Lúcifer no entanto gargalhava, havia conseguido espalhar as trevas através das criações de Deus, que eram fracas e tolas.

Gabriel e Miguel eram os anjos mais fortes, companheiros de Deus, sendo Miguel o seu braço direito, e Gabriel seu braço esquerdo. Gabriel sempre foi o mais alegre, brincalhão, que sempre sorria para todos seus companheiros. Com isso, Gabriel acabou conquistando a amizade do filho de Deus, Jesus. Porém Gabriel não gostava nem um pouco dos humanos.

Diante de tantas maldades, Deus precisava de alguma forma, limpar o pecado da terra. No entanto, ele determinou que o salário seria a morte, e quem na terra morreria para que os pecados de seus irmãos fossem perdoados?

Deus estava decidido a acabar com toda humanidade; já tinha o feito, com o dilúvio, mas novamente o pecado tomou conta.

Jesus, assim como seu pai, amava os humanos, então se ofereceu para fazer tal sacrifício. Deus relutou, sabia que seu filho voltaria, mas também sabia que ele sofreria devido a crueldade dos humanos. Jesus insistiu e seu pai lhe mandou à terra como um humano. Como homem comum, ele cresceu, deixou seus milagres, porém a maldade dos humanos não tinha limites. Por isso, sofreu e morreu na cruz, cumprindo a determinação de Deus e perdoando todo o pecado dos humanos.

Porém, como as pessoas daquela época viviam centenas de anos, a lei: "o salário do pecado é a morte" demorava para ser comprida, e por isso os pecados se acumulavam, gerando todo aquele caos. Devido a isso, após Jesus morrer, os humanos passaram a viver bem menos, com uma média de um século de vida.

Gabriel chorou ao ver seu amigo sofrer tanto. Quando Jesus retornou aos céus, a primeira coisa que Gabriel notou foi os buracos em suas mãos. Ficou indignado com aquilo "por que Deus ainda amava os homens? "Ele se perguntava. Sua raiva pelos humanos foi pouco a pouco se tornado ódio, e um sentimento tão maligno como esse logo chamaria a atenção de Lúcifer.

— Posso sentir sua raiva mesmo de minha morada, caro anjo. — Gabriel ouviu uma voz gutural e assustadora. Virou-se para trás, se deparando com uma figura sombria, de traje negro, cujo capuz cobria  a cabeça. Era impossível ver sua face devido a escuridão que assolava o interior do capuz, porém dois pontos vermelhos e brilhantes podiam ser notados; os olhos que tudo viam. — Porque visitaste essa terra amaldiçoada? — Perguntou se referindo a Terra. Gabriel olhou para frente, observando a grande cidade de Jerusalém.

— Terra que meu pai criou, criatura horrenda, não ouse ofendê-la novamente. —. Lúcifer gargalhou, sua risada ecoou várias vozes além da dele, tornando-a mais apavorante ainda.

— Você não gosta desses humanos, não é? Só seu pai os ama. Para você, eles nunca deveriam ter existido. — Gabriel se virou novamente, suas asas brancas e incandescentes saltaram de suas costas. Lúcifer levou as mãos ao rosto, tentando se esconder daquela claridade. — Você não acha injusto? Cometer tantos pecados e depois pedir perdão a Deus para ter a salvação? — Inqueriu em voz fraca.

Aquela frase chamou a atenção de anjo, por isso Gabriel conteve o brilho de sua asa o olhando surpreso. Lúcifer recompôs sua postura continuando a falar:

— Matar, abusar, torturar, são coisas que os humanos fazem muito bem. Porém quando morrem, só pedem perdão e são salvos. "O salário do pecado e a morte", porém o sofrimento que eles causaram continuam marcados no pó da terra. — Completou desaparecendo em uma névoa escura.

Gabriel se virou para Jerusalém, a encarou uma última vez, antes de voltar para os céus.

Gabriel foi até Miguel, no fundo ele concordava com o que Lúcifer havia dito a ele, e queria compartilhar sua opinião. Miguel o repreendeu, achando o pensamento de Gabriel uma afronta as Divindades. Porém Gabriel permaneceu com aquilo na cabeça, mas preferiu não se manifestar. Entretanto, Deus já conhecia o que se passava no coração no anjo.

Anjos do AnoitecerWhere stories live. Discover now