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PARTE UM
PARK JIMIN

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- Desculpa, desculpa... - Jimin soluçava, passando as mãos nos cabelos recém coloridos freneticamente.

Ele não devia ter deixado seus fios, antes negros, com aquele nojento tom rosa bebê. Pelo menos foi isso que escutara de Jungkook, quando se encontraram naquele ensolarado sábado. Dois anos de namoro e tudo o que o garoto fazia era decepcionar seu namorado. Ganhou peso e foi criticado. Emagreceu e foi criticado. Tentou aulas de dança e foi criticado. Jeon Jungkook nunca se satisfazia.

- Agora que está feito, não há o que reclamar, certo? - o mais novo murmurava sem olhar para Jimin. - Ainda bem que te amo de qualquer jeito.

A frase soara rude. Mas Jimin gostava de acreditar que era o jeito do outro demonstrar seus sentimentos. Ainda assim, ficara magoado. Levantou-se dizendo que estava com muita dor de cabeça, inventara uma enxaqueca que nunca teve na vida e falou que voltaria para casa. Esperava que Jungkook percebesse o que tinha falado, pedisse desculpas e o enchesse de beijos, mas ouviu um simples "okay" seguido de um leve beijo no rosto.

Nenhum "eu te amo". Ao menos um "melhoras".

Mas para Jimin estava tudo bem. Se Jungkook não estivesse insatisfeito, ele não teria motivos para estar.

No elevador, o garoto ficara se olhando no espelho que existia na parede ao fundo. Não estava tão ruim, estava? Combinava com sua pele levemente morena, com suas roupas quase sempre azuis, com o seu olhar assustado. Olhar que surgiu desde que se apaixonara por Jungkook, e que virou uma característica de seu rosto. O desespero e preocupação só não era evidente em um momento do dia. Quando ele assistia o pôr-do-sol. Mas não era porque as cores do céu o acalmavam, e sim porque seu rosto era tomado pelas lágrimas.

"Chore, mas chore como homem."

Ele lembrava de seu pai repetindo isso, enquanto acolhia o indefeso filho nos braços, sofrendo com sua primeira decepção amorosa. Jimin não levava o conselho como homofóbico. Seu pai teve sim uma criação machista, mas nunca disse nada ofensivo ao filho. Aquela frase era dita até a própria esposa. "Chore como homem". Era não chorar por quem não merecesse suas lágrimas. Jimin chorara por um bonitão duas turmas mais velho que falou que não sairia com um gay afeminado. Só porque o garoto dançava na época. Agora, todas as tardes, Jimin chorava pelo amor da sua vida. Isso não era problema. Ele chorava como o forte menino que o pai criara.

Ele pensava assim.

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O celular marcava 17:46 quando Jimin descia as escadas de madeira para a Praia de Mangsang. Estava em um lado mais vazio. Algumas pessoas estavam sentadas na areia, lendo grossos livros. O sol ainda não baixara, mas a brisa vinda do mar estava gelada. O garoto fechou o zíper de seu moletom e cobriu o rosto com as mãos. Tentava esquecer do mundo. Das construções atrás dele que tapavam o pôr-do-sol. Da mãe, que deveria estar ligando para o celular que deixara no silencioso. Do namorado. O maldito e adorável namorado que parecia feito para Jimin. Mas era tão cruel.

Park se perguntava por quê, como e o que raios tinha na cabeça quando se envolveu com o mais novo, que agora não conseguia largar.

- Eu te amo tanto, Jeon...

Entre um rodopio e outro, privando seus calçados da água fria e salgada, pouco a pouco o mundo sumia entorno do pequeno. Como se estivesse sozinho e abandonado em uma ampla sala ventilada, ele cantava baixinho. Estendeu seus braços, deixando o capuz do moletom escorregar dos cabelos rosados e sentindo o vento gelado anestesiando seu rosto. As lágrimas que caiam sem ele perceber, gelavam mais a cada giro. A mesma frieza que Jimin sentia todas as manhãs quando mandava um bom dia ao namorado, reproduzida diariamente à beira-mar.

Sweet Tears | knj+pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora