CAPÍTULO 16

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Quando cheguei na porta da minha sala, nem minhas amigas, nem o Fernando estavam lá. Não tinha escutado o sinal tocar enquanto discutia com o Matheus. O que era bem estranho já que o sinal era bem alto e só provava o quanto eu estava brava e sem cabeça pra nada naquele momento.

Cheguei na sala já ouvindo asneiras da professora de historia, perguntando o que eu tinha para fazer no pátio que era mais importante que a aula dela. Só me desculpei pelo atraso e segui cabisbaixa para minha carteira de sempre, morrendo de vergonha de todos os olhares pairando sobre mim e das conversinhas que se seguiam. Eu adoro historia, mas aquela professora conseguia fazer a melhor das matérias ficar chata.

E eu não era a única que pensava isso.

Adriana, que sentava atrás de mim, já tratou de me cutucar e entregar um bilhetinho. Fabiana estava sentada na carteira ao meu lado já toda curiosa para saber também do que se tratava.

Li o bilhete que dizia "Que amigo gato é esse?" e olhei surpresa para Dri. Ela apontou com a cabeça para entregar o bilhete para a Fabi, que já estava quase em cima da minha mesa.

Arranquei um pedaço da última folha do meu caderno e escrevi "Tá falando do Fernando?". Entreguei pra ela, que logo revirou os olhos. Ela sempre faz isso quando falo algo idiota.

"Não, to falando do meu pai. É claro que é dele! Acorda Mel, você tá com um baita tesouro nas mãos, sai do mundo da lua."

Li rápido o que ela escreveu e sem a professora ver, entreguei o outro por de baixo da mesa.

"Que mané tesouro. Ele é meu amigo. AMIGO!"

"Você tem um amigo que parece um tesouro então. Tá a fim dele?"

Li e tudo o que escrevi foi um simples, Não.

"Então não se importaria de dividir comigo?"

Aquilo me pegou de surpresa. Eu já imaginava que a Adriana não ia perder tempo com o Fernando, que ia logo pra cima dele, mas não pensei que ela seria tão... intrusa assim. Quer dizer, eu não to com ciúmes. Eu só acho que ela deveria valorizar mais a minha amizade com ele e não ficar em cima assim.

Demorei um pouco para escrever. Fiquei olhando o papel por alguns momentos até que escrevi "Tanto faz", mas não vi a professora em cima de mim. Acho que estava absorvida demais nos pensamentos para notar qualquer coisa, mas não estava tão doida para deixar ela pegar o papel com toda nossa conversa. Então fui logo tratando de amassar e mastigar ele.

Não tenho ideia porque fiz isso.

Mas pelo visto, a professora tinha uma ideia muito boa sobre isso, pois logo me mandou para diretoria.

***

Sai da diretoria já na hora do recreio. Fiquei esperando sentada por muito tempo, pois tinha uns 3 meninos na minha frente. Um estava com o nariz sangrando, o outro olhava feio para ele e um de óculos que parecia um nerd de carteirinha não fazia ideia do porque estava ali.

Tudo o que consegui ouvir da diretora foi "O que tinha no papel?", "Você não é assim", "Você é uma aluna exemplar", "Que isso não se repita mais", "Espero não ter que chamar seu pai da próxima vez". A última frase me fez prestar atenção nela e concordar freneticamente com tudo o que ela estava falando. Tive um bom empenho, pois ela sorriu logo depois que eu garanti que isso não ia se repetir.

Estava indo para o refeitório quando vi duas garotas eufóricas vindo atrás de mim.

– E então? Você levou alguma suspensão? – Fabiana ficou bem sentida com o que ocorreu. Seus olhos estavam brilhando de preocupação.

– Que mané suspensão Fabi. A Mel só fez o que era certo e não deixou a professora ver. – mas minha amiga parou de falar por um momento e, meio duvidosa, perguntou – você levou?

– Não. – Falei, meio sorrindo.

Ouvi o suspiro das duas.

– Viu. Eu não disse. – Adriana bateu de leve no braço da prima e fez uma cara de vitoriosa para mim, que logo se apagou quando viu meu semblante. – Ai amiga, me desculpa. Eu não sabia que você ia ficar daquele jeito.

– Que jeito?

– Pensativa e duvidosa. – Ela me olhou, desconfiada.

– Eu não estava duvidosa, só estava pensando no que escrever. – Então me lembrei de uma coisa. – O que vocês e o Fernando conversaram quando eu estava falando com o Matheus?

– Ah nada demais, perguntamos de onde ele conhece você. Você nunca me disse que estudava em casa e morava em um sítio.

– Ah é, pois é. Eu morei, mas já faz bastante tempo. Os pais do Fer são amigos dos meus. A nossa família se entende, digamos assim.

– Poxa, que legal Mel! Precisamos marcar aquela festa do pijama logo. Acabei de ver que não conheço bem minha melhor amiga! – Ela falou, fingindo estar ofendida.

– Vocês nunca me perguntaram esse tipo de coisa, então...

– Então tá combinado! Festa do pijama amanhã.

– Mas amanhã tem aula! – Me apressei em dizer.

– E dai? Desde quando isso é motivo pra adiar uma RDA?

– RDA? Que palavreado é esse que você tá usando?

– Inventei depois que assisti o filme "As branquelas", se elas podem ter um ADP (Ataque de pelancas), nós podemos ter o nosso RDA.

– Que seria...?

– Reunião de amigas! – Ela disse aquilo em voz alta, levantando os braços super animada.

– E será que vamos conseguir acordar cedo? – Eu já estava muito encrencada. To tentando resolver as coisas, mas não preciso de mais encrenca.

– É claro que vamos, é pra isso que existe despertador no celular hoje em dia. Os jovens e crianças não estão mais dormindo cedo. E se acalma, Mel. Eu sou a amiga que protege sua vida e não bagunça ela. – Eu já estava indo falar que ela não protege minha vida, mas me calei lembrando de alguns momentos que ela realmente me protegeu. – Mas vamos falar disso outra hora. Estávamos falando do Fernando. Aonde paramos? Ah sim! Você, minha querida amiga, precisava mesmo demorar séculos para responder meu recado no papel? Era só dizer sim ou não.

– Eu já te expliquei que...

– Já saquei que você gosta dele. – ela respondeu, sem me deixar terminar – Relaxa, que lance de amiga eu não me meto!

– Eu não gosto dele. – Balancei a cabeça em negação, tentando fazer ela entender – E não temos um lance. Somos... só... amigos.

– Ham... tá... bem... então. – Ela disse, me imitando pausadamente. Dri parou de me olhar e estava observando alguém atrás de mim.

Virei para ver quem era e Fernando estava vindo em nossa direção.

Fiquei olhando para ele e só consegui ouvir a risada animada da Fabiana.

– O que foi?

– Nada. Só estava conversando aqui com minha prima. – Adriana olhou para ele de novo. – Vamos ver então.

Ela falou aquilo super pensativa, como se estivesse planejando algo.

– Ver o que?

– Vamos ver quão amigos vocês são. – Ela falou aquilo sorrindo de orelha a orelha.

Sabia que ela planejava alguma coisa.

E eu não estava gostando nada disso.

O jogo da verdade [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora