CAPÍTULO 36

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Voltei apressada pra casa, tinha enrolado muito com a vó do Fernando e todas aqueles segredos. Eu ainda não acreditava que tudo aquilo, aquela bagunça maravilhosa na minha vida, se dava por causa de uma conversa monótona entre família. Imaginei se os pais do Fernando também não sabiam dessas coisas, pelo modo que me trataram cheios de risinhos as escondidas pensei que sim. Eu não era a única a ter segredos.

Nunca entendi o motivo do Fernando aparecer praticamente do nada. Foram tantos anos. Eu acredito no amor, mas não em histórias de amor. Aquele romance do homem nunca esquecer a mulher amada, ou da mulher nunca esquecer seu primeiro amor. Tudo coisa de filme. Sentimentos inventados para curar algum tipo de vazio. Eu gostava do Fernando, droga, acho que até amava ele. Mas isso só aconteceu depois que eu vivi tudo de novo, depois que eu me lembrei, que passei momentos com ele. O sentimento só voltou depois de tudo isso. A gente não esquece, mesmo achando que sim aquilo fica guardado em algum lugar dentro da gente.

Só que eu só me lembrei depois que ele apareceu. Eu não fui atrás. Eu não procurei. Se tudo continuasse como estava eu provavelmente seguiria em frente porque é assim que acontece nos romances da vida. A gente tenta esquecer e seguir nosso caminho, porque não adianta nada reviver um amor que não está presente. Fisicamente falando. Se pelo menos não tivéssemos perdido contato seria um bom motivo pra ele aparecer por aqui, ainda estaríamos nos falando, não seriamos completos desconhecidos que não se viam a quase dez anos.

Mas pensando bem, isso realmente aconteceu. Não perdemos o contato. Pelo menos o Fernando não perdeu. É por isso que ele ainda me olhava do mesmo jeito, por isso ele tinha tanta certeza, porque ele ainda conhecia a Mel. Eu ainda estava presente na vida dele sem nem mesmo saber.

Tudo fazia sentido agora. E eu não podia estar mais feliz! Aquela desculpa de cuidar da vó que ele deu assim que me viu não enganou ninguém, os pais dele sabiam muito bem que eu ajudava ela, não teria motivos fazer o Fernando vir aqui só pra cuidar da dona Penha. Quando encontrei ele na rua eu sabia disso e era por isso que fiquei tão nervosa. Claro que ver ele tão perto depois de tanto tempo também ajudou um pouco.

Estava chegando em casa quando encontrei meu irmão sentado na escada, junto com seu amigo Felipe.

– O que estão fazendo? – Gritei, chegando mais perto.

– Até que enfim em, você demorou! – Pedro bufou.

– Como assim demorei? Ainda faltam duas horas. – Meu corpo estava muito quente, o calor naquela cidade era insuportável. A vó do Fernando nem mora muito longe, apenas cinco quadras e parece que tomei um banho de suor.

– Mas o pessoal já tá na rua, queremos conseguir um lugar legal pra ver os cavalos. Se demorar muito não vamos conseguir enxergar nada. – Meu irmão chegou mais perto de mim, seu rosto quase encostou em meu braço. – Eca! Você tá fedendo.

Revirei os olhos e tentei não rir. É claro que eu estava, quase corri pra chegar em casa porque não aguentava mais o mormaço.

– Anda logo, Mel. Vamos nos atrasar. – Pedro segurou minha mão, que por sinal estava um pouco molhada, pra tentar me levar pra dentro. – Ugh, você precisa de um banho.

Achei engraçado sua cara de nojo. Tentei encostar minhas mãos em seu rosto só pra irritá–lo, mas ele correu tão rápido que já estava do outro lado da rua.

– Ei! Se fizer isso na cavalgada vai se machucar. – Avisei, aborrecida.

– Vai tomar um banho!

Olhei para o Felipe que ainda continuava sentado na escada, apenas observando nossa discussão.

– Tente não ter irmãos. – Ele sorriu, acanhado.

O jogo da verdade [COMPLETO]Where stories live. Discover now