bem? Você não está com uma cara nada boa.

     ― Eu vou precisar sair e preciso que você tome conta de tudo até eu voltar –Disse apanhando meu paletó de cima da cadeira e o vestindo- O prefeito virá para falar sobre a construção de uma nova ponte, peça para ele me aguardar, não devo demorar muito.

     ― Tá, mas aonde você vai? –David me olhou confuso.

     ― Ao cartório –Me virei o olhando, ainda achando tudo aquilo bastante surreal- acredita que eles cometeram o terrível engano de preencher o meu estado civil dizendo que sou casado?

     ― Ca... Casado? –David disse com os olhos arregalados.

     ― Por que o espanto? Você sabe que eu nunca me casei antes.

     ― Eu sei, mas... –Ele engoliu em seco.

     ― Agora por causa de todo essa babaquice, eu não estou conseguindo vender minha casa.

     ― O nome dessa sua suposta esposa não é Manuela Duarte, é? –David disse de repente, seu rosto estava inquieto e gotículas de suor começavam a se formar em sua testa.

     ― Sim, como você sabe? –Coloquei as mãos nos bolsos da minha calça, voltando meu olhar para ele.

     ― Porque você se casou com ela no mês passado, em uma capela em Las Vegas, com direito a um show particular do Elvis Presley e tudo.

     ― Isso é loucura! Eu nunca estive em Vegas antes! –Disse deslizando minhas mãos por meus cabelos, impaciente.

     David baixou a cabeça por alguns instantes e quando me olhou, seus olhos esbanjavam culpa:

     ― Você não, mas eu estive.

O que acontece em Vegas, nem sempre fica em VegasWhere stories live. Discover now