(04) Life Is A Bitch

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-Espera... acho que já te vi antes daqui...  

      De repente as pecinhas começam á se juntar. Os cabelos... o rosto bem desenhado...

      Quando Hoseok entende o que está acontecendo, arregala o olhos e começa á se desesperar.

     ...o nome
        O escritor.

-Jung Hoseok? Aquele Jung Hoseok?!

      Deu-se por vencido, pronuncia:

-Sim... aquele Hoseok...o fracassado. 

-Como assim? Hyung me explique isso daí.  

-Podemos... sentar ali no fundo?.  – Sua voz fora abaixando conforme falava, o rosto tenso e lindo olhando ao redor, como se alguém indesejado pudesse colocar tudo á perder.

-Claro.   -Marcharam até a mesa mais afastada. Aquela bem no fundo que apenas os maus elementos ou nerds solitários frequentam. Essa mesma, mal habitada, com uma poeirinha á mais.

      Protegidos pelas gigantes estantes de mogno com os livros dando-os cobertura por detrás das capas ensebadas de couro, o mais velho suspira na expectativa de lançar toda a sua insegurança para os céus. 

     -É uma longa, longa história...  -pressiona a ponte do nariz com o polegar e indicador da mão direita.

    -Não é longa se começar do início. Tudo questão de perspectiva.

    - Oh, escreve também?

    -Err... Não. Nunca. Por que?

    -Gostei das suas palavras. Dignas de um poeta. Já leu Sócrates?  -Sua sobrancelha esquerda estava arqueada. O loirinho não percebeu que seu objetivo, na verdade, era mudar de assunto.

     O rato tinha que fugir das garras delicadas do passarinho.

    -Negativo... sou uma negação quando se trata de literatura no geral.  -Estava lisonjeado. Poxa não é todo dia que um escritor elogia suas palavras não é mesmo? 

    - Então como me conhece?   -Já estava mais calmo, o plano estava dando certo no final das contas...

     -Já li um livro seu. Inteiro, mais a metade do outro.

     -Quais, hein?  -Suspirou aliviado, conseguiu o enrolar.

    -O primeiro foi sua enciclopédia sobre grifos. Estou lendo uma ficção sua agora...qual mesmo? Ah sim, Filhos da Lua. Mas o hyung ainda não respondeu minha pergunta...

      Fodeu.

      Ele de certo não contava com os sentidos do passarinho.

      - Ora, m-mas que pergunta?.   -Príncipes odeiam gaguejar.  

     - Desentendido não combina contigo. É perceptível pelos livros, hyung.

      Novamente suspirou curvando o corpo pra frente, balançando os ombros de uma maneira melancólica. 

      -Fracasso combina comigo. Sabe por que escrevia tanto, saeng? Porque eu era péssimo em tudo. Tudo.

   -E as aulas de economia?  -Ele entendia nada do que estava rolando.

  -Eram até que boas...até o pico da crise. Sabe, alguns reinos passam por fome, outros pela sede, alguns como o seu não possuem tropas capazes de proteger a nação. O meu sofre com uma bolha econômica.   -Respondeu enterrando os dedos nos cabelos.

     -Que seria...?  -Realmente, não entendia nada desse assunto tão complicado e necessário.

    -Uma falha econômica, meu caro. Ocorreu quando meus “queridos” pais gastaram quase todas as reservas de dinheiro do reino em coisas fúteis e, por conseguinte, elevaram o preço das coisas lá em cima. Os cidadãos tem dinheiro, mas não conseguem e não podem gastá-lo...nem confiam mais nos próprios reis para pagar os impostos até porque os mesmos seriam usados para pagar as dívidas, não para serem revertidos para infraestrutura.    -Seu modo de falar era deveras teatral, deu para notar até mesmo o uso das aspas. Transmitia ideias de modo tão claro. 

      O Kim queria tanto ser assim.

-Entendi. Precisa de uma aliança para conseguir quitar algumas dívidas... enfim, entrar nos eixos né?.

-Isso mesmo.   -Talvez ele não seja tão burro assim. 

    Fora imposto um silêncio constrangedor no local, até o barulhinho de sapatos ecoar pelo imenso cômodo fazendo os presentes ficarem atentos.

-TaeTae! Estava te procurando, a rainha...   -Era Yoongi quem vinha de encontro á eles, parou ao se deparar com o Jung.

     Hoseok ficou tenso de repente, engoliu em seco e tentou desviar o olhar enquanto o Min cerrou o maxilar e encarou Taehyung com uma expressão dura.

-Vossa alteza te chama, Taehyung. Compareça ao  Tear após o término do seu trabalho.  -Após isto marchou batendo os pés e com o nariz empinado. 

    Ao desaparecer, as feições rígidas e  deveras assustadas de um deles não faziam o mesmo.

    -Hoseok Hyung? O que houve?

    Suspirou, pensando se realmente valeria a pena entregar tudo agora. Com seu conhecimento vasto sobre confiança e manobras políticas, limitou-se apenas á um:

   -Está tudo bem saeng... pera, donsaeng? Quantos anos você tem?.   -Mais um não acreditava no loirinho.

   -Tenho 21! Desculpa já ter te chamado assim...sabia que era mais velho por causa da biografia dos seus livros.

  -Faz sentido... mas diga-me, o que gosta de fazer nesse castelo? O lugar é tão grande... vazio, solitário. 

    Ambos gostariam de conhecer mais sobre o outro sem dar o braço á torcer.

   -Ando por aí, voo com os grifos... esse tipo de coisa.

   - V-Voar... como gosta disso? É tão... intenso! E o medo de cair?.   -O rato de biblioteca já começou á se desesperar apenas ao imaginar sendo levantado do chão.

   -Ah, hyung... meu medo mesmo é permanecer no chão.   -Ao dizer isto, seus olhos amendoados deslizaram até o relógio cuco ali perto. Já se passara dois minutos do término de seu tempo.

  -Gostei muito do papo, Jung. Mas preciso ir agora.  -Levantou-se bruscamente e andou rápido até a entrada/saída da biblioteca.

     Enquanto isso o mais velho é deixado estupefato, de olhos brilhantes devido as belas palavras do príncipe. Tirando Yoongi, Taehyung fora o único corajoso que conheceu.

   O povo de Blomma Falt era mais ligado ao intelecto e as artes, preferiam mil vezes manter os pés no chão do que arriscar se quer uma única pena de pégaso. Preferiam descobrir o mundo no ponto de vista dos outros através dos livros de suas estantes do que formar o próprio. Era mais fácil, no final das contas.

     E por isso, Hoseok estava encantado. Mais um universo para conhecer.

    Voltou para seu livro, colocando novamente o óculos fino de aro redondo, falando para o nada:

   -Eu gostei de você, Kim Taehyung. 
 
~~~~°☆~~~°☆~~~°☆~~~~°☆~~~°☆

   
        Nosso protagonista colocou suas longas pernas na potência máxima. Sabia como a mãe odiava atrasos, para ela pontualidade é a base de um bom governante.

     Oh, Taehyung não vai ser bom nem fodendo. 

      Encontrou a rainha, despida de coroa e maquiagem mas ainda em um belo vestido branco, sentada na frente de uma máquina  de costura. Hoje também era seu dia de trabalho.

    -Atrasado.   -Foi tudo que disse sem tirar a atenção de seu trabalho.

   -Peço desculpas, mamãe.

       A soberana sentiu o coração derreter com o  apelido carinhoso e triste ao se lembrar do primeiro filho. 

    -Venha aqui.  -Levantou-se, abrindo os braços.

     Como todos aqueles clichês medievais, nosso príncipe não tinha um bom relacionamento com o pai. Nem com a mãe para ser exato, no entanto era melhor que nada.

    O abraço de vossa majestade não é coisa mais calorosa do mundo, envolve-la nos braços é muito semelhante á trocar carícias com uma estátua de madeira. Dura, frígida... pelo menos o carinho que fazia no cabelo do filho deixava a coisa um pouco mais real.

     - Por que chamaste?

     - Queria conversar, apenas.

       Aí tinha coisa. Conversas nunca são só conversas, sempre tem algo á mais.

     - Sabe, seus possíveis sogros estão impacientes... já falou com eles?

     Ah claro, o que mais seria?

   -Acha que dá para conhecer alguém em um dia?   -Não preocupou-se se soava frio.

  -Aconteceu comigo e seu pai.  -A mulher deu sua resposta simplória, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Para ela realmente é, mas sabemos que Taehyung tem uma visão um pouco mais complexa de mundo.

  -Não sou assim, mãe. Casar agora? Para meu marido me trair com uma mulher ou até outro homem no futuro? Já não basta vosso marido dar vergonha á dinastia Kim?.   -Terminou a sentença com um sorrisinho cínico.

     Um pardal pode ter as mesma garras que um gavião.

    -Ah sim.   -A mãe exibe um sorriso perfeito e falso.  -Pode ir agora filho.

    O menino então curva-se e segue para outro lugar.

    “criança estúpida” pensou a rainha, fazendo uma cara de nojo. “ainda acha que vai conseguir amar algum deles?”.

  
   

      Enquanto isso... em outra parte do castelo.

      -O que estava falando com Taehyung?   -Um moreno de olhos felinos pergunta batendo ambas as mãos na mesa, á um ruivo de olhar pregado em páginas amareladas.

    - Y-Yoongi? O-o que?.   -Hoseok, que não havia parado de ler até aquele momento, se assustou com a chegada repentina do garoto que assombra seus pensamentos. 

   - Não se finja de desentendido , nerdinho. Você sabe bem do que estou falando.   -Seu olhar fazia o coração do mais novo saltar no próprio peito.

   -Pode ter certeza que passamos longe daquele... a-assunto...

   Quando proferiu a última palavra, Yoongi o segurou pela gola, levantando-o levemente. Seus narizes quase se encostando.

   -Se ele descobrir antes da hora, pode dar merda. Eu não vou perder essa aliança nem fodendo. Espero que seu reino exploda, desgraçado. Só assim aprenderá como foi viver aquelas poucas e boas.

     O mais novo não tinha forças para retrucar, apenas apreciou o baixinho de cabelos negros andar batendo os pés com força para fora do aposento.

     Impossibilitado de fazer qualquer coisa, voltou-se aos estudos. Ele era um rato medroso no final das contas.




       Taehyung queria apenas se desconectar do mundo. Das responsabilidades. Dos homens que rondavam seus pensamentos.

      Mesmo não querendo sabia que quanto mais rápido escolhesse, melhor. Todavia a incerteza do  que fazer em seguida o assustava mais que as lendas urbanas e rituais macabros de Wonderwell. O que faria? Deixaria que tudo seguisse um fluxo lento porém natural? Iria atrás de algum dos dois para conhecer mais? Já tinha falado com os dois, será que tinha um favoritismo, embora pouco, em algum deles?. Não fazia ideia.

      Respirando fundo, notando que tinha impregnado seu próprio quarto com energia nublada, reuniu forças para seguir até o jardim. Seus sapatos pareciam feitos de chumbo ao mesmo tempo que correntes invisíveis prendiam seu tronco á cama. Ignorando aqueles sintomas tão incómodos, foi até á porta do quarto e contando até três, seguiu adiante na sua tarefa árdua de simplesmente seguir em frente.

     Pois é... os espíritos estavam tirando uma com sua cara. Ao chegar no pedacinho verde de paraíso, lá estava o mais velho dos três príncipes. Suspirando, mas vendo ali uma chance de dar continuidade com sua tarefa, aproximou-se como quem não quer nada.

     - Mas que bela surpresa!  -Exclamou sentando ao lado do branquinho.

      O Min estava encarando o nada á sua frente com um olhar melancólico, pensando no que faria.

    -Ah oi, Taehyung.   -Tentou soar natural, exibindo seu sorriso gengival que o mais novo achou fofo. 

    -O que está fazendo aqui?   -Por um momento o outro aliviou-se ao não se deparar com o habitual “tudo bem?”. Todavia, demorou alguns segundos à mais para bolar uma resposta.

    -Apenas pensando mesmo... colocando às ideias no lugar...

    -Por...?

    -Porquê a vida é uma vadia, Tae. Uma vadia que precisamos dar beijos na bochecha e dizer o quanto é linda quando na verdade é uma baranga caindo aos pedaços.

       Não pôde deixar de rir, nunca se passara pela sua cabeça que o rabugento poderia ser engraçado quando quisesse.

     -Nisso tenho que concordar.  

    Então ficaram ali. O moreninho encarando os pés indo e vindo, suspensos entre o banquinho de madeira laranja do qual dividia com seu dongsaeng. O loirinho de olhos fechados e sorriso sem dentes  apreciando o silêncio.

     -Tae... tem algo que preciso te dizer...

     -O que foi, hyung?  -Ficou um pouco preocupado com o tom sério e pesado usado. Encarou o rosto redondinho e fofo do outro, esperando...

     -Como eu posso começar?  -Após isso, suspirou como juiz pronto para dar a palavra final.  -Foi á uns quatro anos atrás. Eu tinha um irmão mais velho.

     Tinha.

    -Min Cheol, ele era bom em tudo sabe? Alto, forte, atlético. Seu nome significa “ferro” e assim ele era. Inabalável. O terror dos dragões.

    Respirou para organizar os pensamentos em sua cabeça.

    -Eu como mais novo não tinha direito ao trono, sempre mantido nas sombras enquanto todo mundo lambia o chão por onde Cheol passava. Ele seria o rei perfeito e, como todo rei perfeito, precisa de uma rainha troféu para não fazer porra nenhuma... só obedecer.

      Incrivelmente interessado na história, seus olhos não se desgrudavam dele.

-Essa alguém, era a irmã de Hoseok. Jung Dawon. O casamento durou um ano até... aquele dia.  -Parou para encarar o mais novo, ele queria continuar e livrar o peso das costas. Mesmo correndo o risco de colocar tudo á perder.

    -Até...?   -Seus olhos faiscavam de curiosidade.

    -Até dragões gigantescos, Chamados titãs, saírem de seu sono de anos. Ninguém esperava por isso, não havia oscilação visível na fumaça que eles expeliam pelas narinas... nenhum tremor nas pálpebras... diga-me Taehyung, achou os lagartos do meu trambolho alado grandes?

     A imagem daqueles seres de escamas carmesim, suas línguas compridas e bifurcadas sentindo o ar ao redor como se estivessem procurando á presa mais próxima, aquelas narinas flamejantes ajudando na tarefa... sem falar das patas com garras letais, as asas robustas e o grosso rabo capaz de derrubar grupos de soldados inteiros apenas com um golpe. Aquelas máquinas de matar. 

    -Claro.

    -Pois os titãs são piores! Umas quatro vezes maiores. No meu reino existem três... Vesúvio, Éolo e Tiamat. Depois de acordarem, furiosos e com fome, a carnificina começou... destruíram quase tudo, as fazendas foram as que mais sofreram. No meio do caos, todos entrando nas carruagens para zarpar para as terras aliadas, Blomma Falt no caso, meu irmão e a esposa se perderam... a carruagem não poderia ir sem os salvar. 

     Um misto de ódio e tristeza dominou o pequeno, mas no final, só restou a indiferença. Tudo que tinha para chorar já havia chorado mesmo.

   -Dawon estava ferida com um rasgo horrendo e profundo percorrendo a cintura até o calcanhar direito, percorrendo TODA a perna direta e mancava muito. Ela caiu faltando pouco para a carruagem, numa tentativa de salvar a amada e sim eles se amavam. Em um ato de bravura, coragem e paixão bradou para alguém ajudasse sua esposa... o sortudo fui eu que vi meu irmão ser torrado vivo.

     TaeTae sentia tanto, tanto... sabia como era perder um irmão. Mas vê-lo morrer em sua frente? Deve ser indescritível.

    -Dawon foi salva, meus pais se zangaram com a mesma dizendo que  a culpa era dela por atrasar seu precioso primogênito. Os Blomarianos defendiam á princesa, lógico. Entenda que na minha terra o altruísmo mal existe, o povo é egoísta e cego com esse negócio de liberdade.

    -Entendo sua dor, Yoongi hyung... mas por que me contas isto?.    -Tinha medo de soar rude, porém a curiosidade não vacilava.

   -Porque essa pequena rixa entre Blomarianos e Herdesians  está se tornando guerra aos poucos. Não importa com qual de nós você fique...

   -Talvez uma guerra comece e meu povo morra.  

    -Que bom que entendeu, Vossa Grandeza.

     Oh, como os três estavam fodidos.



Continha...

GENTE ME PERDOA. ASSIM EU POSTO ESSA FIC NO SPIRIT TAMBÉM E.. *respira* assim ó eu já tava indo postar o 5 quando percebi que não tinha postado o 4 aqui *risos e aplausos pra burra*

Desculpa mesmo então segurem essa att dupla, o cap 5 vai ser lançado imediatamente FOI MAL MESMO NÃO DESISTE DE MIM

   



    

Happily Ever After | Taeyoonseok!auWo Geschichten leben. Entdecke jetzt