CAPÍTULO 29

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Depois de ouvir muita bronca da treinadora, falando que eu devia ter responsabilidades e saber o que quero (como se eu já não soubesse disso muito bem), sai mais cedo e joguei água fria no rosto para tirar da minha cabeça o sonho que custava me largar e tentei ir para casa. Tentei.

Mal sai da escola e a Rebeca se colocou na minha frente, com uma cara que parecia querer matar alguém.

– O que você quer com o Matheus?

Os braços dela estavam cruzados sobre o peito que parecia subir e descer lento e pesadamente. A boca estava em uma linha reta e ela parecia morder as bochechas para se controlar.

– Não quero nada com ele. – Falei, tentando não parecer preocupada com seu olhar assassino. – Tivemos nossa última conversa para acabar de vez com as coisas.

Observei sua ira, mas principalmente o seu jeito. Ela não era feia, sua pele negra se destacava em toda a escola, tinha um corpo de uma deusa. Claro que o Matheus se apaixonaria por ela, qualquer um que olhasse mais de duas vezes consideraria ela a mais bonita da escola, tirando a Adriana que tinha o cabelo cor de fogo mais intenso que já vi. O cabelo da Rebeca era preto, todo cacheado, volumoso e bonito. Era até estranho o cabelo ser mais vivo do que a própria dona. Seu olhar, mesmo com certa raiva, ainda parecia vazio.

– Mentira! – Ela falou tão alto que cheguei a pular de susto. – Eu ouvi vocês conversando. Disseram que podiam voltar a ser amigos. Você é muito trouxa, não é Melissa? Depois de tudo o que ele fez, te traiu na frente de toda a escola COMIGO, ele prefere a mim do que você! Então para de correr atrás dele e fingir que nada aconteceu.

– Eu não to correndo atrás de ninguém! Pra sua informação quem veio foi ele. – Aquelas palavras pareceram mais pesadas que qualquer soco que ela viria me dar. Notei seu corpo se encolher, mas logo se recompôs. – E não falamos que íamos voltar. Eu disse que precisava de tempo, precisava ficar sozinha e não vamos voltar a ser namorados, nunca fomos, você mais do que ninguém sabe disso. No máximo, depois de um bom tempo, podemos voltar a ser colegas sem que eu o olhe com raiva.

– E por que das risadinhas? – Rebeca me olhava com mais raiva que antes.

– Não posso mais rir?

– Não! Você está proibida de falar com ele, ouviu bem? – E apontou o dedo na minha cara. NA MINHA CARA! Aquela menina estava insuportável.

– Eu não quero falar com ele! E não é porque você está me proibindo, aliás, agora sinto mais vontade de falar só porque você proibiu. Deveria cuidar mais da sua vida, Rebeca. Para de ser possessiva e ciumenta.

Minha intenção era de não falar com ele por um bom tempo, ela deveria ter notado isso, não ficar com essa crise de ciúmes.

– Eu estou tentando cuidar. Por isso estou avisando, não chega perto dele.

Aquilo me pegou desprevenida. Ela estava tentando cuidar da sua vida. Ou seja, do Matheus. Matheus é a vida dela? Ah meu Deus!

Essa menina precisa de um pouco de amor próprio.

Continuei encarando ela com raiva, minha vontade era de agarrar seus cabelos e puxar até o chão do asfalto, mas só fiquei com vontade mesmo. Se tem uma coisa que aprendi nessa vida, é que não vale a pena brigar por homem. É por isso que apertei minhas mãos com força. Não valia a pena. Repetia pra mim mesma mentalmente. Não valia a pena.

Suspirei, me recompondo, e joguei um sorriso cheio de deboche.

O melhor jeito de por fim a uma perturbação é sorrindo. Isso deixa qualquer um desnorteado, até mesmo o agressor.

O jogo da verdade [COMPLETO]Where stories live. Discover now