Oblívio

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O homem fome come papel

Na rua

O cão filhote morre seco

Abandonado na chuva

Pequeno gato esmagado

Por um rato!

Por um roedor desajustado

Que deve gostar do som do veículo muito alto

Que deve se importar deveras consigo

Porém, que se mataria pelo próprio carro


Mortos ainda vivos

Mortos que não foram mortos

Num paralelepípedo da estrada

Tripas, estranhas

Olhos esbugalhados; mortos


Na calçada o esquecimento dorme

Não lembra do que é

Muito menos do que já fora

Numa vida; ontem; num dia

Eles sofrem na pele

Sentem como ninguém o escárnio de sua biografia

Da madrasta miséria

Que nunca será plenamente descrita

Pela fala ou pela escrita

Ou pelo simples horror lírico de um poeta

Devaneios DecadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora