Capítulo 1

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O mundo estava calado.

Não se ouvia uma única voz. Nem mesmo o barulho do vento. O calor havia chegado e trouxera consigo uma seca devastadora que assolava todo o continente desde a chegada dos poderosos triângulos. ELES costumavam reinar em um reino muito distante, mas a sede pelo poder fez com que conquistassem muitos países. Esta pequena cidade, inclusive. No momento em que chegaram, o reino foi devastado. As pessoas foram obrigadas a se ajoelharem diante de um rei perverso que não mede esforços para matar todos os que não são iguais a ele.

O povo sofre. Não há vestígios de mudança. Não há ninguém para ajudar, não quando a herdeira do trono está perdida e o herdeiro é o filho do rei destruidor.

Naquele silêncio assustador, uma voz ecoou como se estivesse a muito perdida. O grito de algo ou alguém se libertando depois de tanto tempo enjaulado. Ninguém soube dizer de onde vinha o som e por um segundo, agradeceram que o rei estivesse longe e não pudesse ouvir. Mesmo com medo, o povo queria saber de onde vinha o barulho aterrador que parecia surgir dos mais altos ventos, do lugar mais longe que se pode imaginar.

E ali, dentro daquele castelo assombroso, nas profundezas, alguém libertou uma garota depois de tantos anos. Ela estava presa em um tubo com água gelada, o que fez sua pele se conservar e se acostumar com o frio. Ela gritou tão alto quanto podia como se estivesse se esvaindo das dores. Com o corpo ainda formigando pela dormência, a garota andou tropeçando, a procura de uma saída, mas no meio disso, encontrou um corredor de espelhos... De súbito, deu um salto para trás e medo começou a dominar-lhe, pois bem ali diante dela, havia uma imagem quase irreconhecível de uma mulher. Não! Aquela era ela. E ela não reconhecia, pois quando foi presa era apenas uma criança. Mas, seus olhos como duas luas muito cinzas a fez reconhecer-se. Ela não pôde negar o quanto mudou e nem o quanto não se lembra de nada.

Ela consegue achar a saída quase instantaneamente e isso a faz estremecer, pois de alguma forma, ela sente que já passou por este mesmo lugar muitas vezes. Do lado de fora da torre gélida, olha para o castelo, observando cada detalhe como se nunca tivesse visto nada igual. Torres por todos os lados, janelas de vidro azul, pedras por todos os lados formando um emaranhado de esculturas. Tudo está confuso em sua mente. Ela tenta se lembrar onde está, como foi parar ali e o porquê está ali. Neste instante, se lembra como chamavam o castelo: ''Portões do inferno''.

A garota sorri e observa a cidade a sua volta. Ela não reconhece. Na verdade, ela não se lembra de nada. E como pode recordar? Tudo mudou desde que foi presa. O mundo era belo, mas a beleza foi proibida por aqueles que não conseguiam enxerga-la. Todas as cores sumiram, as plantas não ousam crescer e o sol secara todos os ramos de alimento.

Ela avista um carro e o liga para depois no instante seguinte, se surpreender por tê-lo roubado e por saber dirigir. Como? A garota não sabe. Isso a deixa com mais medo ainda, mas ela precisa fugir e afasta esse sentimento prometendo pensar nisso mais tarde. É neste instante que se pergunta quem ela é e para onde ir.

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