Abrigo

36 9 6
                                    


Vivo em um oceano, clichê e ainda distinto

Estou à deriva, estou afundando

Furei o meu barco com meus defeitos, meus dissídios

Mandei aves voarem e disse:

– Encontrem para mim uma terra nova!

E regressaram outra vez até mim

Trazendo notícias de males pela aurora


Tampei o espaço com aquilo que pude

Achei em escritos o que o mar não me deu

Rasguei o contrato e à mim disse:

– Mude!

Mudei o bastante para ainda ser eu


Não tenho vista da terra prometida

E se as aves voarem creio que morrerão no ar

Por agora nenhuma coberta me abriga

E sem uma margem, faço da cabeça o meu lugar

Consumo o meu ser e o mundo me consome

Tenho muito a dizer, e além de mim, só o papel para escutar


Devaneios DecadentesWhere stories live. Discover now