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- E depois disso, o que aconteceu? – A psicóloga perguntou.

- Bem, eu já havia confessado o crime. Não tinha mais nada o que fazer, então eles só me levaram até o abrigo para menores infratores, sabe? – Perguntei e ela assentiu. Era o lugar onde eu deveria ficar junto com outros jovens criminosos.

O estado da Flórida era um dos poucos que considerava outras decisões em julgamento de menores, os outros normalmente enviavam-nos diretamente para a prisão. Eu dei a sorte de estar exatamente aqui. Mas só por alguns anos, segundo a explicação do policial até, quando eu completasse a idade suficiente para ser mandada para a prisão real, no caso, dezesseis anos.

- Pelo que sei, você está no abrigo ainda, não é? – A mulher me perguntou e eu assenti sorrindo. O local não era tão ruim, tinha comida para todos, chuveiros, camas e o básico para a sobrevivência de um ser humano. A única parte ruim eram as detentas da prisão máxima que nos colocavam medo à todo instante.

- Sim, estou na ala C com outras meninas latinas. – Disse jogando os ombros. Não gostava de ser separada das outras, me sentia como um objeto ou talvez um rebanho de gado, todas éramos separadas por etnia por ali, ao menos na hora de dormir. No resto do tempo podíamos circular livremente.

- Você gosta de ficar no abrigo?

- Gosto sim, eu faço diversas atividades além do acompanhamento psicológico com a senhora. A única coisa que eu gostaria de saber, é onde estão os meus pais. – Perguntei aflita.

A psicóloga pigarreou, parecia desconfortável com a pergunta e eu entendi que algo estava acontecendo. Eu odiava o fato de ter diversas informações escondidas, eles não tinham esse direito! Chutei a parte inferior da mesa, e saí da sala bufando. Eu já estava á horas conversando com aquela mulher e sabia muito bem que todo aquele blá blá blá não ia dar em absolutamente nada. Eu ainda tinha vontade de estrangular qualquer um que implicasse comigo, mas o bom de estar ali é que todos sabiam o que eu havia feito. E ninguém se atrevia a mexer comigo. Pela primeira vez eu estava sendo respeitada, de uma maneira ruim, ou não.

[...]

- Detenta Cabello, uma pequena visita pra você. – O policial do dia do acidente veio me chamar. O seu nome era Richard. O mesmo era alto, tinha um bigode e uma barba bem feitos, e um porte físico não muito forte. Um típico policial, eu diria, se não fossem os desenhos animados para pintá-los como gordos comedores de rosquinha.

Eu levantei do chão e amarrei os cadarços do meu coturno. Dei a mão à  ele e segui até a sala de visitas, onde meus olhos se arregalaram ao ver a bebê sentada numa cadeirinha especial.

- SOFI! – Exclamei me soltando de Richard e correndo até ela. – Oh meu Deus! Eu não acredito que conseguiram te pegar, meu bebê! – Eu brincava com ela, e a pequena sorria sem os dentinhos. Era a coisa mais fofa desse mundo, e eu estava muito feliz em vê-la.

- Nós conseguimos resgatá-la, Cabello. – Richard disse sorrindo. – Ela foi uma menina muito forte, e resistiu à tudo o que encontramos por lá. Agora ela estará segura. – Disse passando a mão na cabecinha careca dela.

Não hesitei em abraçá-lo com todas as minhas forças. Ele não havia quebrado a nossa promessa, Sofia estava bem e ali em minha frente. A pequena estava vestida em um vestidinho azul e tinha um lacinho branco na cabeça, nos pés delicados sapatilhas brancas com bolinhas azuis. Uma digna princesinha. Eu não reconhecia aquela roupinha dentre as que ela tinha – que eram muito poucas – mas se ela estava bonita, estava tudo bem.

- Como está o bebê da irmã? Você se comportou enquanto eu estive fora, é? – Brincava segurando os dedinhos dela. Com ajuda, a tirei da cadeirinha e pude segurá-la no colo. Ela ria atraindo a atenção de outros visitantes que paravam suas conversas para admirá-la. Era o meu orgulho, e eu faria qualquer coisa para vê-la bem. –Com quem ela está, senhor?

- Bem, as condições em sua casa não estavam nada plenas para uma criança de meses, detenta. – Ele disse e um nó se formou em sua garganta. Alguma coisa séria tinha acontecido e nenhum deles havia tido a coragem para me contar. – Conseguimos o contato de seus avós que se disponibilizaram a ficar com a guarda dela. Sofia vai pro México.

Meu coração se apertou ao escutar aquilo. Eu iria ficar separada dela pra sempre! Não era como se a vovó e o vovô não viessem pra Flórida em todo dia de visita, ou seja, eu iria perder o crescimento do meu anjinho. Mas no fundo, eu sabia que ia ser o melhor pra ela, crescer longe de tudo isso.

- A vovó? – Disse e meus olhos se encheram de lágrimas.

O que ela deveria estar pensando de mim?! Sua primeira neta, a princesinha cubana, como ela costumava chamar, estava presa por matar trinta pessoas. A vergonha tomou conta de mim, então me pus a chorar. Sofia mudou totalmente a expressão para uma extremamente confusa, e começou a passar as mãozinhas pelos meus olhos na tentativa de me acalmar. Sorri pra ela e a abracei, tendo o aviso do guarda:

- O horário de visitas acabou.

E antes que eu pudesse reivindicar, Sofia foi tirada dos meus braços por uma guarda, e Richard me levou de volta para dentro.

[...]

- E aí, garota?! – Uma menina alta me cutucou. – Cabello, não é? – Ela dizia de forma debochada.

- Sim, porque? – Perguntei a encarando.

- Fiquei sabendo que você mete medo em diversas pessoas, e vim comprovar se você é tudo isso o que dizem. – A menina falava rindo, e gesticulava seus braços de maneira desordenada.

- Pois bem, você já deve saber o motivo de eu ter vindo pra cá, agora sentir ou não se sentir ameaçada por mim, já é uma particularidade sua. – Respondi estalando os dedos da mão.

Eu não ia deixar uma simples garota alta debochar de mim.

- Além de tudo é abusadinha, é? – Ela riu. – Fui criada no Brooklyn, bebê. Posso te esmagar com um dedo!

- Fui criada em Cuba e matei trinta pessoas, enquanto você eu suspeito que tenha roubado o mercadinho da esquina. Vemos aqui que locais de criação não definem as atitudes de ninguém. – Disse encarando-a cada vez mais de perto.

A garota bufou de raiva e em menos de um segundo um soco foi desferido em meu rosto, me levando ao chão. Mas como toda ação tem sua reação, tratei de me levantar e pular em cima dela com toda a minha raiva.

- Não mexa com quem está quieto. –Disse raivosa e segurei a cabeça dela, batendo-a no chão diversas vezes. – Você mexeu com a pessoa errada! Eu odeio pessoas como você que se acham as maiorais por seu tamanho, mas se esquecem que tamanho não é documento! – Me levantei chutando suas costelas. – Eu odeio gente como você! EU ODEIO! – Pulei de joelhos em seu estômago e comecei a estapeá-la, quando um guarda chegou apitando o mais alto possível.

- SAIA JÁ DE CIMA DELA! PAROU A BRIGA! – Ele jogou uma pra cada lado, e eu caí em minha cama respirando ofegante.

- Ela começou. – Disse apontando pra garota completamente ferida.

- Eu não perguntei nada, detenta. – O policial chegou perto de mim nervoso. O mesmo pegou seu walkie talkie e chamou outros para o ajudarem. – Você, pra enfermaria. E você, detenta.. Solitária pra aprender a ser menos agressiva.

Parabéns Camila, sua primeira semana e você já vai pra solitária. Mas antes de rir, fiz questão de cuspir no rosto daquela fútil. Eu nunca mais deixaria ninguém mexer comigo.

Ninguém.

SadicistOnde as histórias ganham vida. Descobre agora