CAPÍTULO 5

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Quando eu vi, o Matheus já estava pulando e se sacudindo no meio do pátio, para tirar minha amiga, Adriana, em cima dele. Sim, ela estava definitivamente em cima dele. Não sei como, mas ela conseguiu agarrar ele por trás e começou a puxar seus cabelos de um jeito desesperado, com pura fúria. Ela estava indignada e gritava coisas como "Eu não acredito que você fez isso com ela!", "Você é um idiota!", "Você tá ferrado Matheus!" entre outras coisas que prefiro não me lembrar.

Todo mundo da escola sabe que minha amiga é uma pessoa de nervos fracos, ela se estressa muito fácil com as coisas. Não aguenta ver algo errado que já parte para cima. Uma vez, duas meninas estavam brigando no colégio e ninguém conseguiu segurar elas, nem mesmo o porteiro ou os professores. Quando chegavam perto, elas gritavam e chutavam quem quer que aparecesse na frente. Estavam bem perigosas puxando o cabelo uma da outra e rolando pelo chão. A única que conseguiu separar as duas foi a Adriana que já não aguentava mais ver aquela bagunça.

Estávamos eu e a Fabi olhando de longe e sussurrando quem é que ganharia a luta primeiro, quando a Dri, do nosso lado, bufou pesadamente e seguiu em direção ao tumulto, se colocando entre as duas e puxando o braço de uma das meninas para fazer sair de perto. A outra que ela não estava segurando já estava indo em direção da Dri, quando ela soltou a menina e segurou a camisa da que estava querendo briga com ela e a jogou no chão, passando os pés na perna dela. A menina que a Dri puxou de primeira, ficou com tanto medo que nem se mexeu mais, só continuou em pé, olhando a colega caída no chão. No mesmo instante os professores já puxaram elas e a diretora levou a Adriana para sua sala. Não aconteceu nada com ela, só um aviso para não se meter mais nessas brigas porque podia ser perigoso e ela acabaria se machucando.

Como prometido, ela não se meteu mais, mas ficou conhecida como a justiceira da escola, ou quase isso. Só fui saber depois, pela Fabiana, que a Dri sempre praticou lutas como, Judô (que era mais para se defender), Karatê e Boxe. Esse último ela frequentou só alguns meses e parou. Ela sempre gostou muito de se mover e aquilo a acalmava bastante. Minha amiga era uma lutadora e eu nem tinha me dado conta até aquele momento.

Ela nunca agiu assim comigo. Acho que é por isso que ela é minha melhor amiga. Quer dizer, ela nunca se estressou ou me deu uma bronca para me fazer ficar quieta, muito pelo contrário, ela sempre foi um amor de pessoa e me defendia de todo mundo que pegava no meu pé. Era como uma mãe ou uma irmã mais velha para mim, desde o episodio do batom. Teve uma época que toda a escola ficou um pouco "fria" com ela, eles a cumprimentavam claro, elogiavam, chegavam até a perguntar coisas bestas, mas sempre ficavam com um pé atrás, com medo, achavam que a qualquer momento ela poderia estourar e bater na primeira pessoa que encontrasse pela frente.

Mas ela não é assim. As pessoas é que não tem muita paciência. É por isso que eu e a Fabi somos as únicas amigas dela, eu por ser calma e não ter muita voz e a Fabi, bom, a Fabi por ser sua prima.

Então lá estava a amiga que me defendeu no primeiro dia de aula (e que depois daquele momento passou a usar só batom vermelho), tentando puxar os cabelos do meu quase ex–namorado. Vi o Matheus tentando passar seus braços pela costa dela e tirá–la de cima dele, mas o rosto dela estava muito perto de seu braço e sem querer, ele deu uma cotovelada muito forte em seu nariz. Minha amiga soltou um grito e se desequilibrou em cima dele, caindo para trás e quase jogando ele para o chão. Ela caiu de costas e começou a se contorcer de dor, amaldiçoando o Matheus. Só posso dizer que a partir desse momento tudo aconteceu muito rápido, a diretora logo veio correndo na direção da Adriana e pediu para um dos alunos chamar a ambulância.

Como eu disse minha amiga é muito esquentadinha, ela não fez isso por mal, só não suportou ver meu semblante triste e teve que ajudar de algum jeito. É claro que do jeito dela.

Eu e a Fabi já estávamos ao lado dela, segurando sua mão e dizendo que nem machucou muito e que só estava mesmo sangrando devido a força que ele bateu. Ah, e tentamos ressaltar diversas vezes que aquilo foi sem querer. O coitado do Matheus não fez por mal e ele já estava pedindo desculpas e depois xingando ela porque ela não deveria ter feito aquilo e chamando ela de louca e pedindo desculpas de novo, tudo isso falando desesperadamente e sem pausas.

A ambulância chegou e fomos para o hospital, só eu, a Fabi e a diretora. O resto da turma continuou com suas aulas normais (lógico), mas fiquei pensando em como o Matheus estaria se sentindo, coitado, ele nunca foi do tipo agressivo e poxa, foi sem querer, mas ninguém estava vendo isso. Depois que a Adriana caiu, as pessoas só conseguiam olhar assustadas para o sangue que escorria do nariz dela e começaram a olhar feio para o Matheus. Não sei se foi porque a garota mais linda e brava da escola estava machucada e todos temiam por isso, ou se foi pela surpresa que tiveram com a quase declaração dele para a Rebeca e não para mim. Tanto faz, ele não estava bem dos dois jeitos.

– O médico disse que vou ter que usar essa pano no meu nariz por quase um mês, que horror!

Minha amiga é mesmo uma figura, ao invés dela ficar triste por causa do seu nariz quebrado, ela fica triste por causa do cuidado que terá que ter com seu nariz. Naquele momento, ela parecia uma criança chorando e eu conseguia ver a verdadeira Adriana naquela cama de hospital.

– Mas é para o seu bem Adrianinha. – A mãe da minha amiga estava toda chorosa.

– Mãããe, já disse para não me chamar de Adrianinha perto dos outros. – Vi ela virando as costas e colocando as mãos no nariz para esconder o inchado.

Poxa, a Adriana sempre foi cuidadosa, linda, uma mulher. Sempre se preocupou com sua aparência e é claro que ela deve estar triste, não é fácil para uma pessoa que sempre se sentiu bonita, se sentir feia de uma hora para outra.

– Melissa, você vai me dar um mês de servidão total! – Ela apontou suas unhas muito bem feitas para mim e fez beicinho. Eu ri.

– Uai! E por que eu tenho culpa nisso? Foi você quem pulou que nem o tigrão para cima dele. – Disse, colocando as mãos na cintura, ainda rindo.

Não sei por que continuo com essa mania caipira de falar uai para tudo, tento tirar esses detalhezinhos de mim, mas eles não saem e deixam pistas para o povo daqui de quem eu realmente era. Quer dizer, estou aqui a quase sete anos e até agora não vi ninguém dessa cidade falar assim.

– Fiz isso por você! – Ela disse, jogando seu travesseiro na minha direção.

– Tudo bem, tudo bem. Me desculpa! – Continuei rindo e fiz um sinal de rendição com a mão – Você venceu, farei seus trabalhos escolares como agradecimento pelo sacrifício do seu nariz.

– Não tem graça! – Mas ela começou a rir – Outra coisa, temos que adiar o trabalho. Talvez possamos separar nossas partes agora, já que vocês estão com os materiais e fazemos isso em nossa casa. Perdemos muito tempo aqui no hospital e não vai adiantar irmos para a biblioteca da escola.

– Tudo bem! Combinamos melhor isso na escola, agora você precisa descansar.

A diretora veio em nossa direção.

– Preciso levar você para casa, meninas. Não vai fazer sentido você voltarem para a escola agora. – Ela disse isso já nos puxando para fora do quarto.

– Eu te ligo! – Fabi gritou.

– Acho bom. – Adriana emendou, já virando as costas. Imaginei que ela queria descansar.

Cheguei em casa e logo vi que tinha algo errado.

Estava muito quieto.

Quieto demais.

Liguei a TV para disfarçar o silêncio. Não estava acostumada com a casa assim. Ainda mais com o meu irmão e suas gritarias e toda aquela chatice de...

Ai meu Deus.

Meuirmão!idRW

O jogo da verdade [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora