TRÊS - ENTREVISTA COM O VAMPIRO

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dois anos antes

Á G A T A

– Isso é muito estranho – disse Mauro olhando para os dois cadáveres no sofá.

– Demais – murmurou Ágata ainda impressionada com o que via.

Ágata e Mauro foram mandados até uma casa no bairro nobre da velha Itacorá depois de alguns vizinhos terem alertado a polícia sobre uma movimentação estranha na casa da família Gasparini. A vizinha mais próxima, uma senhora idosa de cabelos num corte Channel e que cheirava a ameixa, disse à polícia que havia escutado o barulho de algo quebrando e que ficou preocupada quando chamou pelos vizinhos e ninguém atendeu.

– O carro está na garagem há três dias – disse a senhora quando Ágata e Mauro chegaram. – Ninguém atende quando a gente chama e o cachorro no quintal dos fundos late noite e dia.

Ágata abriu o portão de ferro e encarou as paredes amarelas da casa. Ela escutou os pés fazendo um barulho suave ao andar pela entrada de cascalho até a grande área da frente. A grama do jardim estava bem aparada e as flores próximas ao muro estavam estranhamente alinhadas. Tudo estava num terrível e mórbido silêncio e de alguma forma aquilo a assustava.

– Otávio Gasparini não era médico ou coisa parecida? – Perguntou Mauro andando no mesmo tempo ao lado dela.

– Aposentado, eu acho – disse ela sem saber ao certo. Ágata tentou puxar algo na memória sobre Otávio Gasparini, mas só conseguiu lembrar vagamente de uma reportagem de dois dias atrás sobre ele ser um dos sócios da nova clínica de reprodução genética da cidade.

A porta da frente estava trancada e quando ninguém respondeu ao chamado de Mauro, ele a abriu com um chute.

– Merda – disse Ágata desviando o olhar por dois segundos.

Cerca de treze minutos depois a entrada da casa estava isolada com uma fita amarela e alguns policiais afastavam os curiosos que passavam e tentavam ver o que acontecia do lado de dentro. Uma mulher magra e pálida tomava o depoimento da mesma vizinha com quem Ágata havia conversado antes de entrar na cena do crime.

A cena do crime era uma elegante sala de estar. O sofá em U ficava no centro do cômodo de frente para um painel com uma TV de 42 polegadas, a TV estava desligada, assim como as luzes. No chão havia um tapete felpudo e bonito e nas janelas uma longa e pesada cortina, Ágata pensou que dava para comprar uma moto nova só com o dinheiro da tapeçaria.

As paredes eram num tom creme e estavam limpas. Atrás do sofá havia uma mesa de vidro com uma série de retratos de família e telefone, próximo ao sofá, estava fora do gancho.

– Parece que ele tentou pedir por ajuda – disse uma das peritas ao seu colega ajoelhado no chão.

A equipe de homicídios do departamento de polícia do condado de Itacorá trabalhava a todo vapor. O analista forense, um cara baixo e barrigudo que ficava enrolando seu bigode parecia bem desconectado com o caso, já que ele não havia encontrado um pingo de sangue se quer.

Ágata olhou para o cadáver de Otávio Gasparini próximo ao telefone. O corpo estava parado de forma como se ele tivesse caído no sofá, esticado o braço para pegar o telefone, mas morrido antes de dizer Alô. Heloísa Gasparini, a mulher dele, estava na outra ponta com metade do corpo caído do sofá. Ela usava uma calça social preta e uma blusa branca D&G.

Algum dos detetives veio e informou a tenente Maria, uma mulher negra e autoconfiante de que a casa estava completamente em ordem. Um dos peritos sugeriu que aquela era a cena de um assalto, mas Maria logo descartou a hipótese ao dizer que Heloísa continuava com os brincos de diamante nas orelhas.

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