Capítulo 17 - Viagem, Parte 2

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Matt

Começo a procurar sozinho no meio da noite, aqueles idiotas simplesmente disseram "relaxa, ele aparece logo". Se aproximava da madrugada, nem sinal de Ace.
Parece mais difícil estar sozinho nessa busca, utilizando somente uma lanterna, e chamando o seu nome, cheio de esperanças.
Quando eu por as mãos em Noah, eu juro que ele não ficará vivo pra contar história. Minha prioridade então, no momento, é encontrar Ace.
O caminho parece mais distante a cada passo que dou. Eu queria voltar e forçar aqueles idiotas a virem comigo, eles foram os responsáveis por isso, aliás, se eu não fosse atrás de concluir esse desafio idiota, isso não aconteceria. Acabei falhando no meu desafio mais importante, cuidar de Ace.
Continuo chamando, está prestes a amanhecer, a neblina leve me atrapalha um pouco, porém, a lanterna ainda me é útil, o pouco sol que começa a sugir ainda não é suficiente. De repente, tão de repente, ouço algo, se eu não tivesse parado devido á agua de um provável lago que acabara de molhar o meu tênis nem teria ouvido Ace sussurrar meu nome.
Sigo a sua voz, a neblina parece um pouco mais baixa, para a minha sorte, dou passos curtos, lá está Ace, ele treme devido aquele frio de madrugada, está encostado a uma árvore, ao seu lado, quase dentro do lago, está Noah, sua calça está aberta, infelizmente vejo seu pênis flácido, ele está caído, deitado de barriga pra cima, e provavelmente vomitou muito devido a bebedeira.
Ace me olha, sem expressão, ele está muito mais pálido do que já é, ainda treme.
Sem pensar duas vezes, tiro o meu casaco e o envolvo no mesmo, Ace me abraça imediatamente.
-Por que não fugiu?-Pergunto, ainda o abraçando firme.
-Ele podia morrer engasgado vomitando.-Responde.-Eu não podia deixá-lo morrer, independente do que ele tenha feito.
Ace tem coração. Cheguei a duvidar disso algumas vezes, mas agora tenho certeza.
-E o que aconteceu aqui?-Volto a perguntar quando ele me solta, me referindo a Noah estar com o pau pra fora.
-Ele tentou me violentar.-Ace tenta levantar.-De novo.
É difícil para mim imaginar que isso tinha acontecido mais vezes, deve ter sido no vestiário naquele dia.
Eu o ajudo a andar. Ace tropeça nos próprios pés, suas botas enormes não lhe ajudam, na verdade acho que ele está um pouco tonto.
-Matt...-Diz, tendo um pouco de dificuldade, e então apaga. Assim, tão imediatamente. Ace desmaia, eu o carrego nos braços.
Não é muito difícil voltar, há algumas placas nas árvores que indicam a direção até a área de camping, onde está o meu carro.
Acredito que não há mais ninguém acordado a essa hora. A fogueira já está apagada, alguns dormem no chão, ao lado de garrafas de cerveja, outros nas barracas, já eu, acabo de colocar Ace sentado no banco da frente, ele permanece inconsciente.

Ace

Acordo no carro de Matt, mas me lembro completamente do que aconteceu;
Eu nem sei por que eu estava bebendo, na verdade, nem bebi muito, e já estava ao ponto de cair de costas. Os rapazes conversavam sobre algo, distraídos, Noah chegou lá, logo tomando a garrafa de vodka da minha mão. Ele então bebeu, e me chamou para dar uma volta. Seus olhos estavam vermelhos, ele estava se embolando todo até para falar, é claro que recusei, mas ele me puxou pelo braço, quase caí no caminho, minhas pernas ameaçavam falhar, meu estômago estava frágil, Noah continuava me puxando em direção aquela floresta, e em questão de segundos, perdi de vista o acampamento.
Ele parecia mais perdido do que eu. Quando chegamos ao lugar onde Matt me achou, Noah me empurrou no chão, eu caí, quase batendo a cabeça numa arvore atrás de mim, ele então começou a abrir o seu cinto, como da última vez, novamente ele queria me estuprar. Noah puxa para baixo a minha calça, me dando um soco quando tento reagir, nem doeu muito, ele estava muito bebado para isso. Eu implorei. Ele começou a me agredir verbalmente, até que finalmente cai, mas em cima de mim, eu o empurro para o lado, ele então cai próximo ao lago.
E passei o resto da noite e a madrugada toda evitando que ele se engasgasse com seu vomito, virando-o de lado, eu chorei, tentei gritar, mas ninguém ouviu, até que uma hora, Matt me apareceu.

-Que horas são?-Pergunto.
-Não importa agora.-Ele diz, dirigindo.-Vou te levar para o hospital.
O sol que já brilha forte agride os meus olhos. Matt tem cara de quem não dorme a anos, enquanto está concentrado no volante. Só agora me dou conta de que estou enrolado no seu casaco do time, que a propósito, ficaria enorme em mim.
-Não.-Respondo.-Vamos para casa.
Matt permanece dirigindo. Ele suspira, provavelmente ao perceber que estou bem.
-Me desculpa.-Diz, quebrando o silêncio.
-Você não teve culpa.
-Tive sim.-Ele tenta olhar para mim.-Se eu estivesse lá, aquele idiota não teria te levado.
-Você não advinharia que isso ia acontecer.
-Tomara que ele esteja morto agora!-Percebo que Matt segura firme o volante, claramente furioso por não ter evitado o que aconteceu.-Filho da puta desgraçado!
-Matt...-Digo, mantendo a minha calma.-Eu estou vivo.

Chegamos a minha casa, Matt diz que não poderá ficar hoje, e que volta amanhã, eu então me disperso, sorrindo, e deixo o seu casaco no banco do carro, já que quase esqueço de deixar, Matt espera que eu entre em casa para que finalmente possa ir.

Matt

Chego em casa enquanto todos ainda dormem por ser sábado, eu até prefiro estar aqui do que naquele acampamento, agora que já conclui o que pretendia fazer, só me resta esquecer Daisy por completo, o que nem vai dar trabalho, pois mal lembro dela.
Deito-me na minha cama. Eu não sei o que sou capaz de fazer quando ver Noah de novo, e eu não sei o que seria de mim se perdesse Ace. Eu não sei de nada nesse momento.
Meu casaco tem o seu cheiro doce, isso mexe com a minha cabeça, que tenta achar que o fato de pensar tanto em Ace é uma grande besteira. Não é. Está saíndo dos limites. Isso nunca me aconteceu antes, e pelo que vejo, não posso evitar que aconteça.

O Novo AmigoWhere stories live. Discover now