Contra as minhas expectativas, eu senti seu corpo envolver o meu em um abraço reconfortante. Aquela sensação que eu tinha com seus braços em volta de mim era a coisa mais próxima de algo bom que eu tinha tido nos últimos meses. E, por mais que eu gostasse do calor que ele transmitia, eu sabia que aquilo estava errado. Eu não poderia me sentir assim por uma pessoa que não conheço.

Pensando assim, mais uma vez, eu me afastei dele.

─ Desculpe ─ pede, passando as mãos entre os fios dos seus cabelos. ─ Eu ─ diz, tentando se explicar, mas, não há exatamente uma explicação, e ele entende.

Contra fatos, não há argumentos.

─ Esses filmes me deixam emocionada ─ digo, limpando o rastro agora frio de lágrimas que já foram quentes. ─ Obrigada ─ murmuro, experimentando estar sob seus olhos naquela pouca iluminação ─, pelo filme, pelo chocolate, foi um bom dia.

Não espero qualquer resposta dele, pego a caixa que havia escorregado para entre nós dois, minha mão deixa o calor da proximidade da sua e deslizo devagar pelo espaço até a porta. Nos meus pensamentos, eu tinha uma certeza, ele desperta coisas incertas em mim e isso está longe de ser uma coisa boa neste momento.

***

Alguns meses antes

─ Venha comigo, Tamara ─ diz, estendendo sua mão pra mim. ─ Vamos, Tamara!

─ James, eu não posso fazer isso, por favor ─ suplico, mais uma de muitas outras vezes ─, James...

─ Não se preocupe, querida. Ele será bom para você.

─ Ele está me comprando, idiota! ─ digo, exasperada, tentando tirar suas mãos de cima de mim. ─ Como você supõe que ele será bom comigo, quando está me levando para deixar você livre?

─ Ele... ─ tenta, airando suas desculpas em cima de mim, ao que o corto.

─ Papai não permitiria que você fizesse algo assim comigo ─ apelo, à vezes funcionava, mas, em dias como hoje, isso não queria dizer nada pra ele.

─ E, adivinha só, o papai não está mais aqui ─ grita, me assustando, me fazendo me encolher sob seu olhar.

─ Se ele estivesse...

─ Mas, não está ─ repete, amargo. ─ Então, cale a boca ─ manda, erguendo sua mão para o meu rosto, mas, se arrepende. ─ Não posso machucar seu rosto, ele gosta bastante dessas têmporas coradas. Venha comigo!

***

Quanto tempo até me acharem? Voltar pra casa não é uma opção e eu não tenho como ir para nenhum outro lugar. Precisava voltar para a cidade, me esconder em algum lugar em que eu possa trabalhar, ter o bastante para desaparecer de vista da cidade assombrada. Ir embora pra sempre. Deixar tudo.

Olho em volta da sala, meus olhos se fixam na porta, a chuva parou lá fora, eu poderia ir caminhando para a cidade. Ele nem precisaria saber que eu fui embora. Olho para a caixa em minhas mãos, para a direção em que eu vim e, finalmente, para a escada. Depois, novamente, para a porta. Coragem. Eu precisava de uma caixa disso.

─ Se quiser ir, eu posso levá-la ─ murmura, bem atrás de mim, me fazendo pular em susto ─, mas, eu tenho uma proposta. Você pode ouvir?

Afasto os fios que caíram sobre o meu rosto e me viro devagar para ele, um pouco receosa do que pode estar por vir. A palavra "proposta" saindo dos lábios de homens não costuma ser boa coisa.

─ Claro ─ digo, tentando um sorriso mal sucedido.

─ Bom, venha comigo!

Eu o acompanho em um pequeno tour por um corredor mais escuro, no final dele há um enorme salão constituído de dois andares e eu não pude esconder meu espanto quando o observei. Biblioteca não poderia ser um nome adequado para o que vi. As paredes eram todas adornadas por estantes enfeitadas com livros de todos os tipos, do teto muito alto pendia um enorme lustre em tons escuros, assim como o enorme tapete que cobria o piso, algumas mesas, poltronas e sofás foram espalhados estrategicamente.

─ Agora sei para onde veio a bagunça da sala ─ digo, observando as caixas espalhadas, me distraindo apenas pelo som rouco e já familiar de sua risada.

─ Esta sala passou por uma reparação recentemente ─ expõe, andando pela sala até a escada que começava no canto ─, o resultado foi satisfatório, porém, sem a minha presença, alguns acervos foram modificado, livros trocados de lugar, se espalharam, se misturaram e eu ainda preciso de espaço para os livros nas caixas lá em baixo ─ diz, apontando para o piso enquanto subimos a longa escada coberta por tapeçaria escura.

E eu achando que a cozinha era o melhor lugar da casa.

─ Preciso de alguém que tenha paixão pelo que está preste a fazer e, neste momento, não conheço alguém que se encaixe melhor no requisito do que você, Tamara. ─ A sua voz, meu nome como som dela, é inebriante. ─ Minha proposta é que fique e trabalhe comigo nisso.

Minha cabeça rodava sob os vários pontos, enumerando uma lista complexa sobre coisas que eu tinha a ganhar e a perder. Se eu sair, eu não sei o que posso enfrentar sozinha, talvez até a morte. Ficando aqui, eu estaria escondida atrás destas paredes, obscurecida pela reserva do dono da propriedade e longe dos olhos das pessoas que podem estar me procurando nesse momento.

Seus olhos brilham ao me olhar com expectativa. Estaria perto de algo que eu gosto muito: livros. E estaria perto de Dominic ─ dizem os meus pensamentos traidores.

E aí, pessoas?! Me contam o que estão achando? 

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E aí, pessoas?! Me contam o que estão achando? 

No próximo capítulo, Dom nos revela coisas novas.

Simplesmente Dominic - Samuell's - Livro IWhere stories live. Discover now