Capítulo 31 - Território

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Ace

Eu não queria faltar a escola para sair com o meu pai hoje. Eu queria continuar dormindo com Matt durante toda a manhã, mas recebi uma mensagem de voz que dizia "fique pronto em meia hora".
Eu também queria ligar para Lewis e dizer que ele faz parte de mim. Eu queria ter uma decisão.

-Encontrei o pai do Zack um dia desses...-Diz o meu pai, dessa vez ele escolheu uma cafeteria num bairro de classe alta, é tudo tão bonito aqui, vidro e madeira mas ele não tira os olhos do seu iPad.-Ele me disse que o matriculou na sua escola...
Assinto.
-Se houver... Algum problema eu posso te mudar de escola, ou... Você pode ter aulas em casa....
-Pai.-Digo, colocando a minha xícara de cappuccino de volta no pires.-Eu nem o vejo durante o dia.
Não responde. Só se importa com os seus emails no momento.
-O desgraçado ficou rico mesmo...-Volta a dizer, supostamente se referindo ao pai de Zack.-Não tanto quanto eu, é claro.-Meu pai então começa a rir. Seu senso de humor é tão estranho que me faz querer rir também, do quanto ele é idiota.
Mais alguns minutos no seu iPad, e então diz:
-Nós vamos embora na semana que vem.
-Não!-tento permanecer falando baixo.-Pai! Por favor!
-Acedric, sua mãe está incapaz, e o que vão pensar de mim?!-Diz, sarcástico.-Tão rico, e nem contrata uma babá para o seu filho?!
-Não pode esperar até o final do ano?!
-Meu filho, veja bem. Você é muito inteligente, eu sei disso.-Interrompe para reclamar com o garçom por demorar de trazer o seu adoçante.-E digamos que você terá que assumir a empresa daqui a algumas décadas. Aquela escola não vai te ensinar nada além de usar esteróides.
-Pai! Ainda vai demorar muito!
-Você pode vir visitar a sua mãe a cada seis meses.-Volta-se para o seu iPad.
Não vale a pena discutir com o meu pai. Por que ele só aparece quando está tudo bem?! Seria terrível para mim vir aqui apenas duas vezes num ano, mas, quais são as chances que uma mulher bêbada tem contra um empresário milionário num tribunal?
Peço para ir pra casa quando percebo que já estou triste por de mais. Quero, pelo menos, fingir que tudo está bem por hoje.

Matt

Como fui idiota. Como se já não bastasse antes, acabei fazendo outra merda hoje. Dessa vez, eu não sei se Ace será bom o suficiente para me perdoar.
A noite passada, não podia terminar melhor. Nós não transamos, e eu não insisti, é claro, podia acabar estragando tudo de novo. Mas dormimos juntos, e é uma das melhores sensações que se pode ter.
A minha mãe reclamou comigo quando cheguei em casa, como sempre, mas não me importei. Tenho coisa mais importante para pensar agora, em qual será a reação de Ace ao saber o que fiz.
Mas afinal, ele me ama? Ele sabe o que eu sinto? Ele tem idéia do que passo só de lembrar do nome dele? Será que ele tem noção do frio na barriga que sinto quando estamos nos pegando? Que ele está em todos os meus sonhos? Que em meus pensamentos, não cabe mais nada além dele? E que sinto raiva de mim mesmo quando lembro que um dia cheguei a machucá-lo tanto fisicamente quanto emocionalmente? Ou vai me julgar, como todos fazem sempre?!

O meu dia foi, talvez o pior do ano, tirando o fato de ter acordado com Ace ao meu lado. Não havia nada de interessante na escola, eu estava tão distante de todos. Contei os segundos para terminar o dia, e quando terminou, dirigi direto para a casa dele, quando o céu começava a escurecer. Bem, ele não estava lá, mas Lewis estava. E você já deve imaginar o que aconteceu.
-O que você faz aqui?!-Perguntei, descendo do carro. Eu estava claramente irritado, talvez devido ao meu dia, ou por ter imaginado o que poderia ter rolado entre ele e Ace dias atrás.
-O mesmo que você... Eu acho.-Disse, como se nada tivesse acontecendo. Continuou ali na porta, mesmo sabendo que Ace não estava. Talvez ele quisesse me irritar mesmo, só para que eu quebrasse a cara dele e Ace voltasse a brigar comigo.-A diferença é que você não deveria estar aqui.
Eu tentava colocar na minha cabeça que eu tinha que me controlar, para o meu próprio bem... E para o dele, por mais que eu não o queira. Eu já estava até de punhos cerrados.
-Ontem a noite eu deveria, sim... hoje pela manhã também...-Sorrio, só para não ter que arrancar essa porta e quebrar na cabeça dele. Minha provocação não era suficiente para fazê-lo sentir raiva de mim e pelo menos tentar me dar um soco na cara, só para que eu tivesse uma desculpa para espancar ele.-Ou acha que eu deixaria o Ace sozinho?
-E daí?! Eu sei que não aconteceu nada aqui. Você é muito idiota pra isso.-Ele continuava provocando. Eu me aproximava o mais lentamente possível, mas sei que ele nem devia estar percebendo por estar sem o óculos, nos últimos dias o observei o suficiente para descobrir que ele não enxerga quase nada sem os mesmos.
-Você não estava aqui para saber...
-Não...-Responde, deixando de fitar a porta para então me ver bem ao seu lado.-Mas sei que ele nunca será seu... Ace pertence a mim.
Para ser sincero, eu nem liguei quando ele tentou me ofender, o que disse por último provocou a minha furia maior. Lewis nem parecia se preocupar com as consequências, só disse o que achava que era verdade. E teve o que merecia.
Bem, eu não ia deixar o cara que quer me afastar da primeira pessoa que acho que amo de verdade sair impune. Eu acertei um soco bem na cara dele.
Ri da minha cara, mesmo parecendo ligeiramente tonto. Senti a chuva começar a cair do céu, tão de repente, entretanto, o frio vem junto a mesma.
-Você gosta disso, filho da puta?!- Continuei lhe socando até que ele desequilibrasse no chão molhado e caísse alí mesmo. Lewis não reagiu em momento algum, talvez faça parte do seu plano de me separar de Ace. Eu sei que deveria resistir, mas quando comecei, já não conseguia mais parar.
Quando ele estava caído ao chão, lhe chutei várias vezes nas costas e na barriga. Sem me importar com quantas costelas posso ter quebrado, ou com o fato de ele estar sangrando pela boca e pelo nariz. Aproveitei para descontar toda a minha raiva acumulada das ultimas semanas.
É uma luta por território, e eu estava vencendo.
Quando eu me praparava para ver se ele aguentava receber um chute no saco, ouço um barulho como vibração, e só então percebo aquele celular que toca no chão próximo a ele, coberto de gotículas de chuva que continuava a cair. Lewis imediatamente tentou alcançá-lo, é claro que com muita dificuldade e provavelmente morrendo de dor. Me esforçei para ler o nome na ligação, e lá estava "Ace". Imediatamente, chutei o seu aparelho para longe, percebi Lewis tentar murmurar um palavrão.
-Você acha que acabou?!-Perguntei, enquanto pisava na sua mão e ouvia um barulho como de ossos quebrando. Ele gritou, pela primeira vez nessa surra, mas não pela última.-Acabou de começar...

Lewis

Usei o pouco de consciência que me restava para tentar rastejar até algum lugar e pedir ajuda depois que o Matt decidiu me deixar vivo. Sem sucesso, acabo permanecendo caído ao chão. Percebo que quase ninguém passa na rua onde Ace mora a essa hora, se não, eu não estaria caído no chão na frente da sua casa enquanto a chuva me molha e o meu sangue escorre.
Não demora muito até que ouço um carro. Ele para um pouco distante, do outro lado da rua. Alguém desce, e no mesmo momento aquele carro sai. Ace uma vez me disse que o motorista do seu pai começa a dirigir mesmo antes dele descer do carro por completo, e que isso o irritava profundamente.
Acho que ele não me vê imediatamente pelo fato de não ter luzes acesas aqui fora.
-Lewis?! Droga!-Ouço os seus passos adiantarem no molhado da chuva, Ace ajoelha-se ao meu lado e tenta me levantar, estou mais mole do quê merda, ele podia simplesmente desistir de mim. Meu corpo dói tanto.-Oque aconteceu?!
O maximo que Ace consegue fazer é colocar a minha cabeça no seu colo. Eu não consigo falar. Só sinto gosto de sangue. Minhas vistas estão mais embaçadas do quê o normal.
-Ace...-Tento dizer, nem sei se ele ouve. Me esforço para segurar a sua mão com a minha que não está quebrada. Só sinto os seus lábios tocarem os meus, e então não vejo mais nada.

O Novo AmigoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt