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Após notar a saída de Lauren e a expressão sem graça de todos na mesa, resolvi levantar e ir atrás dela mesmo sabendo que não iria adiantar de nada. Se há uma coisa em comum entre todas as pessoas, é o fato de que elas odeiam conversas após um momento desgastante, mas eu sem dúvidas precisava arriscar em pró da morena dos olhos mais lindos de todos.

Fui até a sala da coordenação do abrigo, pedir encarecidamente que a tirassem da solitária, alegando ter sido uma briga boba por conta da explosão de sentimentos causada pela nossa mudança tão recente pra cá. Implorei quase de que joelhos, tentando convencê-los de que estaria em problemas maiores se ela continuasse lá, afinal, me considerariam uma encrenqueira.

Felizmente Deus ouviu minhas súplicas e a guarda que estava trabalhando naquele turno, foi boazinha o suficiente pra dizer que liberaria Lauren, mas só daquela vez.

Eu percebi como ela pensava e regia de uma maneira muito diferente das pessoas com as quais eu convivi. Percebi que para Lauren, um alfinete ao cair no chão poderia significar uma bomba nuclear, que ela sentia mais do que qualquer um, e que ela poderia se irritar mais do que o necessário. Mas eu não a deixaria de lado outra vez, era uma quase promessa que eu havia feito para mim mesma, internamente seguindo o pressentimento de que ela realmente falava a verdade.

Por que "quase" ?

Porque eu jamais tinha certeza de quem eu poderia ser no dia seguinte. Se tratando de Camila Cabello, tudo poderia ser esperado. Pelo que havia notado, éramos duas peças de um quebra-cabeça diferente rejeitado pela sociedade, e que de certa forma se encaixavam mesmo com as suas diferenças de ilustrações. Eu não tinha certeza sobre nada em minha vida, desde que tudo havia mudado drasticamente, mas uma coisa, a qual eu nunca teria dúvidas é de que eu gostava daquela garota, mesmo com todos os seus extremos, bons ou ruins.

Afinal, o sentimento é para se sentir, não pra entender.

Pelo contrário, infelizmente seu meio de convívio teve um peso muito grande na sua personalidade, mas nunca tirando a sua real essência. Bastava olhar nos olhos dela, que eu enxergava a verdadeira menina que daria qualquer coisa para sair de sua casca.

Espera, o que eu estava pensando? Eu sabia de algo, eu estava tendo uma breve noção de tudo. Vamos, Camila!

Levei a mão ao meu bolso e puxei de lá um de meus comprimidos, o engolindo à seco devido ao pequeno momento onde senti meu corpo formigar de uma maneira nervosa.

Se você tem o hábito de não culpar os outros, sentirá o aumento da capacidade de amar em sua alma.

E era exatamente o que eu sentia, passo após passo, procurando-a pelos corredores. Os mesmos estavam limpos, porém eram escuros e estreitos demais. Aquela sensação conhecida por mim, de estar cercada de branco e completamente sozinha nas celas solitárias estava começando a crescer, a cada parede branca avistada. Não havia nenhuma cor ali, nenhum cartaz ou quadro, somente o branco que reluzia com a fraca iluminação improvisada por lâmpadas velhas. Nas quinas entre as paredes e o teto, uma fina teia de aranha era esculpida pelo pequeno inseto negro, fio após fio, com muita paciência tirando assim a monotonia daquele lugar. No corredor à direita haviam algumas portas, estas levando ao escritório dos psicólogos, às salas de televisão, ao quarto de limpeza e alguns outros eu ainda não havia decifrado por conta das cortinas fechadas pelo lado de dentro. Ao me aproximar do local recheado de esfregões e produtos variados, ouvi suspiros pesados e fechei os olhos. Ela estava ali.

"Tão previsível" - Pensei comigo mesma.

Girei a maçaneta tomando todo o cuidado necessário para não chamar atenção desnecessária de qualquer outra detenta, ou guarda que pudesse estar por perto. Ao entrar, tentando enxergar na mais completa escuridão, tornei a fechar a porta e me sentei, escorregando as costas pelo objeto de madeira.

SadicistWhere stories live. Discover now