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Ele acordou algumas horas depois, grogue, com os olhos grudados e instantaneamente ciente de que havia algo errado. Ele rolou e claro, o lado de Gerard na cama estava vazio e gelado, e havia uma pequena fresta de luz passando por baixo da porta vinda da sala de estar.

Frank esfregou as mãos pelo rosto e suspirou, antes de sair da cama e abrir a porta. "Gee, que inferno."

Gerard estava sentado em uma cadeira com as costas viradas para Frank. Ele nem mesmo se virou para olhar, provavelmente muito absorto na porra do seu livro, como sempre.

Frank marchou atrás dele. "Isso é ridículo, Gerard. Eu tento ser paciente com você, Deus sabe como, mas não é irracional da minha parte esperar que você durma uma noite inteira na maldita cama!" Frank alcançou a cadeira no mesmo instante em que Gerard se virou para o encarar.

Ele não estava lendo. Ele estava completamente vestido, e ele estava usando o seu – "Você está usando o seu colarinho?" Frank ficou boquiaberto. "Essa é a porra de uma brincadeira? Porque eu não tenho palavras para expressar o quão sem graça isso é, cara."

Gerard não disse uma palavra. Ele apenas sorriu, e era estranho porque não parecia com o sorriso dele, parecia que ele estava usando o sorriso de outra pessoa, e Frank sentiu a raiva em suas veias ficar gelada e se transformar em outra coisa. A mão de Gerard mexeu, e os olhos de Frank foram puxados para ela; ele estava segurando o rosário, o rosário de Frank, e enquanto Frank observava em horror, a pele dos dedos de Gerard começou a endurecer e quebrar em todos os lugares que tocavam as contas de madeira.

"Não," disse Frank, dando um passo desajeitado para trás. "Não, nós te arrumamos, nós – eu te salvei."

"Me salvou?" Gerard riu, assistindo sua mão queimar com muito interesse. "É isso o que você pensa?"

Ele se levantou da cadeira e Frank se virou e correu, ou ele tentou, de qualquer forma, parecia que ele estava preso no chão, ele não conseguia se afastar, e quando ele abriu a boca, a mão de Gerard a cobriu, abafando o som.

"Não grite," ele sussurrou, e em seguida Luke estava lá, avançando em Frank com suas mãos esticadas, um sorriso maníaco em seu rosto enrugado com olhos vazios.

"Frankie, Frankie," ele murmurou com sua voz velha e rachada, e Frank lutou e chutou e mordeu, mas ele não conseguia se livrar, ele não conseguia – Gerard tinha sumido, ele tinha sumido de novo e dessa vez Frank não seria capaz de salvá-lo e tudo teria sido em vão, tudo teria sido em vão.

"Frank."

Os olhos de Frank se abriram e ele percebeu que Gerard estava bem na sua frente agora; Frank lançou um soco, que errou por um quilometro porque ele não conseguia se mover, era como se todos os membros dele estivessem cheios de areia.

"Frankie, sou eu," Gerard pegou as mãos dele e as segurou com firmeza. "Acorde, está tudo bem, foi apenas um sonho."

Frank balançou a cabeça; seu peito se elevou e seu coração estava batendo forte, suor gelado escorria por suas têmporas em direção a sua nuca. Ele lutou com Gerard; tentando o jogar da cama – mas eles não estavam na cama antes, eles estavam na sala de estar, e Gerard estava...

Frank engoliu o ácido em sua garganta e olhou para o abajur ao lado de sua cama. O rosário estava estendido sobre a sombra, onde ele tinha deixado, e Gerard estava vestindo pijama, não um colarinho.

"Era um sonho," Gerard repetiu, se aproximando de Frank nos lençóis encharcados de suor. Ele ainda estava segurando as mãos de Frank, mas soltou uma delas para segurar firmemente o ombro de Frank. "Apenas um sonho, querido, acabou agora."

"Você estava," Frank começou, e então apenas se curvou contra Gerard, que envolveu seus braços ao redor dele e o balançou um pouco.

"Acabou agora," ele repetiu suavemente, pressionando um beijo no cabelo de Frank. "Eu estou bem aqui."

Frank torceu o braço o bastante para tocar o lado de Gerard da cama, onde as cobertas estavam amontoadas. Estava gelado, e ele recuou. "Mas você não estava. Você foi ler na sala, não foi?"

Gerard abaixou a cabeça. "Você estava dormindo," ele disse de forma culpada. "Eu pensei que você não fosse notar."

"Yeah, bem." Frank o afastou um pouco e se curvou em uma bola, abraçando os joelhos perto do peito e apertando os olhos pela memória do sonho. "Eu notei."

"Eu sinto muito," Gerard foi se sentar perto dele, abraçando os próprios joelhos e imitando a pose de Frank. "Eu vim assim que te ouvi gritar."

Frank secou seu rosto contra o ombro e suspirou, olhando para o teto enquanto tentava encontrar um jeito de explicar para Gerard para que ele finalmente conseguisse entender. "Se você estivesse aqui, poderia ter me acordado assim que eu começasse a fazer qualquer som. Assim que o sonho começasse."

"Bem, na verdade, até o que parece ser um sonho realmente longo, pode durar apenas cinco minutos no tempo real," Gerard começou, e Frank não estava no clima para a porra das palestras dele agora, então ele começou a sair da cama mas Gerard o impediu. "Não, Frank, não faz isso, por favor, eu sinto muito, okay? Eu não vou fazer de novo."

"Gerard," Frank suspirou. Gerard estava tentando, Frank sabia que estava. "Só cala a boca e deita."

Gerard afastou as cobertas e deitou de conchinha atrás de Frank, o abraçando. Ele apoiou a bochecha contra a nuca de Frank. "O que foi? O sonho?"

Frank fechou os olhos e se pressionou contra a curva quente do corpo de Gerard. "Eu não quero falar sobre isso."

Gerard ficou quieto por um minuto. "Okay," ele disse, e Frank percebeu que ele sabia, mas não havia motivo para discutir isso. Eles já passaram por isso antes e só acabou com os dois tristes. Frank estava muito cansado e muito chateado e ele não tinha energia. Por outro lado, ele nunca voltaria a dormir com Gerard deitado atrás dele, todo tenso e triste e frustrado.

Frank se virou de frente para ele. Os olhos de Gerard estavam fechados e sua boca estava curvada para baixo nos cantos. Frank suspirou. "Está tudo certo," ele disse. Ele encontrou a cruz ao redor do pescoço de Gerard e entrelaçou os dedos na corrente. "Está tudo bem. Nós estamos bem."

Gerard balançou sua cabeça contra os travesseiros, e então abriu os olhos. "Eu só queria poder fazer eles pararem," ele disse ansiosamente. "Os sonhos. Eu queria poder encontrar um jeito."

Frank o calou. "Você pode – só, você pode estar aqui quando eu acordar. Okay?"

"Okay." Gerard assentiu com força. "Eu vou, Frankie. Eu prometo. Eu falo sério dessa vez."

Frank já tinha ouvido isso antes, então ele não tinha certeza se acreditava. Mas ele sabia que Gerard acreditava, e era isso o que contava, afinal.

*

Eu, sinceramente, acho esse um dos capítulos mais tristes, eu sinto uma dorzinha real.

Falta 1.


Heaven Help Us [Frerard]Onde histórias criam vida. Descubra agora